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Benedito Tadeu Cesar*
O título deste artigo reproduz uma frase de autoria de Agripino Maia, senador do DEM e coordenador-geral da campanha de Aécio Neves. Sua frase foi proferida em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no primeiro dia de setembro, e fortemente criticada pela direção do PSDB no dia seguinte.
Sua declaração completa, segundo o mesmo jornal, foi a seguinte: “O sentimento que nos move e nos mantêm unidos – PSDB, DEM e Solidariedade – é garantir a ida de Aécio para o segundo turno. Se não for possível, avalizar a transição para o segundo turno. Ou seja, com uma aliança com Marina Silva, por exemplo. É tudo contra um mal maior, que é o PT”.
Segundo o que foi registrado pela Folha de S. Paulo, a declaração do senador foi um pouco diferente, mas tem o mesmo sentido: “O PSB tem afinidades muito antigas conosco, desde o tempo do Eduardo Campos. O inimigo maior a ser batido é o PT. Tanto pode dar Aécio apoiando a Marina quanto o contrário”.
Emitida por Agripino Maia, a frase e os sentimentos nela contidos não são nenhuma novidade. Foi Agripino quem perguntou a então ministra Dilma Rousseff, na audiência pública da Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal, se ela havia mentido nos interrogatórios a que foi submetida enquanto esteve presa durante a ditadura, tentando, com isso, constrangê-la. O vídeo com o diálogo travado entre Agripino e Dilma define, com clareza, o caráter de ambos.
A declaração de Agripino Maia aos jornais, na condição de coordenador-geral da campanha de Aécio Neves, deixa claro, no entanto, muito mais do que o pensamento e os sentimentos pessoais do senador do DEM. Ele fala em nome de uma campanha e cita explicitamente todos os partidos que integram a coligação de Aécio Neves, revelando qual provavelmente será a postura adotada por eles.
Mesmo que tenha sido enfaticamente negada pelas lideranças tucanas e também por Aécio, a fala de Agripino Maia revela a disposição de cristianizar, ou seja, de abandonar seu candidato, se este for o preço a ser pago para impedir a vitória do PT e de Dilma Rousseff. A fala de Agripino deixa claro, além disso, as afinidades existentes entre o bloco composto pelo DEM e o PSDB e o PSB e Marina. Não por acaso, Marina Silva adotou o ideário peessedebista em seu programa de governo e acena, agora, com a possibilidade de incluir FHC e José Serra ao seu eventual governo.
Criada politicamente no PT, partido no qual começou sua carreira como vereadora em Rio Branco, capital do estado do Acre, que a elegeu senadora e que lhe possibilitou conquistar notoriedade como ministra do Meio Ambiente durante o governo de Lula da Silva, Marina Silva passa a ser vista agora, a julgar pela declaração do senador Agripino Maia, como o instrumento com o qual os antipetistas poderão, finalmente, derrotar o PT e apeá-lo da Presidência da República.
Isto, entretanto, só acontecerá se a candidatura de Marina Silva revelar-se forte o suficiente para enfrentar e superar as inúmeras contradições que a caracterizam e que começam agora a ser expostas pela mídia e por seus adversários. Há quem veja similitudes entre a ascensão meteórica de Marina, nesta eleição, com a rápida progressão de Ciro Gomes, em 2002, que apareceu como “novidade”, chegou a deter 32% das intenções de voto, empatando tecnicamente com Lula, que detinha 35%, e terminou a eleição com apenas 12% dos votos válidos.
Ciro Gomes começou a cair quando passou a demonstrar inconsistência em suas respostas ao participar de entrevistas, como a afirmação de que o lugar que sua esposa da época, a atriz Patrícia Pilar, ocuparia no seu governo seria “na cama” ou a dizer mentiras, rapidamente desmascaradas, como a de que sempre estudara em escolas públicas, entre outras.
Marina Silva voltou atrás em apenas 24 horas sobre a questão dos direitos dos LGBT, afirmando que houve “erro” na redação do seu programa de governo. Titubeou em respostas no debate da SBT/Folha de S. Paulo. Mesmo sem cair nas armadilhas preparadas pelos entrevistadores do Jornal da Globo, tentou fugir de algumas respostas e caiu em contradições, afirmando uma ideia e logo depois a negando.
Resta acompanhar o desenvolvimento da campanha e conferir se a trajetória eleitoral de Marina Silva, nesta eleição, será regular, como a de um astro de primeira grandeza, que se mantém firme no seu rumo, ou será irregular, como a de um meteoro, que passa rapidamente e se perde na imensidão do espaço.
De qualquer forma, uma constatação se mantém clara desde já: nesta eleição, como expressou literalmente o senador Agripino Maia, retirar o PT do governo federal é a grande missão a que se propõe boa parte das forças políticas brasileiras. Para fazê-lo, essas forças não hesitarão em trilhar um caminho tão heterodoxo como o de se aliar a uma candidata que foi criada politicamente no PT e que fez nele a maior parte de sua carreira política.
* Benedito Tadeu Cesar é cientista social e colaborador da Diálogos do Sul
Original publicado no portal Sul21.