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ToggleA manchete do El Pais (maio de 2013) é emblemática do repúdio da sociedade argentina ao crimes cometidos pelo regime militar: famílias dos próprios ditadores tinham vergonha do sobrenome que carregavam. Os restos mortais de Jorge Rafael Videla Redondo – mais de 30.000 mortos ou desaparecidas durante sua ‘gestão’, de 1976 a 1981 – estão lá para que ninguém esqueça seus feitos.
Como na Argentina não se vive em “berço esplêndido”, a 22 de novembro de 2010 Videla foi julgado e condenado a prisão perpétua.
Na sexta-feira, 17 de maio de 2013, um carcereiro encontrou Jorge Rafael Videla sentado na privada da cela que ocupava em Marcos Paz, uma cadeia para presos comuns, com sinais de “rigidez ocular” e sem pulso. O ditador morreu horas antes, na solidão de uma madrugada entre as grades, após uma queda que aos seus 87 anos foi fatal.
Videla ficou por uma semana em uma gaveta do necrotério judicial, à espera da autópsia. Quando a Justiça por fim entregou o corpo, a família não soube o que fazer com ele. Não encontrou lugar no panteão militar em Chacarita, o maior cemitério da cidade de Buenos Aires, por medo de manifestações de repúdio. Também não foi bem-vindo em Mercedes, sua cidade natal. Videla acabou enterrado em um cemitério particular no subúrbio de Buenos Aires, sob uma placa de mármore com a inscrição “Família Olmos”, anônimo ao olhar dos curiosos.
A tradição militar diz que os oficiais de alto escalão têm um nicho reservado no panteão de Chacarita. Videla não pôde ir para lá, assim como seus dois cúmplices na Junta que em 24 de março de 1976 derrubou a viúva de Juan Domingo Perón, María Estela Isabelita Martínez.
A poucos metros do ditador, no cemitério Memorial de Pilar, também com o nome mudado, está o ex-chefe da Marinha e criador da ESMA, o maior centro de torturas e prisões ilegais da ditadura, Emilio Massera, falecido em 8 de novembro de 2010 no Hospital Naval. Seu homólogo na Força Aérea, o brigadeiro Orlando Ramón Agosti, morto em outubro de 1997, ocupa outro lote no mesmo cemitério particular. A família de Videla pediu em 2015 permissão ao juiz para cremar seus restos, mas apesar de conseguir o aval nunca realizou o trâmite, como o EL PAÍS pôde confirmar com fontes da Justiça.
Amaro Dornelles
Videla acabou enterrado em um cemitério particular no subúrbio de Buenos Aires, sob uma placa de mármore com a inscrição “Família Olmos”
Videla e Massera não tiveram o final dourado que imaginaram quando lideraram a ditadura militar mais sanguinária da América do Sul, com um saldo de 30.000 mortos e desaparecidos. O regresso à democracia os encontrou em 1984 sentados em um tribunal que os condenou por crimes de lesa humanidade.
Em 1990 foram indultados pelo presidente Carlos Menem, mas voltaram à prisão quando o kirchnerismo reabriu os casos na Justiça. A morte de Videla foi paradigmática. Despejado de Chacarita, a família tentou sepultá-lo no panteão que tem em Mercedes, um povoado de antiga tradição militar onde Agosti também tem laços de sangue. As manifestações contra o enterro arruinaram os planos.
“A morte de Videla e o fato de que a família tentou levá-lo a Mercedes nos pegou de surpresa. O repúdio foi unânime e nos reunimos na porta do cemitério, em uma espécie de guarda para evitar que o enterrassem ali. A família, no final, desistiu, mas não soubemos para aonde iria”, diz Ciro Lalla, historiador e membro da Comissão pela Memória do município.
O repúdio a Massera, por sua vez, foi silencioso, mas suficiente para impedir os planos de sepultá-lo no panteão que o Círculo Naval tem em Chacarita. “Queriam trazê-lo para cá e até me fizeram limpar todo o lugar. Mas depois soubemos que precisaram montar vigilância, porque nessa noite pessoas estiveram rondando, ativistas dos direitos humanos. Por isso não veio, o mandaram a Pilar”, conta um antigo funcionário do panteão que prefere não dar seu nome.
No Brasil os algozes são festejados
No Brasil 2020, a manchete da terça-feira, /5/20 poderia ter sido: “Jair Bolsonaro recebeu ontem o tenente-coronel reformado do Exército, Sebastião Curió, 85, um dos responsáveis pela repressão à Guerrilha do Araguaia dos anos 1970, apogeu da ditadura militar. Só que a Justiça do ‘andar de cima’ sempre dá um jeito de fazer tudo pela metade. E tudo continua como “dantes no quartel do Abrantes”.
