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Doutrina Biden: quais as diretrizes da cúpula "pela democracia" convocada por Washington?

Biden quer reforçar e estender a hegemonia imperial que vem sendo exercida através da gestão da Economia dos Estados sob o pensamento único
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Joe Biden, presidente dos EUA, convocou uma reunião de chefes de Estado, iniciada nesta quinta-feira (9) e que vai até amanhã (10), com o pomposo título de Cúpula pela Democracia, para a qual espera a presença de 110 convidados, inclusive o chefe do governo militar brasileiro.

Segundo a CNN, porta-voz oficioso da Casa Branca, é apenas o “lançamento” de uma longa conversa sobre democracia. Ele diz que os países precisarão cumprir reformas que prometeram caso queiram ser convidados para a próxima cúpula, no ano que vem.

Mais evidente do que isso, impossível. Está aí o que seguramente logo estará sistematizado como Doutrina Biden, uma tradição em Washington. Um corolário a mais à Doutrina Monroe A pauta está explícita. Democracia e Reformas. 

Biden quer reforçar e estender a hegemonia imperial que vem sendo exercida através da gestão da Economia dos Estados sob o pensamento único

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O presidente Joe Biden convocou Cúpula pela Democracia

Com o mote da Democracia, quer juntar forças para sua política de contenção da Rússia e da China, ter argumentos para continuar desestabilizando os governos de Cuba, Venezuela, Bolívia e o que mais surja de governo independente em Nossa América.

Com a divisa das Reformas, quer nada mais nada menos que reforçar e estender a hegemonia imperial que vem sendo exercida através da gestão da Economia dos Estados sob o pensamento único imposto pelo capital financeiro. Modelo que está desestruturando a economia de grande parte dos países.

Biden pretende, na próxima Cúpula, em dezembro de 2022, sabatinar e aplaudir aqueles governantes que fizeram bem a lição de casa, as tais reformas, que estão resumidas no Decálogo do Consenso de Washington e nos princípios da OCDE, o exclusivo clube dos países mais ricos.

Difícil entender como os países europeus seguem fieis aos interesses de Washington e ao modelo que destruiu a sociedade de bem-estar construída após a 2ª Guerra Mundial pelos social-democratas. 

O filósofo Franz Fanon adquire extrema atualidade para os europeus. É preciso descolonizar a Europa, livrar-se da dominação econômica e cultural, expulsar as centenas de bases militares que mantém no velho continente. O tempo da Roma Imperial dos Césares e dos Papas já passou. É tempo de liberdade, cooperação, Europa já conseguiu a União Europeia, agora falta integrar-se a Eurásia

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Não faz sentido estar submissa a uma potência decadente. Os Estados Unidos já não são a primeira potência em nada, nem sequer no campo militar. Socialmente, estão como qualquer dos países em desenvolvimento, com 40, 50 milhões de pessoas mergulhadas na extrema pobreza; milhões de desempregados com centenas de milhares de sem-teto, vivendo em barracas à beira das estradas em torno das grandes cidades. 

As eleições nos Estados Unidos sempre foram uma fraude para assegurar a continuidade no poder das oligarquias herdeiras dos pais da pátria. Poder que é compartilhado com os senhores de todas as guerras, os que lucram com o complexo militar industrial.

Os EUA perderam também a glória de ser a maior potência militar. Um aparato sem igual que hoje serve para nada, só para dar emprego e gastar dinheiro. Têm onze porta-aviões gigantescos, seis deles nucleares, acabam de lançar mais um, o Gerard Ford, e têm o John Kennedy em fase de teste e o Doris Miller, em construção. Esses últimos de última geração, ou seja, alta tecnologia.

