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Saco de gatos: Dispersão e caos estão por todos os lados nas campanhas eleitorais do Peru

A descrição acima é a que mais se assemelha ao cenário eleitoral peruano, a poucos meses das eleições nacionais previstas para abril de 2021
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

A definição clássica nos diz que um “saco de gatos”  é “o lugar onde há muito ruído ou alvoroço e em que é difícil entender-se e pôr ordem”.  

Pois bem, a descrição acima é a que mais se assemelha ao cenário eleitoral peruano, a poucos meses das eleições nacionais previstas para abril de 2021. 

A dispersão e o caos estão por todas as partes e parece que não haverá ordem nem concerto, salvo que um sopro de sensatez retorne aos diferentes segmentos do que popularmente se conhece como “a classe política”, hoje mais alvoroçada do que nunca. 

A descrição acima é a que mais se assemelha ao cenário eleitoral peruano, a poucos meses das eleições nacionais previstas para abril de 2021

Reprodução: Flickr
As eleições no Peru prometem serem conturbadas e marcadas pela polarização

E é que a Covid-19 se somou uma espécie de febre eleitoral em consequência da qual uns lutam para ficar e outros para entrar, sonhando (quase) todos em desempenhar um papel protagônico no ano do bicentenário. 

Em todo caso, esta praga é bastante democrática e afeta igualmente a pessoas dos mais variados matizes do caleidoscópio diante dos olhos dos peruanos.

Talvez nisso radique a entrada no palco de uma nova proposta: Esvaziar Vizcarra e adiar as eleições parlamentares por dois anos até “que passe a pandemia” e que o país “retorne à normalidade”. Assim, quase como por arte de magia, nos encontraríamos com um novo titular no Poder Executivo e um parlamento eleito por 16 meses, que poderia ficar por 48.

Vejamos como andam as coisas nas diferentes propostas postas à consideração da cidadania: 

Renzo Reggiardo e Fernando Olivera lutam para que seus “partidos”, umas minúsculas enteléquias pontuais, sejam reconhecidos e inscritos pelo foro eleitoral, para aportar suas candidaturas à primeira magistratura.  Renzo Reggiardo / Reprodução: Winkiemedia  Fernando Olivera / Reprodução: Winkimedia

O APRA, que não perdeu sua inscrição por pura sorte e que não conseguiu um só parlamentar nas eleições de janeiro, enfrenta um duplo pleito interno. Por um lado, tem vários “pré-candidatos” para serem ungidos como seu “representante”; mas, por outro, briga para que o registro reconheça a validade de uma de suas diretorias do partido, porque no pleito anterior ficaram duas (quase minúsculas) cabecinhas. O PPC, destro em acomodar-se, optou por se aliar com César Acuña para “soldar” uma “proposta democrática” que some um passado mafioso com um discurso conservador. Ninguém sabe o que finalmente poderia sair daí, porque essa aliança não soma, mas subtrai. É um virtual passaporte para o nada.César Acuña / Reprodução: Winkiemedia

Hernando de Soto -um sábio incompreendido – vai com um partido truncado, ou melhor, uma barriga de aluguel, que antes fez outros serviços igualmente desdenháveis. Ao seu lado, assoma Rafael López Aliaga, um Bolsonaro sem sorte; e Keiko Fujimori que não só não renuncia ao seu passado sinistro, mas sim o afirma com seu pai à sua direita. Hernando de Soto / Reprodução: Winkiemedia

George Forsyth também buscou uma barriga de aluguel à qual, finalmente, optou pudicamente por trocar de nome, para parecer inovador. No caminho, teve que defraudar seus eleitores de La Victoria, abandonar suas tarefas em um terço do percurso originalmente proposto, e deixar em paz os ambulantes, aos quais vinha martirizando em meio à pandemia. 

Ação Popular também merece palmas. Tem “candidatos” renunciantes, como Mesías Guevara e Raúl Diez Canseco; candidatos cortesãos como Alfredo Barrenechea; candidatos com fome, como García Belaunde; e candidatos com ganas, como Yohny Lezcano. Se decidirá por algum, sem romper-se? 

Nesta vertente se somam outros: Julio Guzmán, Máximo San Román, Daniel Urresti, e até Ricardo Belmont. Uns buscam quem os leve; e outros estão dispostos a saltar em qualquer piscina, embora esteja com muito pouca água. 

Na Esquerda, a coisa não marcha melhor. Finalmente ficou outra vez sepultado o mito da unidade. Curiosamente os argumentos que foram expostos para consagrar a divisão, foram altamente tecnocráticos: Uns e outros argumentaram que não era “tecnicamente possível” subscrever alianças e que marchariam separados abrigados uns sob a sigla de outros. No fundo, uma maneira de disfarçar quatro vertentes.

A Frente Ampla – a primeira delas – tem hoje duas cabeças e está à beira da ruptura: Arana e Morales. Vladimir Cerrón, – “Peru Livre”- optou por montar “loja à parte”, mas antes se desvencilhou da “Democracia Direta”, o partido de Alcántara, que abriu, por sua vez, uma nova “frente” com outras alianças. Vladimir Cerrón  / Reprodução: WinkieMedia

Juntos pelo Peru pareceu não sentir aquelas movidas, como se não afetassem seu entorno. Busca, simplesmente, persistir na candidatura de Verónica Mendoza, recordando apenas que obteve por volta de três milhões de votos em 2016. Que o resto venha por arte de prestidigitador.Verónica Mendoza / Reprodução: Winkiemedia

Por fora de todos eles, apareceram mais dois movimentos: uma “Frente Patriótica” cuja representação poderia ser assumida por Walter Aduviri, que renunciou ao governo regional de Puno para proclamar sua vontade presidencialista; e o Autaurismo, que não é de esquerda, mas bem podia cativar alguns eleitores dessa banda, distanciados de suas estruturas partidárias. 

Como se algo faltasse, o senhor Isaac Humala tem declarado “estar disposto” a ser candidato presidencial, se for necessário. 

Haverá algum Pepe nesse “Saco de Gatos”?  Ainda é difícil saber.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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