A Comissão da Verdade foi até onde pode. Faltou apoio popular, impossível com a dominação – ímpar no Planeta Terra – de um sistema de Comunicação Social mantido e dominado pelo capital Internacional. A mídia nativa está sempre pronta a se vender a preço de ocasião. Uso ‘vadia’ pra fugir da pornografia.
Ora, o ex-oficial do Centro de Informações do Exército (CIE), ex-agente do Serviço Nacional de Informações, SNI, ‘pau-mandado’ do Pentágono, voltou ao Planalto ontem pela manhã, encontro fora da agenda oficial. Só foi incluído às 21h20. Essa ‘flor da farda’ parece que está sendo sondada pro lugar de Ricardo Sales no Ministério do Meio Ambiente. Ocorrido pela manhã, o encontro não constou na agenda oficial do governo de ocupação por toda a segunda. Só foi incluído às 21h20.
Sales, ex-secretário particular, da mesma pasta na ‘gestão’ Geraldo Alckmin, no Tucanistão Paulista, pode ser decapitado a qualquer momento. Basta que o Messias se anime a desviar atenção das investigações sobre sua família e apaniguados. Aos 45 anos, Sales protagonizou versão III Milênio do “Festival de Besteiras que Assola o País”, **FEBEAPÁ. Até inovou, ao enfiar ‘pés por mãos’ em entrevistas em Londres, Berlim, Alemanha, Paris, França, e na matriz Nova York.
Araguaia: Idealistas Imolados
Arquivos liberados pelo exército – revelados em 2009 pelo O Estado de São Paulo – admitem que as Forças Armadas executaram militantes já presos e amarrados. Isso não lembra nada? No total, 67 idealistas foram imolados.
Entre 1980 e 1981, Curió tomou conta do garimpo de Serra Pelada, no Pará. Daí a se eleger deputado federal e prefeito de Curionópolis (PA), que ajudou a fundar, foi mais fácil do que roubar doce de criança.
Fotos do encontro no Palácio do Planalto (ocupado por militares) foram publicadas pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade Furada), líder da oposição(?), que classificou Curió como “homem de honra” e “defensor dos garimpeiros do Brasil”, segundo jornal Zero Hora (RS). No mínimo vai virar herói nacional. Isso é o que dá fazer coisas pela metade, ou seja, não tem completado o projeto da Comissão da Verdade.
Antes do golpe de 1º de abril de 1964, que instaurou uma ditadura sustentada pelas Forças Armadas, ‘subverter a linguagem, incutindo, pela repetição diuturna, novo sentido a palavras como ‘radical’ – até então elogio a quem ia até à raiz (do grego) das coisas, tornando-se imunes a sofistas paisanos e fardados. Com auxílio da sempre afinada Rede Globo, o termo virou sinônimo da ortodoxia de terroristas e vermelhos malvados, devoradores de crianças.
A mídia, hegemônica, pergunta qual seriam as razões de ‘los hermanos’, os argentinos, na contramão da linha ortodoxa dos EUA, (*“Pátria da Riqueza Capitalista”, segundo o economista Márcio Pochmann), estão a resistir tão bem ao epidêmico vírus que provoca a mortal Covid-19. Simples: quem conhece seu passado costuma não repetir erros, ora pois!
Quem vê as valas abertas no solo amazônico – objeto do desejo dos ianques – a ilustrar reportagens da imprensa do mundo, sabe que a farsa de que aqui não passa nada não se sustenta.
No século XX ainda colava esta irritante repetição de jingles e palavras subvertidas pra moldar a compreensão da sociedade. Ainda hoje. Cada vez que um noticiarista (consciente ou inconscientemente) repete ‘ad nauseam’ o nome deste ‘novo vírus’, ou 1 ou 2 sinônimos, ele exerce a ‘missão’ de conscientizar a ‘massa’ do perigo que a ronda.
Em tese. Um mínimo conhecimento de linguística revela as entre linhas: a repetição reforça o ‘Medo pelo Novo’ – ‘foco’ de um sistema cujo ideal é ver famílias (classe média baixa pra cima) amontoadas em casas, apês e barracos, consumindo, ‘by delivery’, cercado de muros, grades elétricas e cães ‘geneticamente alterados’ pra matar. Ah! e bem armados’. Com rifles, pistolas e metrancas ‘made in USA, of course’.
Como diziam os antigos, não há mal que sempre dure, tampouco bem que não se acabe. Ainda bem que alquimistas já chegaram há décadas – como lembra o ‘bruxo’ Jorge Ben Jor. Já passou a hora de acabar com esta herança do alucinado Adolfo Hitler.
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Amaro Augusto Dornelles, colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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