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Djibouti na órbita colonial

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Chifre da ÁfricaRoberto Correa Wilson*

Djibouti foi a única possessão francesa no denominado Chifre da África, apesar da França ter criado um dos maiores impérios coloniais na região que se estendeu para áreas do norte, ocidente e sudeste do continente.

Esta pequena nação de pouco mais de vinte mil quilômetros quadrados, com seu território formado por um altiplano vulcânico e, em alguns lugares, por depressões e lagos, está entre os menos divulgados da África.

A França chegou à região no século XIX, na mesma data em que a Itália e a Inglaterra, suas rivais no saque das riquezas naturais dos povos e na opressão das populações nativas.

 

A história

Assim como a de outros países do chifre  africano, como a Etiópia e a Eritreia, a história antiga de Djibouti está relacionada ao Egito faraônico, sobretudo a partir da II dinastia, quando começaram algumas incursões.

Nessa época os territórios eram relativamente despovoados, havendo pequenos núcleos dispersos. Nos grupos étnicos predominavam os afars ou danakil, que compreendiam os adoh e os ammara, e os issas, integrados por abgal, dalol e mardiq.

A Idade Média foi a época do esplendor do império muçulmano na costa oriental da África. Entre os séculos VII e IX deram-se os assentamentos dos comerciantes muçulmanos em torno da Etiópia, para realizar atividades comerciais com esse Estado cristão da religião copta.

O Islã vinculou os dispersos povos da região, que rapidamente o adotaram. No século XI surgiram uma série de sultões entre o porto de Zeila e o Estado etíope, sustentando-se em uma economia comercial, com produtos como o marfim e o ouro.

Também praticavam o comércio de escravos. Estes eram levados para os países da região do Golfo, onde as mulheres eram utilizadas como concubinas ou em trabalhos domésticos e os homens na agricultura.

Não restaram testemunhos documentados sobre a quantidade de pessoas vendidas a essas nações árabes, nem tão pouco sobre a duração desse comércio e suas possíveis consequências no despovoamento de um território escassamente habitado.

Apesar de que a existência dos pequenos estados dominados por sultões entre o porto de Zeila e o Estado etíope não ameaçavam este último, a Etiópia começou, no século XIV, sua submissão, transformando-os em estados tributários.

 

Chegam os europeus

Essa era a situação quando, no século XIX, os europeus chegaram às costas do mar Vermelho, atraídos pelas riquezas da Etiópia, estabelecendo-se sem grandes dificuldades nos territórios sob domínio muçulmano, com o propósito de comerciar.

Itália, Inglaterra e França foram as três potências com pretensões no Chifre da África. A Somália foi ocupada pela Itália. A Inglaterra criou a Somália británica, em uma faixa territorial entre a Somália italiana e sua colônia do Quênia; o Djibouti tornou-se possessão francesa.

O início dos trabalhos no Canal de Suez, terminados em 1869, transformaram a zona em passagem estratégica, de vital importância comercial. Em 1862 a França tinha se posicionado em Obock, com o objetivo de enfrentar os ingleses, estabelecidos em Aden, cidade do Iêmen.

Pouco depois mudou sua presença para Djibouti, porto de boas condições e lugar adequado para desenvolver o comércio com a Etiópia. Os franceses tomavam decisões sem levar em conta a opinião da população autóctone.

O comércio com a Etiópia chegou ao auge em 1894, quando começou a construção da primeira estrada de ferro, que serviria de ligação entre Djibuti e Adis Abeba, capital etíope, que ficaria pronta no século seguinte.

Em 1896, dada a importância adquirida pela possessão, a França decidiu dar-lhe um status colonial, com o nome de Costa dos Somalis e Dependência. A construção da estrada de ferro realizou-se paralelamente à edificação do porto de Djibouti; seu tráfico provocou a expansão da cidade.

As primeiras décadas do século XX caracterizaram-se pela penetração e colonização francesa no interior do enclave. Em 1924 completou-se a ocupação total do territorio, começando assim a história colonial do país.

As duas décadas que decorrem entre o término da ocupação territorial e o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) são pobres em acontecimentos. Mas a consciência nacionalista que se desenvolveu em todo o continente no pós guerra também despertou na colônia.

Frente aos primeiros surtos de nacionalismo em Djibouti, a França concedeu algumas reformas, tendentes a neutralizar o processo. Em 1947, atribuiu um novo status ao país, com o nome de Território de Ultramar. Foram também criados conselhos representativos que davam algumas possibilidades no governo aos nacionais.

O crescimento do nacionalismo obrigou Paris a conceder algumas reformas, como a autonomia. Apesar dessas medidas, a França conservava o governo territorial e dirigia os ministérios mais importantes.

Durante anos as autoridades francesas ensaiaram diversas manobras políticas para frustrar as crescentes demandas de independência. Nesses longos anos, dezenas de djiboutis pagaram com suas vidas suas aspirações libertárias, devido à repressão das tropas francesas.

No âmbito internacional, instituições como a Organização para a Unidade Africana (OUA) reivindicavam da França o fim da escravidão colonial. A luta interna e a presssão internacional obrigaram Paris a dar a independência ao Djibouti e, em junho de 1977, foi proclamada a República independente, pondo fim ao colonialismo na pequena nação.

 

*Colaborador da Prensa Latina, especial para Diálogos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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