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É hora de reler aqueles autores que já despertaram nossa atenção e conquistaram nosso respeito

Ainda bem que temos muitíssimos e ilustres intelectuais que vem a público colocar sua visão sobre o atual momento político brasileiro
Ceci Juruá
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Entre as constatações que tem vindo a público e que ampliam o entendimento de muitos leitores, destaco o texto “Confinamento da esquerda” [1].  Para o autor deste texto, a esquerda brasileira vive, na atualidade, “o seu momento de maior irrelevância na cena política nacional”. 

Por esta e algumas outras razões, penso que estamos em momento político delicado, e insólito. O confinamento de que nos sentimos vítimas amplia, de fato, a sensação de impotência frente aos riscos que, sem originalidade histórica, renascem e escurecem nossos horizontes imediatos. Defrontamo-nos, outra vez, com velhas ameaças dirigidas à soberania da Pátria e à integridade do território nacional.

Textos longos aumentam fidelização dos leitores

É momento de reler aqueles autores que já despertaram nossa atenção e conquistaram nosso respeito. Revendo e relendo meus livros acumulados há mais de meio século, duas observações tiveram recentemente, forte impacto sobre mim.  Retransmito-as a seguir.

I- André Gunder Frank, na obra LUMPEN-BOURGEOISIE ET LUMPEN- DEVELOPPEMENT [2], introduz a seguinte hipótese :

1.”A conquista colocou toda América Latina em posição de subordinação crescente e de dependência econômica, colonial e neo-colonial, relativamente ao sistema mundial único do capitalismo comercial em expansão.

2. Esta relação formou e transformou a estrutura da economia e das classes, e até a cultura, no interior da sociedade latino- americana.  Esta estrutura nacional transforma-se, portanto, em função das mudanças periódicas nas formas de dependência colonial.

3. Esta estrutura determina interesses de classe muito diretos para o setor dominante da burguesia. Prevalecendo-se, muitas vezes, de organismos governamentais e de outros instrumentos do Estado, este setor da burguesia desenvolve  políticas de subdesenvolvimento no campo econômico, cultural e político, que atingem  a “nação” e o povo latino-americano. Assim, quando uma mudança nas formas de dependência modifica a estrutura, ocorrem mudanças simultâneas na política da burguesia dominante. Estas mudanças acabam fortalecendo os laços de dependência econômica que facilitaram/propiciaram estas políticas e contribuíram assim para agravar o desenvolvimento do sub-desenvolvimento na América Latina.” (grifos do autor, AGF, p.19).

Ainda bem que temos muitíssimos e ilustres intelectuais que vem a público colocar sua visão sobre o atual momento político  brasileiro

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É hora de reler aqueles autores que já despertaram nossa atenção e conquistaram nosso respeito

Theotonio dos Santos

II. THEOTONIO DOS SANTOS é outro autor cuja releitura nos daria novo ânimo para enfrentar as recentes ameaças,  Na obra EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL. DA COLÔNIA À CRISE DA NOVA REPÚBLICA,[3] Theotonio afirmava:

“A estratégia de crescimento econômico implantada no Brasil depois do golpe de Estado de 1964 se converteu, através das declarações de importantes setores ligados às companhias multinacionais, num modelo de desenvolvimento econômico baseado na “livre empresa”, que deveria ser seguido por todos os países subdesenvolvidos.” (p.191)  

Ao final desse capitulo, intitulado A CRISE DO “MILAGRE BRASILEIRO” , Theotonio esclareceu:

Desde 1974 até o presente estamos vivendo desdobramentos dessa crise. (…) A crise econômica se transformava em crise política, e ambas se desdobram até os nossos dias, através das dificuldades de consolidação da Nova República, que surgiu do bojo desse processo .” (p.219)    

De fato, muitos de nós já estão convencidos, que o golpe de 2016 foi o aprofundamento do golpe de 1964.  O que significa assumir que o enfrentamento do momento atual requer aprofundar 1964 e as sucessivas “facadas” que passaram a ser desferidas contra o    Estado  brasileiro,  visando afastá-lo da condução do desenvolvimento sócio- econômico e cultural do Brasil.

Em várias ocasiões Celso Furtado nos advertiu sobre essa questão. Por isto, em artigo recente, afirmei :

A ênfase de Furtado  no papel estratégico do Estado como único ator social em condições de liderar o desenvolvimento decorre, ainda, de sua percepção quanto ao poder – desmesurado – dos conglomerados transnacionais na economia brasileira.   Esse poder não é um simples poder de mercado.  Foi construído historicamente mediante o aprofundamento da dependência e esteve vinculado, no pós-Segunda Guerra Mundial, à hegemonia norte-americana. [4] (p.37)

 

Ceci Juruá, economista/pesquisadora/escritora,  doutora em políticas públicas (RJ/2022) colaboradora de Diálogos do sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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