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Doações em cifras bilionárias revelam como mais ricos influenciam eleições nos EUA

A enorme influência do dinheiro privado nas eleições estadunidenses não é novidade, mas é cada vez mais notável
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O custo das eleições legislativas intermediárias marca um novo recorde, superando já os 7 bilhões de dólares. Multimilionários aportaram quase 40% dos fundos, pondo em dúvida quem determina o processo eleitoral, os eleitores ou os patrocinadores dos políticos, com alguns críticos dizendo que os Estados Unidos se parecem cada vez mais a uma oligarquia. 

Até hoje, o total de fundos privados gastos nas eleições legislativas federais é de US$ 7,5 bilhões, superando o recorde prévio de pouco mais de US$ 7 bilhões nas intermediárias de 2018, e calcula-se que ascenderá a US$ 8,9 bilhões no final.

Desse montante, mais do 15% provém só de multimilionários (com fortunas maiores que US$ 1 bilhão) e 38% do total investidos nas eleições provém do 1% mais rico do país, segundo cálculos da organização independente especializada no tema Open Secrets. O gasto total na eleição, combinando as contendas federais e as estaduais, chegará a mais de US$ 16,7 bilhões. Dos 25 doadores milionários mais generosos neste ciclo eleitoral, 18 são republicanos.

Aproximadamente 465 multimilionários investiram mais de US$ 881 mil nas contendas federais, com só 10% destas famílias contribuindo com 73% desse total, segundo um novo informe da Americans for Tax Fairness. Desses tais, calculados até fins de setembro, 59% é para candidatos republicanos e 39% para democratas.

A enorme influência do dinheiro privado nas eleições estadunidenses não é novidade, mas é cada vez mais notável, com a crescente concentração do poder econômico traduzindo-se na concentração do poder político, algo que tem sido denunciado durante anos por uma ampla gama de figuras, desde o economista Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, a comentaristas políticos proeminentes incluindo Noam Chomsky, Robert Reich, Cornel West, entre outros.

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“Os multimilionários não deveriam poder comprar as eleições nos Estados Unidos”, repete o senador federal Bernie Sanders ao viajar pelo país para promover o voto e apoiar candidatos democratas progressistas (sua cadeira não está em jogo nesta eleição). Ele denuncia que “a classe multimilionária é de bandidos”, denunciando uma e outra vez o poder excessivo do 1% mais rico sobre a democracia estadunidense e suas políticas. 

Por exemplo, em torno ao tema eleitoral atual da inflação que utilizam os republicanos contra o governo democrata, Sanders afirma que mais da metade dos incrementos de preços ao consumidor são causados pela avareza empresarial, assinalando os lucros recordes das empresas petroleiras, farmacêuticas e de alimentos.

“Temos mais desigualdade em renda e riqueza que em qualquer momento na história moderna do país, com três pessoas com mais riqueza que a metade mais pobre da população”, reitera, repetindo a argente necessidade de buscar uma forma de frear o poder do dinheiro privado nas eleições, usado para proteger os interesses de uma minúscula minoria poderosa. 

Líderes sociais assinalam que esta eleição terá consequências enormes para os que não têm milhões. “A pobreza é uma opção política. Reduz-se quando o governo se compromete a reduzi-las, e se eleva quando esse compromisso se desvanece. Portanto, as consequências para os pobres e as famílias de baixa renda dos Estados Unidos são enormes nesta eleição”, afirmam o reverendo William Barber, copresidente da Campanha dos Pobres, e Karen Dolan, do Institute for Policy Studies em um artigo em The Guardian. Barber tem repetido que um terça do país, mais de 110 milhões, vivem na pobreza com menos dinheiro.

A enorme influência do dinheiro privado nas eleições estadunidenses não é novidade, mas é cada vez mais notável

David Bruyland – Pixabay

A economia é o tema de maior preocupação do eleitorado nesta contenta, com quase 8 de cada 10 eleitores indicando isso em pesquisa recente

Sanders, como outros líderes democratas, incluindo o presidente Joe Biden, enfatizaram que esta eleição tem uma dimensão existencial. “Esta é a eleição intermediária de maior consequência na história moderna deste país. O que está em jogo literalmente é a democracia e se manteremos uma forma democrática de governo”, afirmou em entrevista recente a Vanity Fair.  

A economia é o tema de maior preocupação do eleitorado nesta contenta, com quase 8 de cada 10 eleitores indicando isso na pesquisa mais recente do Pew Research Center. A percepção da economia é esmagadoramente negativa nos últimos meses, com 82% considerando que as condições econômicas não são boas.

Mas o segundo tema de maior preocupação é “o futuro da democracia”, com 70% indicando que esse assunto é muito importante para eles nesta eleição. Os temas que seguem, em ordem, são educação, saúde, política energética e crime violento, políticas sobre armas de fogo e o aborto.

Durante anos, uma maioria do povo estadunidense favoreceu mais limites e regulamentações ao poder do grande dinheiro nas eleições, enquanto que a cúpula política tem ignorado essas e outras demandas da maioria.

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Vale sublinhar o óbvio: os multimilionários e o eleitor em geral não compartilham as mesmas prioridades, mas alguns poucos têm os recursos para moldar e influir muito mais que a maioria – e esse é talvez um dos maiores problemas para o futuro do que chamam o experimento democrático estadunidense.

David Brooks | Especial para o La Jornada, direto de Nova York.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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