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"É um jogo, uma farsa": ex-agente abre o jogo sobre a DEA, a divisão antidrogas dos EUA

"Eu não era o cérebro", acrescenta Jose Irizarry, condenado a 12 anos de prisão após confessar ao FBI envolvimento com cartéis colombianos
Jim Cason
La Jornada
Washington

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A agência federal antinarcóticos DEA em seu combate contra a narco corrupção ao redor do mundo tem enfrentado essa mesma batalha, mas dentro de sua própria casa, com uma série de escândalos internos captando às vezes mais atenção que suas conquistas em sua tarefa de encabeçar a guerra contra as drogas. 

Os aproximadamente 10 mil funcionários do órgão, em 241 escritórios nos Estados Unidos e 93 no estrangeiro, são encarregados de “combater as redes criminosas de droga que trazem dano, violência, overdoses e envenenamento aos Estados Unidos”, e uma parte central disso inclui combater a corrupção, que é parte integral do negócio de drogas ilícitas.

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A DEA realizou anualmente mais de 26 mil prisões nos últimos anos e participou em alguns casos proeminentes como os de El Chapo e García Luna. Mas ainda continua perseguindo outros capos mexicanos que identifica como os mais buscados: El Mayo Zambada e o chefe do cartel Nova Geração, aos quais responsabiliza de serem os principais atores no tema que tem elevado à sua maior prioridade, o fentanil.

No entanto, ao que parece, a DEA teve que enfrentar não só narcotraficantes e políticos suspeitos neste país e ao redor do mundo, mas também escândalos de corrupção e cumplicidade com o narco entre suas próprias fileiras.

Entre os casos mais espetaculares está o do agente estrela Jose Irizarry, que cumpre uma condenação de 12 anos de prisão depois de confessar ao FBI em 2020 que trabalhou com cartéis colombianos para lavar dinheiro e se apropriou de milhões em bens confiscados e de pagamentos a informantes, usando o dinheiro para uma vida internacional de festas, jantares luxuosos e prostitutas.  

Além disso, Irizarry, que agora é conhecido como o agente mais corrupto da DEA na história da agência, acusou que ele não era um caso isolado dentro das filas da organização. Em entrevistas à agência AP, Irizarry afirmou que vários de seus colegas – incluindo dezenas de outros agentes federais, promotores e informantes –, participaram em sua grande festa de corrupção, parte do que chamavam de “Equipe América”, através de três continentes. “Tivemos acesso livre para fazer tudo o que queríamos”, admitiu.

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"Eu não era o cérebro", acrescenta Jose Irizarry, condenado a 12 anos de prisão após confessar ao FBI envolvimento com cartéis colombianos

DEA
Jose Irizarry: "Sabemos que não estamos fazendo diferença. A guerra contra as drogas é um jogo…"




Caso isolado?

Embora o governo federal tenha mantido durante anos que este era um caso isolado e não implicava aos demais na agência, a AP informou no final de 2022 que investigadores do Departamento de Justiça já haviam começado a interrogar até duas dúzias de agentes da DEA e promotores acusados por Irizarry.

“Não queriam acreditar que isto estava ocorrendo”, comentou o ex-agente estrela à AP. Ele assinalou ainda: essa acusação “pinta uma imagem de mim, o agente corrupto que manejou todo esse esquema, mas não fala sobre o resto da DEA. Eu não era o cérebro”. Até o juiz que o sentenciou afirmou diante dos promotores em 2021 que o acusado “é o que foi pego, mas é aparente para esta corte que há outros”.

Irizarry declarou à AP que seus atos corruptos foram resultado de sua percepção de que a guerra às drogas era um tipo de farsa. “Não se pode ganhar uma guerra não ganhável. A DEA sabe disso e os agentes também… Sabemos que não estamos fazendo diferença. A guerra contra as drogas é um jogo… E estávamos jogando um jogo divertido”.


Outros casos 

O chefe regional da DEA no México, Nick Palmeri, se aposentou em 2021, um dia antes de ser despedido, logo após ser revelado que havia se reunido repetidamente com advogados de líderes de cartéis e de usar ilegalmente fundos para seus gastos pessoais, entre outros atos. E só foi no início de 2023 que o Inspetor Geral do Departamento de Justiça informou publicamente as razões pelas quais o diretor regional havia sido retirado de seu posto no México, reportou o Washington Post. O incidente levou um ex-agente da DEA a comentar ao Post: “Não se pode apontar o que há de mau no governo mexicano se sua própria casa está incendiada”. 

Aliás, nos EUA, no ano passado, cerca de sete altos funcionários da DEA foram sujeitos a uma investigação do Inspetor Geral do Departamento de Justiça por possível fraude na outorga de contratos milionários não competitivos e para empregar uma dúzia de pessoas que haviam trabalhado anteriormente com a administradora (diretora) da agência, Anne Milgram.  

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Também estava sob investigação um contrato de 1,4 milhão de dólares a um escritório de advocacia em Washington, contratado por Milgram – e encabeçado por um advogado próximo a uma das amigas mais próximos da diretora – para realizar uma avaliação dos escândalos das operações internacionais da agência; o informe final foi amplamente criticado por suas críticas limitadas à conduta inapropriada de vários agentes. 

Milgram foi nomeada pelo presidente Joe Biden em 2021 para “limpar a casa”, e muito rapidamente provocou conflitos ao impor regras mais firmes para prevenir conduta inapropriada de agentes, incluindo frear atos racistas e sexistas. Foi ela que ordenou a avaliação das operações internacionais, sobretudo depois do escândalo de Irizarry.

Mas ela acabou sendo questionada por quem encarou e contratou para seu trabalho, e suas atividades foram parte de investigações de legisladores como o senador Charles Grassley.

Não ajudou que, em meados de 2024, o segundo no comando da DEA, Louis Millones, tenha renunciado depois que a agência AP revelou que ele havia sido assessor de um empresa farmacêutica sancionada por transportar carregamentos suspeitos de analgésicos e que também havia sido consultor da Purdue Pharma, símbolo da epidemia letal de opioides nos Estados Unidos. Milione havia deixado sua carreira de 21 anos na DEA em 2017 para ir para o setor privado e retornou em 2021 para ser o segundo da administradora Milgram.

A corrupção dentro da agência é um tema delicado e a DEA repete que entre suas prioridades está assegurar a integridade de seu trabalho e assegurar que não haverá impunidade entre suas filas. Essas declarações tiveram que ser repetidas cada vez mais nesses últimos anos. 

Apesar de notícias bastante frequentes de agentes que aceitaram subornos, colaboraram com operações de lavagem de dinheiro, deram informações a narcos ou roubaram bens confiscados. Além disso, os escândalos parecem não ter um maior impacto sobre a agência, que segue com sua missão de combate contra as drogas ilícitas e a corrupção ao redor do mundo, e cujo orçamento segue crescendo – com mais de 2,5 bilhões de dólares no ano fiscal de 2023.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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