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Documento: I Seminário Internacional Paulo Freire

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Painel Paulo Freire“Educação Popular, Paulo Freire e o Pensamento Pedagógico Contemporâneo”

17 de agosto de 2013 – A 50 anos de Angicos, 40 anos de CREAR e 30 anos do retorno à democracia na Argentina 

“Ser culto é o único caminho para ser livre”

José Martí 
Consideramos que a educação é um direito todas e todos e um dever do Estado. É uma ferramenta que permite a libertação dos setores oprimidos para construir uma sociedade justa e democrática. Permite a consolidação de uma sociedade em que seja fundamental o respeito às diferenças, a construção de acordos, a defesa do público, o reconhecimento e o acompanhamento dos movimentos sociais.
Nesse sentido, cremos firmemente que a educação é um ato político democrático e popular, através do qual lemos nosso tempo histórico e assumimos um lugar na história para transformá-la.
Rechaçamos o sistema opressor e os valores imperantes do capitalismo econômico e cultural que instauraram relações competitivas e individualistas, transformaram a educação e a saúde em mercadorias e vêm destruindo sistematicamente o meio ambiente.
Reunidos com o objetivo de recuperar o pensamento de Paulo Freire, e a experiência de educação popular do programa CREAR, compartilhamos histórias e experiências educativas e sociais que tecemos cotidianamente em diferentes pontos de nossa América Latina, e que expressam nossas múltiplas esperanças na libertação de nosso povo.
Neste seminário utilizamos os “Círculos de Cultura” como uma metodologia participativa e um princípio político de trabalho coletivo. Esses círculos permitem o desenvolvimento da consciência crítica por meio do diálogo e constituem um espaço político pedagógico para o  fortalecimento da cultura popular.
Nossa ação é solidaria e amorosa. Amorosa no sentido de crer na luta dos seres humanos, de ter compromisso com a causa dos oprimidos e de ter a esperança de que a transformação radical do mundo é possível. Essa é a potencialidade dos círculos de cultura no âmbito da educação popular.
Diante do compromisso da Educação como uma ferramenta de luta pela emancipação dos povos, e utilizando essa metodologia política de trabalho, as educadoras e os educadores que participamos neste seminário concluímos:

  • Que é necessário seguir reconhecendo nossa história e a identidade de nossos povos.
  • Que conscientização, diálogo e política se complementam em uma tríade e se sustentam na participação.
  • Que o processo de conscientização é contínuo e é o caminho para a transformação social. Para isso consideramos fundamental a  incorporação da Educação Popular na prática da educação formar e nos espaços de formação docente, e o uso dos círculos de cultura como metodologia de trabalho nos sistemas públicos.
  • Que é fundamental manter a pergunta de como construir uma nova sociedade a partir das diferenças e múltiplas identidades e das profundas desigualdades sociais que enfrentamos.
  • Que uma educação conscientizadora só pode se dar através do desenvolvimento da consciência política das educadoras e educadores. E que ela compreende a análise crítica das realidades sociais, buscando o empoderamento dos educandos para a transformação social.
  • Que as educadoras e os educadores compreendam a importância da utilização metodológica dos Círculos de Cultura, com ênfase no diálogo como princípio em locais e espaços de trabalho.
  • Que o diálogo é a única forma de transformar a prática da educação formal e de estabelecer a horizontalidade no processo educativo.
  • Que no diálogo se reconhecem as diferenças, reconhecemo-nos como sujeitos e abrimos espaços de construção de novos ideais a partir do respeito às diferentes formas de expressão.
  • La importância da coerência por parte do educador que deve fundamental sua prática à luz das teorias que propõe.
  • Superar o paradigma hegemônico que separa a educação da política.
  • Superar os valores e princípios do colonialismo que existe arraigado em nossas concepções de vida, rompendo as fronteiras dos saberes permitidos.
  • Reconhecer a dimensão política da opressão na vida cotidiana para transformá-la em outra dimensão que contemple a ESPERANÇA, abrindo espaços para superar as profundas desigualdades presentes nas realidades em que vivemos.

A partir destes acordos, propomos:

  • Buscar, articular e gerar redes de educação popular, nacionais e internacionais em diferentes níveis.
  • Sistematizar e socializar as experiências de educação popular.
  • Conformar um coletivo de intercâmbio de experiências e formação para dar continuidade aos encontros de educadores populares utilizando a metodologia dos círculos de cultura nas instituições dos diferentes âmbitos sócio-comunitários.
  • A partir da organização de grupos comunitários realizar debates para construir novos aportes aos desenhos curriculares com o objetivo de empoderar as classes populares com a dimensão político-pedagógica do que se ensina na escola.
  • Construir estratégias que incluam nos espaços de formação docente a educação popular de maneira legítima.
  • Deixar de pensar individualmente para desenvolver uma consciência de classe.
  • Assumir a importância da arte como forma legítima de expressão popular.
  • Reconhecer a importância da educação popular em todos os níveis educativos para superar o conceito de educação de segunda categoria a que foi reduzida a educação não formal e informal.
  • Lutar para que sejam incorporados nos sistemas públicos de educação conceitos, princípios e valores da educação popular.

Reafirmamos nossa luta contra qualquer forma de discriminação e opressão.
Apoiamos todas as políticas de integração latino-americana que reafirmem a soberania e permitam a libertação de nossos povos. Nesse sentido, reconhecemos a importância da revolução cubana, da revolução bolivariana, da revolução cidadã no Equador, da revolução do Bem Viver no estado pluriétnico da Bolívia e nos processos populares que estão avançando na Argentina, Uruguai e Brasil como exemplos de luta popular, bandeira da libertação e formas de resistência ao imperialismo.
Reafirmamos a necessidade de continuar tecendo redes, tramas e encontros nacionais latino-americanos e internacionais entre as educadoras e educadores do campo popular; e a necessidade de estabelecer relações e redes com os organismos de políticas educativas públicas..
Eu posso e alguém me acompanha; não posso fazer algo pelo outro sem que o outro tome consciência por si mesmo.
“Ninguém ensina ninguém; ninguém aprende sozinho. Aprendemos em comunhão, mediados pelo mundo” (Paulo Freire)
Juntos, passemos a novos olhares.  Com nossa participação nos encontros de Educação Popular em Cuba e no Brasil e naqueles aos que nos convoquem nossos irmãos latino-americanos. No próximo seminário a realizar-se na Argentina em 2015 para que avancemos e concretizemos nossas propostas e se tornam realidades nossas utopias.
Equipe de redação do Seminário


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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