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E depois de 2015, o que?

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Héctor Béjar*

 

Foto: Flickr/Michael Mandiberg
Foto: Flickr/Michael Mandiberg

Não conformado com as mortes francesas no Mali e o sequestro de franceses no Camarões, Francois Hollande anuncia uma intervenção direta da França na Síria. Como os mercenários não podem com Bashar al Assad, agora poderão entrar tropas regulares francesas e inglesas.

Aliados com os extremistas muçulmanos, acusam de criminoso ao governo de Assad mas a verdade é que ambos os bandos rivalizam em ferocidade. Enquanto os governos investem centenas de milhões de dólares em uma intervenção ilegal e uma defesa que não reconhece limites em direitos humanos, os promotores da invasão dão migalhas para que as Nações Unidas atendam aos refugiados que eles mesmos lançam na Jordânia.

Em cenário paralelo, os tecnocratas falam em superar a pobreza que suas políticas criaram e mantém. O ciclo de luta contra a pobreza no marco das Nações Unidas se aproxima do fim com resultados modestos ou inexistentes. Começou em 1995, cinco anos depois de 1990, ano da cúpula do Consenso de Washington, quando os governos decidiram diminuir a pobreza pela metade até o ano 2000 e terminar em 2015. E, depois o que? Enquanto fazem correr sangue em regiões do mundo abriram uma consulta mundial e pretendem que a sociedade civil diga algo quando eles já decidiram continuar com o mesmo.

Estão muito preocupados em medir a pobreza. Porém não medem a riqueza. Favorecidas pela especulação, o tráfico e o dinheiro entregue pelos governos aos bancos, as fortunas chegam a milhões de milhões. Segundo Vincent Navarro, o Banco Central Europeu, desde 2011, deu para os bancos privados mais de um trilhão de euros a um por cento de juros para que este empreste aos estados por seis por cento. O Quarterly Review do Banco Internacional de Pagamentos assegura que oitenta e sete bancos mundiais receberam 350 bilhões de dólares entre 2008 e 2010 para que paguem suas dívidas.

Afeganistão, Iraque e Líbia foram destruídos. Estados Unidos mantém um gulag internacional de torturas. A abolição dos direitos trabalhistas para milhões de trabalhadores se estende. Os monopólios exploram sem limite os recursos naturais e humanos do planeta enquanto seus capitais circulam por centenas de paraísos fiscais. Em Lisboa, Atenas, Paris, Madri, Barcelona, os indignados enchem as ruas. Gritam sem ser escutados. Essas vozes não chegam aos palácios nem aos gabinetes das Nações Unidas.

Uma nova consciência crítica surgiu. A Noam Chomsky, Naomí Klein, Viviane Forrester, Daiel Estulin, Eduardo Galeano, Samir Amim, Joseph Stiglitz se somam agora o canadense John Ralston Saul (O colapso da civilização e a reinvenção do mundo, RBA Libros, 2012) e o catalão Vincent Navarro (Os amos do mundo, as armas do terrorismo financeiro, Espasa, 2012). Porém clamam no deserto. Não estão no Painel de Alto Nível que discute a portas fechadas o que fazer depois de 2015.

Em junho de 2012 o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas publicou o documento The United Nations Development Strategy Beyond 2014. Propõe escapar ao reducionismo economicista em que caíram as tecnocracias e os governos. Eles padecem da síndrome estatística e, como assinala o documento, vivem num grande vazio teórico: muitas cifras e poucas ideias. E muito menos vontade política.

Nos próximos anos, segundo o documento, o mundo deverá enfrentar os seguintes desafios:

  • Declinação da fertilidade e incremento da longevidade. Vidas mais longas, mais velhos com pensões miseráveis ou em abandono.
  • Imensa desigualdade. Mais riqueza concentrada e insolente.
  • Menos neve, menos água, menos ar limpo.

As manifestações populares continuarão a demandar justiça. Alguém escutará?

Há muitos anos, Amartya Sen disse: “Se o governo de um país pobre aspira melhorar as condições de vida, será muito burro se pretender alcançar através da elevação do PIB em vez de perseguir diretamente por meio de política pública e de mudança social”.

 

*HéCtor Béjar, advogado e sociólogo, doutor em sociologia pela Universidade Nacional Maior de San Marcos de Lima, Peru, especial para Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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