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"Do mesmo modo que se financiavam golpes militares agora se financiam golpes judiciais", diz Cristina Kirchner

A vice-presidente argentina fez uma conferência diante de um auditório repleto da Universidade Autônoma de Honduras.
Ezequiel Sánchez
Página 12
Tegucigalpa

Tradução:

Convidada de honra para a posse de Xiomara Castro de Zelaya como primeira presidente mulher na história de Honduras, Cristina Fernández de Kirchner foi recebida com uma ovação no auditório da Universidade Autônoma de Honduras (UNAH). O objetivo era dar uma palestra denominada “Os povos sempre voltam”.

CFK não só fez uma revisão histórica da libertação dos povos latino-americanos desde a colônia até hoje como mostrou como os poderes de fato modificaram suas estratégias para impedir a autodeterminação dos povos: “Da mesma maneira que se financiavam golpes militares no século XX, agora começam a ser financiados os golpes judiciais na América Latina”, e advertiu que estas tentativas de impor o neoliberalismo na região ainda não acabaram.

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Em suas primeiras palavras enviou “uma saudação especial para Tegucigalpa, “a que, agora sim, me deixaram chegar”, referindo-se à tentativa frustrada que houve quando o então derrubado e exilado presidente Manuel Zelaya Rosales não pode aterrissar na capital hondurenha.

A modo de ressarcimento, o novo prefeito da cidade, Jorge Aldana, declarou-a “visitante ilustre” e lhe entregou as chaves do Distrito Central, antes que Fernández começasse sua exposição para um público exaltado, que contava entre seus integrantes com a ex presidente brasileira Dilma Rousseff e o ex mandatário paraguaio Fernando Lugo, ambos destituídos em processos políticos.

“Já não são necessários golpes militares, agora é preciso conseguir juízes educados em comissões e foros financiados por aqueles que antes financiaram os golpes de Estado”, diria, ao longo da meia hora que durou sua exposição, que pôde ser vista por suas redes sociais e pelos telões instalados fora do auditório da UNAH para aqueles que não conseguiram entrar no abarrotado edifício.

O exemplo que CFK utilizou para demonstrar esta nova forma de desestabilizações e destituições presidenciais, foi a experiência que viveu justamente em Honduras. A vice-presidente lembrou que este país centro-americano tem uma Constituição que proíbe a reeleição e que foi usada como principal argumento para tirar Manuel Zelaya do governo em 2009 o qual, apenas convocara uma consulta popular não vinculante para avaliar uma possível reeleição.

No entanto, como destacou CFK, foram os próprios juízes hondurenhos que anos mais tarde permitiram que o presidente que saía, Juan Orlando Hernández (JOH), optasse por um segundo mandato. “A Constituição é aplicada e os juízes julgam não de acordo com os direitos e os códigos, e sim de acordo com os interesses que, sempre, são contra os das maiorias populares”, disse.

A vice-presidente argentina fez uma conferência diante de um auditório repleto da Universidade Autônoma de Honduras.

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Cristina Fernández de Kirchner falou em Honduras na prévia da posse de Xiomara Castro

Um momento de felicidade

Cristina afirmou sentir-se muito honrada por poder compartilhar um momento de felicidade tão grande como o da tomada de posse de Castro, e pediu a seus seguidores que a ajudem muito, “já que a espera uma tarefa duplamente difícil por ser mulher”; mas afirmou estar “absolutamente convencida de que vai conseguir”.

“Não é fácil ser presidente mulher. É muito difícil porque quando uma mulher, além de pintar-se, pentear-se e usar enfeites, pensa, e se atrevem a dizê-lo em voz alta, é bem menos perdoada que os homens”, afirmou ao mesmo tempo em que lembrava uma história com seu marido, o ex presidente Néstor Kirchner, quando antes de falecer, ele reconheceu que existe muito machismo, inclusive entre os companheiros da então Frente para a Vitória.

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Em sua exposição fez uma revisão histórica sobre como, frente ao colonialismo, surgiram os movimentos emancipatórios da América e diante “da submissão econômica” da primeira metade do século XX, a resposta foram os movimentos populares nacionalistas, como o peronismo.

Também fez referência a que ante o modelo neoliberal imposto na base de ditaduras militares, “começam a surgir novos movimentos populares e nacionais com outros nomes e protagonistas, mas com o mesmo objetivo de sempre: a autodeterminação dos povos”. Recordou o começo deste século XXI como “momentos muito difíceis, mas de grande solidariedade latino-americana”.

Também se dedicou a falar sobre o narcotráfico e como este vem suprir as necessidades das pessoas quando os Estados desaparecem ou são reduzidos segundo o paradigma neoliberal. “Como se os narcos só pudessem ser combatidos pelo Ministério de Segurança e não com acesso ao trabalho, à saúde, à educação, ao progresso”, disse, de uma terra que especialistas catalogaram como um Narcoestado.

Vale recordar que o irmão do até hoje presidente Hernández está condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos por narcotráfico em grande escala. De igual forma, também está atrás das grades o filho de seu predecessor, Porfirio Lobo Sosa, ambos do Partido Nacionalista que governou desde o golpe de estado até Zelaya.

Pensando no futuro, a vice-presidente Fernández afirmou que “o grande desafio que tem nossa região e o mundo é ver quais são os graves problemas que hoje pressionam a todos. Em nível global, se queremos combater o narcotráfico, temos que discutir seriamente para que os bancos das grandes potências deixem de lavar as fortunas dos narcotraficantes”, o que ocasionou uma avalanche de aplausos entre os hondurenhos que a ouviam e que hoje celebram não só uma mudança de governo, mas de época.

Assista a Conferência completa

Ezequiel Sánchez / página 12

Tradução de Ana Corbisier


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