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Cresce fluxo de indocumentados aos EUA e país prepara novas políticas de repressão

De 2017 a 2023, número de mexicanos encontrados na fronteira anualmente foi de 130 mil para quase 740 mil
Jim Cason
Diálogos do Sul Global
Washington

Tradução:

O número de mexicanos viajando sem documentos que cruzam a fronteira dos Estados Unidos aumentou a níveis não vistos em uma década, segundo cálculos do Migration Policy Institute em Washington.

Os fluxos migratórios mudaram de maneira dramática nos últimos dez anos, com uma porcentagem de migrantes mexicanos cada vez menor ao incrementar-se o volume de migração de centro-americanos, sul-americanos e caribenhos, mas desde 2017 se registra um novo incremento de mexicanos em números absolutos, segundo dados oficiais calculados pelo analista de políticas Ariel G. Ruiz Soto do Migration Policy Institute (MPI).

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O número de mexicanos interceptados por oficiais estadunidenses na fronteira se incrementou de 130.454 “encontros” no ano fiscal concluído em setembro de 2017 a 738.780 no ano fiscal que concluiu em setembro de 2022. O padrão desde então até fevereiro de 2023 sugere que esta tendência vai continuar no ano em curso. 

A atenção dos meios e políticos e funcionários nos Estados Unidos e no México se focaram em migrantes de outros países que transitaram pelo México para chegar aos Estados Unidos. Washington e México têm vários acordos – alguns ainda não publicitados – que permitiram aos Estados Unidos expulsarem para o México até 30 mil solicitantes de asilo provenientes de Venezuela, Haiti, Nicarágua e Cuba a cada mês.  

Segundo o analista Ruiz Soto, o México também aceita migrantes indocumentados de El Salvador, Guatemala e Honduras expulsados dos Estados Unidos. E é claro, o México sempre recebe seus próprios cidadãos.

De 2017 a 2023, número de mexicanos encontrados na fronteira anualmente foi de 130 mil para quase 740 mil

Ignatian Solidarity Network/Flickr
Em meio à chegada das eleições, Biden busca convencer estadunidenses de que indocumentados serão enviados de volta ao México

Os dados sobre cruzamentos não autorizados não são precisos. Sob as políticas vigentes antes da pandemia, o governo estadunidense registrava todo indivíduo interceptado cruzando a fronteira sem documentos. Se os interceptados repetiam suas tentativas, poderiam ser sujeitos a multas e até prisão nos Estados Unidos. 

Mas com o chamado Título 42, que estabeleceu supostas medidas de emergência de saúde pública com a pandemia, os Estados Unidos justificaram a expulsão em massa de solicitantes de asilo e outros migrantes. No entanto, sob essa medida não foram estabelecidas consequências para tentativas repetidas de ingressar nos Estados Unidos e, portanto, Ruiz aponta que a contagem de “encontros” com indocumentados poderia incluir indivíduos que foram “encontrados” em mais de uma ocasião. 

Ainda assim, as estatísticas calculadas pelo MPI continuam registrando um número sem precedentes na última década de mexicanos cruzando a fronteira no ano fiscal de 2022, grande parte da tendência dos anos mais recentes. Os mexicanos são o maior grupo do fluxo migratório aos Estados Unidos.

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O que é mais difícil prognosticar é o que sucederá em maio, quando está programado o fim das medidas sob o Título 42. Enquanto muitos dos que cruzam a fronteira solicitam asilo, outros são indivíduos que buscam melhores perspectivas econômicas ou regressar a famílias que agora residem nos Estados Unidos. 

Diante do Congresso, funcionários estadunidenses reconheceram que estão contemplando retomar medidas para deter famílias que tentam ingressar no país de maneira não autorizada – política que foi abandonada quando Joe Biden chegou à Casa Branca. Os funcionários sublinham que não se tomou uma decisão por ora e que, se forem iniciadas a detenção de famílias, não seria nada parecido ao que fez o governo de Donald Trump.

Não obstante, apenas a discussão de que essas estão entre as medidas que estão sendo contempladas detonou alarmas entre defensores de direitos dos imigrantes e de liberdades civis, que lutaram contra essas medidas de detenção e separação de famílias no tempo de Trump, as quais, por sua vez, foram amplamente condenadas inclusive pelo próprio Biden quando foi candidato. 

As consequências dessas medidas sob Trump foram brutais. O New York Times reportou nesta terça-feira (11) que, além das aproximadamente 5.500 crianças que foram separados à força por oficiais de migração durante o governo anterior, mais centenas, talvez até mil crianças, que nasceram nos Estados Unidos – e as quais por isso automaticamente têm cidadania estadunidense – também foram separadas de suas famílias. 

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“Em muitos casos, as crianças nascidas nos Estados Unidos foram colocadas sob cuidado tutelar por longos períodos, e algumas ainda não foram reunificadas com seus pais, perdidas no sistema quase cinco anos depois de terem sido separadas”, reporta o jornal. Um grupo de tarefa do governo Biden esteve trabalhando para reunificar famílias e até ofereceu compensação para algumas famílias afetadas. 

Mas ao se aproximarem as eleições presidenciais de 2024, o governo de Biden está buscando maneiras de enviar a mensagem de que migrantes sem documentos que tentam cruzar a fronteira serão regressados ao México. O governo de Biden, reporta o podcast “This Morning” do New York Times, continuará buscando o “outsourcing” de seu problema migratório na fronteira do México ao expulsar os que chegam do país vizinho. Por sua vez, o México parece estar disposto a aceitar estas medidas, embora nenhum dos dois governos difundiu os termos de um novo acordo que terá que ser implementado em maio ao concluir o Título 42. 

Para muitos analistas nos Estados Unidos, as mortes em um centro de detenção de migrantes em Ciudad Juárez em março mostraram mais uma consequência dessa política em ambos os lados da fronteira. O Washington Office on Latin America, entre outras organizações, culpou os dois governos pela tragédia, afirmando que “as mortes… mostraram as piores consequências possíveis das atuais políticas de remoção de fronteira dos EUA e políticas mexicanas de fiscalização, ambas focadas em detenção e dissuasão”.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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