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É preciso vencer a guerra! Fascismo perdeu uma batalha e segue à espreita pelo poder

O terror não tem regras, nem regulamentos e não pretende senão aterrorizar, sendo puro arbítrio
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul
Florianópolis (SC)

Tradução:

Acontece que a desintegração de Bolsonaro é um abre alas para o surgimento de novos candidatos a ditadores. Ao contrário de um líder democrata, a superioridade do chefe fascista sobre seus adversários é essencialmente esta: ele aspira ao poder, só ao poder e nada mais senão ao poder. Bolsonaro queria a continuidade de seu poder.

Um tirano quer o poder pelo poder; toda a sua voluptuosidade está no exercício de mandar. As ideias, as reformas, o dinheiro, as mulheres ou os homens, os carros, o luxo, são para ele instrumentos ou objetos de poder, nunca o contrário. O poder é sua condenação, ideia fixa, profissão e família, seu prazer.

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Tendo todo o seu potencial psíquico absorvido por um único ponto, facilmente surge ao vulgo como um ser extraordinário, um mito, e torna-se o chefe. Criticar um líder fascista perante um crente neopentecostal equivale a atacar sua parte sublimada, na qual ele consegue o conforto para suportar as dificuldades de sua vida miserável. É esta estreita identificação entre chefe e massa que cria a forte coesão administrativa dos partidos totalitários.

Que importa que um sujeito desclassificado como Bolsonaro tenha dito e feito o contrário do que dizia e fazia ontem e condenou inocentes à fome e à morte, quer pela Covid, quer pela negação de vacinas?

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O elo mais forte que liga o chefe a seus cordeiros não é ideológico, programático ou ético, “se meu chefe age daquela maneira é porque tem razões para o fazer”. E por não ter tido na vida o êxito que crê ter merecido, debitando-o exclusivamente à falta de sorte ou escrúpulos, o crente acaba ficando orgulhoso por seu chefe ser tão hábil e forte, saiba exterminar seus adversários!

É certo que um partido totalitário, depois da conquista do poder, torna-se partido da ordem, mas antes de o conseguir tem de ser, numa medida extrema e irreconciliável, o partido da desordem!

Fascismo e o “Deus” de coturno

É que o fascismo sempre se abstém de apresentar qualquer programa reconstrutivo; em vez disto propaga uma ideologia representada por símbolos racistas, de nação, de um deus que usa coturno!

Deve enveredar pela política de desacreditar todo o sistema tradicional dos partidos políticos e suas políticas, para isto, a imoralidade fascista torna-se “mantenedora da moral” e líder da luta anticorrupção, torna os demais partidos políticos responsáveis por todos os males da nação e ergue contra as instituições democráticas o ódio das massas.

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A aparente civilização das classes médias é um verniz que se desfaz em situações de estresse social. Em todos os degraus da escala social dormitam resíduos de mentalidade primitiva, pré-lógicos e alógicos.

O fascismo forma-se fora de toda e qualquer discussão, tão pouco crotica os programas políticos de seus adversários; contra a razão da política, o fascismo fez apelo aos instintos atávicos, à voz do sangue, à tradição, à mística dos rebanhos de ovelhas, à necessidade da massa em crer num chefe, à salvação corporal e espiritual baseada na obediência de ordens. A tudo o que quiserem, mas nunca à razão!

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O terror não tem regras, nem regulamentos e não pretende senão aterrorizar, sendo puro arbítrio

Foto: Lisandro M. Enrique / Flickr
O fascismo, como qualquer outro governo totalitário, não surge para corrigir os defeitos da democracia, mas para levar ao paroxismo seus def




Mussolini, “o homem do século XX”.

Um aspirante a ditador jamais deve fazer apelo ao espírito crítico de seus ouvintes, um chefe fascista deve saber arrastar, inflamar, exaltar seus ouvintes, inspirando ódio e desprezo para com os intelectuais e os que discutem.

Mussolini, antes da tomada do Poder, em 1920: “Abaixo o estado em todas as suas formas e qualquer que seja sua encarnação. O estado de ontem, de hoje, de amanhã, o estado tradicional burguês e o socialismo. Nada mais nos resta a nós, últimos sobreviventes do individualismo do que a religião agora absurda, mas sempre consoladora, do anarquismo. ”

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Após chegar ao Poder em 1922, Mussolini diz: “O século da democracia terminou, um século aristocrático, o nosso, sucede ao passado. As novas gerações proíbem à democracia de impedir as novas vidas do futuro.” Mesmo porque, após a tomada do Poder: “Para o fascismo, o estado é absoluto, ante o qual os indivíduos e os grupos não são mais que o relativo.”

O ciclo está concluído!!!!

