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Foto: TapTheForwardAssist

Eclipse democrático nos EUA: logo será tarde para deter o fascismo

Algo obsceno, absurdo e perigoso está lançando uma grande sombra sobre o país; é urgente reagir à ameaça representada pelo trumpismo
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Dizem que o eclipse é uma leve interrupção de toda a ordem normal, onde o dia se transforma em noite – até mesmo alguns animais noturnos saem, outros diurnos se calam, estrelas aparecem em pleno dia, a temperatura cai brevemente – apenas para ser resgatado pouco depois pelo fogo solar e assim tudo volta ao que era, mas diferente pela experiência coletiva de que algo extraordinário aconteceu.

Talvez esse tipo de interrupção no âmbito político e social possa despertar algo diferente neste país, onde a ameaça de algo obsceno, absurdo e perigoso está lançando uma grande sombra sobre os Estados Unidos.

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Aqui, sem rodeios, se desenrola uma obra tragicômica com o potencial de ser um terremoto político devastador com consequências letais dentro e fora do país. Mais uma vez, um empresário e estrela de reality show que enfrenta dezenas de acusações criminais e civis em múltiplos processos, que liderou uma tentativa de golpe de Estado, que estuprou pelo menos uma mulher, além de que pelo menos outras 25 o acusam de abuso sexual, e é um mentiroso e fraudador comprovado, é o candidato presidencial do Partido Republicano, que por enquanto lidera as pesquisas para se reeleger como presidente do país mais poderoso do planeta. Ou seja, o candidato que abertamente fala em ser ditador (por um dia, diz), que promete colocar milhões de imigrantes – a quem acusa de envenenar o sangue do país – em campos de concentração, que ameaça perseguir e reprimir seus críticos e oponentes com toda a força do Estado, poderia ter o botão do apocalipse em suas mãos (dizem que são muito pequenas) novamente.

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Esse homem, que repetidamente se proclama salvador da América, agora está vendendo Bíblias por apenas 59,99 dólares; ele enfatiza que essas são as únicas Bíblias endossadas por ele (vale lembrar que depois que ordenou, quando era presidente, a repressão aos manifestantes em frente à Casa Branca, ele saiu para o parque reconquistado, foi até a igreja ao lado e posou para as câmeras com uma Bíblia em mãos, sem perceber, de cabeça para baixo).

Democracia em perigo

Aqui, o presidente Biden, organizações de defesa dos direitos humanos e civis, analistas e até mesmo vários conservadores tradicionais advertem que a própria democracia está em jogo na próxima eleição. A palavra fascismo voltou ao vocabulário político – até mesmo alguns dos veteranos da Segunda Guerra Mundial ainda vivos declararam que não lutaram contra o fascismo na Europa apenas para vê-lo brotar agora em casa – e não apenas na boca de liberais, mas de republicanos e conservadores tradicionais também.

Se isso for verdade, talvez o mais alarmante até agora seja que isso ainda não provocou uma resposta massiva e feroz. Claro, há iniciativas e protestos – por exemplo, a Marcha das Mulheres, que organizou grandes marchas pelos direitos das mulheres no passado, está convocando uma semana de ação feminista contra o fascismo no final deste mês e em várias partes do país estão sendo realizados fóruns para enfrentar as ameaças fascistas – mas ainda não há um movimento de resistência nacional além de pedir para votar contra Trump e seus aliados. Mas mais uma vez a pergunta está no ar se algo vai acontecer ou não.

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Às vezes, você pode imaginar o que aconteceu naqueles filmes e novelas sobre o surgimento do fascismo europeu, e por que não foi feito mais no início para detê-lo, aquela coisa de as pessoas dizendo que Hitler e Mussolini eram palhaços e que não se deveria exagerar no perigo, até que, de repente, era tarde demais. Essas produções onde os nazistas paravam quem eles suspeitavam de serem não confiáveis com aquela frase arrepiante: seus documentos, por favor. A nova lei anti-imigração do estado do Texas, por enquanto congelada pelos tribunais, é exatamente isso, e tem o apelido de “Lei Me Mostre Seus Documentos”.

Tomara que um eclipse político e social total possa interromper o que está acontecendo aqui dia após dia, e com isso a possibilidade de que outra luz reapareça (ou pelo menos lentes melhores).

Bônus Musical

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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