Imagine que de um presidente recém eleito, no dia em que toma posse, em seu primeiro discurso, aflorem ares de ditador e grite à cidadania que vai declarar as crianças e adolescentes do país como terroristas; pois isso aconteceu na Guatemala, lugar onde o romance de Miguel Ángel Asturias – O Senhor Presidente – fica a dever ao dia a dia do país onde tudo acontece e as pessoas não estão nem aí, porque chegaram a assimilar o inverossímil com a naturalidade do realismo mágico das terra latino-americanas.
Um Giammattei recém ungido pela cúpula do crime gritou aos quatro ventos que vai “romper o cu” e vai desaparecer com quanta criança e adolescente que lhe cruze o caminho, e a qualquer um que ande querendo acumular, medalhas, palmadinhas nos ombros, aumentos salariais e posteriormente, patadas na bunda; simplesmente porque ele em sua posição classista, racista e de lambe botas decidiu declarar os brotos das periferias como terroristas, quando na Guatemala os bandos não são as crianças e adolescentes do país; as quadrilhas são outra coisa e não estão nas periferias , mas nas casas dos bairros chiques e no governo.
O contexto, o tom em que disse isso é muito claro, tal e como nos tempos da ditadura de Ríos Montt quando também as cúpulas criminosas no governo e as oligarquias decidiram que os povos originários eram “0s Terroristas” a ser vencidos e levaram a cabo o maior genocídio da América Latina. Embora as limpezas sociais na Guatemala tenham existido sempre, que um presidente fanfarrão venha a gritar aos quatro ventos em seu discurso de posse que vai exterminar aqueles que sistematicamente desde seu nascimento são violentados e têm negado os direitos ao desenvolvimento e uma vida integral, já é outra coisa. Porque esse é o significado de suas palavras.
Facebook oficial Alejandro Gimmattei / Reprodução
Um panorama desolador espera os arrabaldes guatemaltecos, porque com as palavras do presidente qualquer um pode ser considerado criminoso
Um panorama desolador espera os arrabaldes guatemaltecos, porque com as palavras do presidente qualquer um pode ser considerado criminoso (atenção, pertencer a um bando não significa ser criminoso, os bandos em si não são ninhos de criminosos, já vimos que as estruturas criminosas estão no exército, na polícia, no governo, nas oligarquias e são formadas em sua maioria por pessoas de terno e gravata) já que no país tudo é visto da perspectiva desse estereótipo. Tal como Otto Pérez Molina com sua famosa frase de “mão dura” este novo fantoche da criminalidade estrutural pretende seguir violentando a infância e a adolescência do país.
Aqui incluímos tatuagens, forma de vestir, cor da pele, estilo de corte de cabelo, linguagem, local da residência, se a pessoa estuda, trabalha, tem profissão ou ofício, gênero, etc.
O acontecido no Lar Seguro Virgen de la Asunción no governo de Jimmy Morales não será nada comparado com a quantidade de meninas e adolescentes que serão violadas e assassinadas por membros do exército, pela polícia e paramilitares que lavarão as mãos dizendo que eram de um bando. A comunidade LGBTI também está exposta a ser violentada por criminosos a partir do governo.
Os criminosos, os terroristas, são aqueles que atentam contra a infância e a adolescência do país. Só por essa palavras Giammattei deve ser visto como o maior criminoso no governo atual e deve ser destituído imediatamente, porque a Guatemala não necessita violência governamental, nem ditadores, necessita de um governo que reconstrua o tecido social e que dê oportunidades de desenvolvimento àqueles que têm sido excluídos milenarmente.
E a sociedade continuará permitindo, fazendo revoluções somente nas redes sociais ou se atreverá a parar com essas quadrilhas de criminosos que tomaram o governo? Até quando?
*Ilka Oliva Corado é Colaboradora de Diálogos do Sul desde o território dos Estados Unidos
**Tradução: Beatriz Cannabrava
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