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Eduardo Campos: Tragédia, perplexidade e redefinição de caminhos

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Benedito Tadeu César*

Benedito Tadeu CésarPerplexidade é a palavra que se repete em todas as bocas e em todas as rodas de conversa e que expressa o sentimento que dominou o país na manhã desta quarta-feira (13). Morreu Eduardo Campos, candidato a Presidente da República pelo PSB, vítima da queda de seu avião de campanha.

A perplexidade precisará ser superada rapidamente.

Muito além do sentimento popular decorrente da perda de Eduardo Campos, perplexidade é a sensação que invade também os meios políticos brasileiros e, principalmente, assoma os partidos que integram a coligação Unidos para o Brasil: PSB, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL e, informalmente, a Rede Sustentabilidade, ainda sem registro no TSE.
Perplexidade que precisará ser superada rapidamente, no entanto, ao menos pelas lideranças dos partidos que integram a coligação eleitoral pela qual Eduardo Campos concorria, visto que a campanha à Presidência da República no rádio e na TV se iniciará em exatos seis dias (19/8) e que em até 10 dias, de acordo com a legislação eleitoral, um(a) novo(a) candidato(a) deve ser registrado(a). Quem substituirá Eduardo Campos na cabeça de chapa? Como ficarão as alianças eleitorais firmadas nacionalmente e em cada estado da federação? Como ficarão os compromissos políticos assumidos até aqui?
Vice na chapa de Eduardo Campos, Maria Silva aparece como a sua substituta natural. Com Marina Silva na cabeça da chapa, aumentaria a possibilidade de ocorrer a soma de intenções de votos buscada com seu ingresso no PSB e sua adesão à candidatura de Campos, mas nunca concretizada. Eduardo Campos vinha mantendo os mesmos 5 ou 6 pontos percentuais que tinha antes da coligação, pois os 8 pontos de Marina Silva não se transferiram para ele. Transferência que talvez comece a acontecer após a tragédia.
As avaliações políticas nem sempre podem ser tão lineares quanto o raciocínio dos cidadãos comuns. Os raciocínios políticos são essencialmente estratégicos. No cálculo de ganhos e perdas, como se comportarão os partidos aliados e, principalmente, como se comportarão as lideranças do PSB? Abrirão mão, os líderes do PSB, do papel de protagonistas que detinham com a candidatura de Eduardo Campos e se conformarão em assumir o papel de coadjuvantes, repetindo o histórico de sua relação com o PT e que foi um dos motivos que os fez se retirarem da base de apoio de Dilma Rousseff e apresentarem o próprio candidato à Presidência da República?

Quem substituirá Eduardo Campos na cabeça de chapa?
Quem substituirá Eduardo Campos na cabeça de chapa?

Muitas das alianças firmadas por Eduardo Campos, além disso, são alianças que dificilmente serão assumidas por Marina Silva. Vejam-se os casos de São Paulo, com o apoio a Geraldo Alckmin, costurado a contragosto de Campos mas assumido por ele, e do Rio de Janeiro, onde o partido de Marina Silva apoia candidato diferente do apoiado por sua própria coligação nacional. Além disso, os compromissos assumidos por Eduardo Campos com o agronegócio dificilmente poderão ser referendados por Marina Silva, sob pena de perder sua identidade política e, com isto, perder também o apoio dos segmentos sociais que se identificam com os movimentos ambientalistas.
Como se refletirá nas diferentes candidaturas estaduais, além de SP e RJ, as modificações programáticas decorrentes de uma eventual troca de Eduardo Campos por Marina Silva? No Rio Grande do Sul, por exemplo, mesmo que José Ivo Sartori possa não ter grandes dificuldades para se compor com Marina Silva, como ficaria o apoio que ele busca conseguir dos setores ligados ao agronegócio, fortes no estado e importantes para dar competitividade à sua candidatura?
Inexiste, entretanto, outro nome no PSB capaz de substituir Eduardo Campos. Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo pelo PT, ex-ministra de Itamar Franco e atualmente deputada federal pelo PSB, apesar de ser razoavelmente conhecida nacionalmente, integra a ala esquerda do PSB e, por este motivo, agregaria à chapa dificuldades ainda maiores do que as eventualmente trazidas por Marina Silva. Beto Albuquerque, deputado federal pelo PSB e candidato a senador pelo RS, amigo e grande articulador nacional da candidatura de Eduardo Campos, se tem a seu favor o fato de que manteria todas as alianças eleitorais, articulações políticas e compromissos assumidos por Eduardo Campos, é quase desconhecido fora do Rio Grande do Sul.
Qualquer que seja o substituto apresentado, a morte de Eduardo Campos e a consequente troca de candidato(a) à Presidência da República pela coligação Unidos para o Brasil provocará abalo no quadro eleitoral. Muito provavelmente, o sucessor de Eduardo Campos receberá, além dos votos dos eleitores anteriormente simpáticos a Campos, também os votos dos eleitores que se sentirão compungidos por sua morte. Número não definível hoje de eleitores tenderá a votar no candidato que substituir Eduardo Campos, aumentando o percentual de votos que ele havia conquistado até aqui.

As avaliações políticas nem sempre podem ser tão lineares quanto o raciocínio dos cidadãos comuns
As avaliações políticas nem sempre podem ser tão lineares quanto o raciocínio dos cidadãos comuns

A parcela de eleitores simpáticos a Marina Silva e que não havia ainda migrado seu voto para Eduardo Campos tenderá a fazê-lo agora e o fará em maior número se ela for a candidata substituta indicada. Resta saber de onde sairão esses votos. Se dos que se declaram hoje indecisos, brancos ou nulos ou seja, daqueles que não têm candidato, ou se sairão dos eleitores de Aécio Neves ou de Dilma Rousseff. Posto que o somatório dos percentuais de intenção voto dos adversários de Dilma é hoje inferior ao percentual que ela detém, se os votos saírem dos sem candidato ou de Dilma, poderão levar a disputa ao segundo turno. Se saírem de Aécio, não alterarão a tendência atual, ou seja, permitirão que a disputa se resolva no primeiro turno, com a provável vitória de Dilma Rousseff, como apontaram as pesquisas eleitorais até aqui.
O grande prejudicado, à primeira vista, pode ser Aécio Neves, que pode ver colocada em risco sua segunda posição na disputa à Presidência da República. No entanto, nada indica, até aqui, que os setores empresarias que o apoiam possam transferir seu apoio para Marina Silva ou para outro eventual candidato que venha a substituir Eduardo Campos. Se não o fizerem, dificilmente qualquer outro candidato terá fôlego para suplantar Aécio Neves. Todo o esforço dos setores empresariais e da grande mídia continuará sendo, como fizeram até aqui, o de levar a disputa ao segundo turno, o que, acreditam, beneficiará Aécio Neves.
* Cientista político e colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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