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Documentos e depoimento comprovam apoio e proteção do Exército a extremistas golpistas

Atuação do Exército no Distrito Federal não foi isolada e se repetiu no Amazonas, mostrando uma postura repetitiva das Forças Armadas no episódio
Patricia Faermann
Jornal GGN
São Paulo (SP)

Tradução:

O Exército impediu a Polícia Militar de atuar contra o acampamento de bolsonaristas em frente ao quartel-general do Distrito Federal por três vezes. No Amazonas, o Exército também atuou contra as forças de segurança e ofereceu estrutura aos extremistas.

A informação do Distrito Federal consta em depoimento do ex-comandante da PM da capital, Fábio Augusto Vieira, à Polícia Federal. Concedido no último 12 de janeiro, é mais uma prova de como o Exército atuou de forma sistemática a favor dos bolsonaristas que tentaram o golpe no domingo, dia 8

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Obtido por reportagem do Uol, Vieira disse à PF que acionou até 500 policiais militares para desmontar o acampamento, mas o Exército impediu. É a transcrição do depoimento de Vieira à PF:

“Que o coronel Fábio havia requerido a dissolução do acampamento; que por três vezes ele chegou a mobilizar homens para dissolver os manifestantes em frente ao QG; que o exército impediu essa ação da PMDF

Reportagem do The Washington Post neste domingo (15) também trouxe relatos de que o comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, teria dito ao ministro da Justiça, Flávio Dino, em tom de ordem, que ele não iria “prender gente aqui”, em referência ao acampamento.

Atuação do Exército no Distrito Federal não foi isolada e se repetiu no Amazonas, mostrando uma postura repetitiva das Forças Armadas no episódio

Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Vídeos mostram que a PM-DF chegou a escoltar a caminhada dos bolsonaristas até à Praça dos Três Poderes

No Amazonas, espaço e conversas

Reportagem de Carlos Madeiro, do Uol, revela que a atuação do Exército no Distrito Federal não foi isolada e se repetiu no Amazonas, mostrando uma postura repetitiva das Forças Armadas no episódio.

Em Manaus, o Comando Militar da Amazônia chegou a destinar um espaço dentro das estruturas do Exército para bolsonaristas guardarem pertences e recebeu os extremistas para realizar negociações com eles, de maneira individual e sem consenso com as demais forças de segurança do estado.

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As informações constam em documentos da Secretaria de Segurança do Amazonas e da Procuradoria do estado, enviados à Vara Federal, para investigação.

Segundo o subprocurador Mateus Severiano da Costa, também “não houve qualquer auxílio das Forças Armadas à Polícia Militar” para remover o acampamento bolsonarista em frente ao Exército e a PM “foi obrigada a atuar apenas com seus próprios recursos”.

PM desarticulada

Por outro lado, no depoimento à PF, o ex-comandante da PM mostrou despreparo de suas ações, ao afirmar às autoridades que “não havia indicativo de violência” e que “não recebeu ordens” para impedir os manifestantes de descerem a Esplanada dos Ministérios.

Vídeos mostram que a PM-DF chegou a escoltar a caminhada dos bolsonaristas até à Praça dos Três Poderes, e também policiais tomando água de coco e tirando selfies com os golpistas, enquanto eles avançavam às sedes de governo.

Fábio Augusto Vieira também responsabilizou trocas de comandos policiais, nas demissões do governo Lula, que, segundo ele, podem ter dificultado fluxo de informações de inteligência e segurança para o dia 8. Ele narrou que todas as ações tomadas foram definidas por um protocolo que teria sido “pactuado entre todos os órgãos e agências interessados”.

Vieira foi afastado do cargo no dia seguinte à tentativa de golpe e preso, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Patricia Faermann | Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 8 anos.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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