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Dura lição esta, Aécio, que você recebeu na Venezuela: política não se faz com factoide. Você deveria ter sabido disso antes, se mirasse no exemplo de seu avô Tancredo.
Entendo o seu açodamento para não perder o protagonismo. Aliás, você já tinha embarcado em outra canoa furada, aquela do impeachment. Foi um aviso, mas não deu bolas, ou não entendeu. E agora sai de Brasília para humilhar o povo da Venezuela, a troco de um brilhareco. Mas até nisso você perdeu, porque o New York Times, a CNN ou o próprio Jornal Nacional da Globo não lhe deram manchete.
Mas fiquemos no seu factoide venezuelano. Você se deu ao trabalho de verificar a causa que defende: os criminosos que submeteram aquele país irmão com ações simultâneas de vandalismo nas 30 maiores cidades do país, em que morreram 43 pessoas, dentre as quais Adriana Urquiola, uma jornalista e tradutora de sinais, de 28 anos, grávida de cinco meses, que foi degolada numa das chamadas “guarimbas” de rua??
Seus assessores marqueteiros por acaso não lhe passaram dados sobre o que fizeram estes agitadores, durante dois longos e tormentosos meses: incendiaram universidades, inclusive uma de mais de 15 mil estudantes, cuja biblioteca ficou quase totalmente imprestável? Derrubaram cem mil árvores, atacaram creches infantis do governo, só porque se chamavam Simonzito, em homenagem ao grande Simão Bolívar, o Libertador? Postados nas principais ruas dessas 30 cidades, os “guarimbeiros” fecharam ruas na hora do pico, só para causar transtorno no trânsito e quem ousasse enfrentá-los ou conrtoná-los, eram inapelavelmente, mortos como ocorreu com a Adriana, ou saíram seriamente feridos como atestam tristemente as outras 800 vítimas da sandice daquilo que provavelmente você chama de democracia?
Você diz que ia defender a democracia, apelando pela libertação de Leopoldo López, ex-agente da CIA e chefe intelectual dos garimpeiros. Mas você procurou ver os autos do processo ou entender-se com a justiça local, que o meteu na cadeia, não por motivos políticos, como você que fazer crer, mas pelo crime comum de incitamento ao linchamento de pessoas, incêndios de creches e órgãos públicos, derrubada de árvores e assassinato? Não, você não quis saber nada disso. Só estava preocupado em fazer uns vídeos do celular para depois posar de herói e atacar as autoridades venezuelanos, chamando-as de facínoras. Mas nem isso deu certo, porque você se confrontou com um povo pobre, mas orgulhoso e que não pretende renunciar fácil ao que ganhou com a revolução bolivariana de seu herói, este sim verdadeiro e não de fancaria, Hugo Chávez: fim do analfabetismo, escolas, universidades e creches para toda a população e não apenas para uma elite, salários dignos, emprego e saúde farta e gratuita.
Você também, junto com os outros sete colegas senadores, tentou manipular os fatos, ao dizer que o governo de Nicolás Maduro trancou as ruas para impedir a passagem de sua comitiva. Outra falta de informação: tomo mundo sabe que a Venezuela tem um dos trânsitos mais caóticos do mundo (veja os livros da Isabel Allende, que lá passou uma época de seu exílio nos anos 70, muito anos de Chávez). Os fatos aos poucos começam a surgir e os jornalistas da grande mídia brasileira que foram na sua conversa e na do seu colega senador Aloísio Nunes se vêem agora obrigados a corrigir seu relato, como o fêz o Estadão.
Finalmente, Aécio, você viu que a Venezuela tem amigos. Reparou na chuva de posts nas redes sociais e mesmo em veículos, conservadores, denunciando sua ânsia de protagonismo, como lembrou o escritor Fernando Moraes, um dos primeiros a denunciar o seu factoide venezuelano? Meu caro, não é por aí que se faz um líder internacional. Você precisa ler, Aécio. Precisa estudar. Esta coisa de que uma foto no jornal ou um vídeo na TV ou na internet vai lhe dar projeção, não funciona. Veja seus coleguinhas que entraram nessa onde estão. Olhe ao redor.
Volto a insistir, siga o exemplo do vIo Tancredo Neves, que ainda mais jovem que você, em 1954, foi o único ministro de Getúlio Vargas, quase heroicamente, a defender o presidente que acabou se suicidando. Veja a história do Brasil ou pelo menos as cenas de Tancredo discursando no túmulo do grande líder trabalhista, em São Borja. Tancredo, lembre-se bem, não era homem de esquerda, mas um líder conservador e honrado, eleito aos 74 anos presidente do Brasil, em 1984.
Com o tempo, também vai verificar que essa direita que você parece adorar não vai lhe dar muita bola se continuar a fazer besteira. Desde a eleição de 2014 que você perdeu por pouco para a Dilma, já encaixaram mais dois no PSDB para embaralhar-lhe o caminho de uma candidatura presidencial. A direita é assim mesmo: adora jogar o bagaço fora depois que chupa o suco. Para terminar, lembro-lhe uma advertência de Cristina Kirchner, outra sofredora, mas altiva chefa do bravo Estado popular Argentino, lançou sobre aqueles que costumam flertar com o colorido televisivo e corporativo. Ela lembrou que, no cemitério portenho estão enterrados em covas secretas, sem nomes, num odioso anonimato, os ditadores Jorge Rafael Videla e Emílio Massera, homens que serviram com denodo ao grande capital, enquanto a apenas 500 metros dali, floresce o túmulo de José Alfredo Martínez de Oz, ministro da Economia e agente dos banqueiros, brilhando como se fosse um monumento entre aquelas tumbas.