Cada um dos antigos que estão em circulação carregam tripulação de 5 a 6 mil homens, mais de 2 mil só na área da aviação de combate. Nessa área, carregam de 80 a 90 aviões caças. Carregam também mísseis, algumas dezenas, inclusive com ogivas nucleares. Só para lembrar, com toda essa parafernália, os EUA jogaram sobre o Vietnã mais bombas do que as que foram jogadas durante toda a Segunda Guerra Mundial. E ainda assim perderam a guerra para os camponeses vietnamitas.

Um míssil disparado por um submarino de última geração da China ou da Rússia acaba com um porta-aviões desses. O que farão? Vão desembarcar tropas na China? Nem pensar. Vão lançar mísseis contra a Rússia? Sabem que Moscou pode destruir Washington com mísseis hipersônicos indetectáveis pela defesa ianque.

Em desespero, os EUA jogam todas as suas cartas com o objetivo de estender o máximo tempo possível a sua hegemonia. Sabe que não poderá prosseguir saqueando os países do Oriente Médio, precisa apontar os seus canhões noutra direção.

Os países de Nossa América corremos sérios riscos, maiormente o Brasil, presa de um governo militar autoritário fiel aos Estados Unidos. Cumprir as promessas significa mais arrocho salarial, mais descapitalização com a venda de ativos, mais desindustrialização, mais recessão e desemprego, devastação das reservas naturais, genocídio dos povos originários, dos quilombolas e populações ribeirinhas. Recessão e inflação, a temida estagflação, o país no fundo do buraco que parece não ter fundo.

A ordem é privatizar tudo, sem nenhum outro critério que a irresponsabilidade dos vende pátria. Tudo por dinheiro… dinheiro que sai pelo ralo, pois não se vê em nenhuma obra que beneficie a população. Saúde e educação deixam de ser serviço público para atender um direito humano e passa a ser objeto de lucro das grandes corporações. Boa educação só para quem tem muito dinheiro, para os pobres, escolas de lata.

Tudo o dinheiro compra. Greg Palast, ex-agente ianque explica bem no sugestivo título de seu livro: “a melhor democracia que o dinheiro pode comprar“, lançado no Brasil em 2004. Nada mudou no modo de operar do Império, eles apenas aperfeiçoaram o método e puseram mais ênfase na utilização do dinheiro. É impressionante a quantidade. Recentemente, outro agente desertor, John Kiriakou, aquele que denunciou as torturas aos prisioneiros de guerra no Iraque, contou, também em livro, como ele operava com rios de dinheiro corrompendo todo mundo para alcançar seus objetivos — fosse transportar cerca de 30 pessoas de um país para outro, por cias aéreas regulares, fosse para desestabilizar um governo.

Em entrevista a Sara Vivacqua, reproduzida no DCM, Kiriakou disse que a Lava Jato, ocorrida no Brasil, é excelente exemplo da interferência dos EUA nos assuntos internos de outros países. Se surpreende que não tenha havido protestos, pois é caso grave, sujeito até a rompimento das relações.

Na Diálogos do Sul, denunciamos que tanto o juizeco Sérgio Moro como o agente procurador Deltan Dallagnol deveriam ter sido presos ao desembarcar no Brasil vindo de Washington com material e instruções para iniciar o combate a Lula e ao PT e garantir a vitória eleitoral dos militares. Kiriakou esclarece que não foi só o Departamento de Justiça, mas também o Departamento de Estado, Departamento de Tesouro, todos metidos na operação. 

Na realidade, tratou-se de uma conspiração envolvendo o governo todo, inclusive o Pentágono e os serviços de inteligência. Queriam no Brasil um governo mais à direita (não que Lula fosse de esquerda), mas, simplesmente, porque não gostam dele, traçaram um plano para destruí-lo.

Vale lembrar, assinala o entrevistado, que Dallagnol disse que a prisão de Lula foi um presente da CIA e que, depois de Lula preso, Bolsonaro e Moro foram recepcionados na sede da CIA, em Langley. Fato inusitado, nunca ocorrido antes, um chefe de Estado visitar a CIA.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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