O chefe, que não é normalmente um grande orador no sentido tradicional, lembra um propagandista de guerra, que incita os soldados antes de um ataque e, noutras ocasiões, lembra um improvisado chefe de soldados amotinados. De todo modo, ele é um ator e como tal sabe que representa um jogo. E esse modo veemente, inculto de falar serve para aproximar ainda mais da massa, ralé espiritual, que acaba por ouvir nele, sua voz.

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Por isso, a fala fascista é sempre falsa e artificial, repleta da violência. A “arminha” de palanque de Bolsonaro não era uma brincadeira. Mas o destino do candidato a futuro ditador é o tudo ou o nada! A coragem de um futuro ditador se mostra principalmente na fria calma com que ele sabe expor seus sequazes e seus adversários ao perigo, mantendo-se a si mesmo a salvo, sem que o pareça, evidentemente.

Bolsonaro, fugitivo, abrigou-se na Flórida! Hoje, em sua volta, quer que seus acólitos se afoguem na prisão, ele que nada soube, nada disse, nada viu! Ao contrário dos partidos políticos cujo duelo é verbal e de papel, e nas eleições se enfrentam, os fascistas são normalmente homens da violência, veteranos de guerras ou policiais, milicianos ativos. Para eles, a política é a continuação da guerra por outros meios.

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O fascismo, como qualquer outro governo totalitário, não surge para corrigir os defeitos da democracia, mas para levar ao paroxismo seus defeitos. Dentre as qualidades da democracia que deseja abolir, podemos invariavelmente listar: a pluralidade de partidos, liberdade de imprensa, liberdade de ensino, liberdade religiosa, organização independente dos trabalhadores, pluralidade de opiniões, razão científica, etc..

Goebbels, um dos mais influentes líderes nazistas: “A massa é um fraco, preguiçoso e vil aglomerado de homens. A massa é matéria amorfa, só por obra de um homem de estado pode tornar-se povo e o povo, nação”.

Foi a preocupação de aproximar-se das massas operárias que levou Hitler a inventar o nome de seu partido de Nacional-Socialismo. Mussolini primeiramente também batizou o seu partido de “Partido Fascista do Trabalho”.


A desordem, húmus do fascismo

Somente ela sistematicamente paralisa a vida da nação e faz brotar a revolta contra as instituições nos homens da rua. Nenhuma vez se viu uma tirania se implantar agitando outra bandeira que não a da “verdadeira liberdade”, expressas hoje por falcatruas, fake-news, narrativas depravadas da realidade. Como de tão comum, a mentira tornou-se vulgar, e os movimentos totalitários são obrigados a levar as mistificações ao extremo. 

Os vencidos da vida, os recalcados, aqueles para quem a existência já não tem sentido e nem valor, são esses os recrutas ideais dos empresários do terror. A política totalitária é para eles um estupefaciente. É claro que o dinheiro não perde nenhum de seus atrativos, mas sua audácia nas lutas de rua depende de algo mais.

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Acontece que setores cada vez mais numerosos do exército, da polícia, da magistratura e da burocracia estatal começa, primeiro em segredo e, depois, abertamente a apoiar o partido fascista. As milícias compostas, preferentemente por policiais e bandidos do narcotráfico, passam a comandar as periferias dos grandes centros.


Os “empresários” do terror fascista

General americano Fuller, descrevendo a ascensão nazista disse: “A nova técnica de guerra baseia-se no princípio do terror, consiste em provocar o terror, em tornar o inimigo completamente louco”. O terror começa quando a luta já não exclua qualquer tipo de violência, quando já não se observam mais nem leis, nem regras e nem costumes.

O terror não tem regras, nem regulamentos e não pretende senão aterrorizar, sendo puro arbítrio. Visa não tanto destruir fisicamente certo número de adversários, como destruir psicologicamente o maior número possível, enlouquecê-los, diminuí-los, amedrontá-los, privá-los de qualquer resíduo de dignidade humana.

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Para as milícias fascistas italianas chegarem ao poder, em 1923, bastava que o Exército se mantivesse “neutro”, frente a um país desarmado, e Mussolini foi nomeado primeiro-ministro pelo rei, e deu-se o título de Duci, o Chefe.

O ditador contemporâneo precisa qualificar seu regime como uma forma superior de democracia, precisamente a verdadeira democracia, a democracia direta, ele que incorpora “o povo”.

O novo ditador saberá apreciar a vantagem de ser declarado Homem da Providência divina e sempre colocará sobre sua cabeça a proteção de um senhor. “Deus acima de tudo”.

Aqui, em nosso Brasil, sabemos todo o apoio que o projeto fascista de Bolsonaro possuía não somente no meio político, como também no empresarial, nas polícias militares e nas FFAA. Muito poucos foram molestados e outros jamais o serão! A esses, os denominados, “os empresários do terror”.

Os democratas devemos ter claro que o fascismo perdeu apenas e tão somente uma batalha, jamais a guerra!

Carlos Russo Jr. | Colunista na Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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