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Eleição ou farsa nos Estados Unidos?

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

Paulo Cannabrava Filho*

hillaryO povo, nos Estados Unidos, é bastante ingênuo, fruto de muitos anos de alienação e manipulação de sua consciência. De um lado, assumem um fundamentalismo ético religioso, apoiam “guerras santas” contra os demônios da vez, e de outro lado se deixam enganar por uma elite e ajudam a perpetuar o sistema de dominação gerador de crises e de guerras.

Agora mesmo, é impressionante, para não dizer trágico, como se deixam enganar pelo processo eleitoral recém iniciado e que deverá culminar com a eleição de um sucessor para o presidente Barack Obama.
O cenário está montado para mais um espetáculo eleitoral, reafirmação da “maior democracia” do planeta. Impressiona como aqui, entre nós, no Brasil más também praticamente em toda Nossa América, os meios dedicam uma atenção desmedida aos fatos pré eleitorais como se fosse um pleito local, e sem nenhum juízo crítico, não escondem que gostariam que aqui fosse como lá.
Há séculos já que a elite mais rica de Estados Unidos conseguiu montar um sistema implacável de preservação do poder.
Primeira regra: precisa ser bilionário para participar do processo político-eleitoral;
Segunda regra: não basta ser bilionário, tem que ser da turma. Se não for da turma ou se não for escolhido por ela, não tem chance. Pode inclusive ganhar a eleição, mas não se elege, ou melhor, não toma posse. O intrincado processo eleitoral assegura o poder de veto aos não ungidos.
Essa elite das elites é muito bem organizada, conta com cérebros privilegiados e tem um grande poder de sedução e cooptação de inteligências. Conta ademais, com os meios de comunicação e um aparato de controle e repressão social inimaginável.
O Council on Foreign Relations, o CFR, um dos mais conhecidos think tal de Estados Unidos, é tomado aqui como exemplo que ajuda a entender um pouco como funciona a democracia made in USA. O CFR é importante porque tem um caráter permanente e seus membros, todos de muitos bilhões, são os que decidem sobre quem ocupa os principais postos de governo quando não são eles mesmos a ocupar esses postos. São eles que indicam a linha a ser seguida pelo governo de acordo a cada conjuntura nacional e global. São eles os responsáveis pelos grupos de formulação de estratégias para o governo, como por exemplo, Grupo de Santa Fé, Um e Dois, que ditou a lona dos governos nos anos 1990, inclusive as ações realizadas contra os países da América Latina  e Caribe.
O referido Conselho de Relações Exteriores (CRE), desde a década de 1940 (e antes) tem entre seus mais influentes diretores, alguém do clã Rockefeller. A sede desse organismo, não por coincidência, funciona no edifício sede das organizações do clã, o Rockefeller Center, em Nova York. Personagens como Henry Kissinger, Zbgniew Brzezinski, entre outros, compõem a direção. Entra governo, sai governo eles continuam dando as ordens, indicando o caminho.
Esse grupo atua também nos agrupamentos de governança mundial como o Clube Bildeberg ou a Comissão Trilateral, que reúne representantes das mega corporações empresariais e poderosos de Europa, Japão, EUA.
Quando James Carter chegou à Casa Branca, os meios de todo o mundo o apresentavam como um outsider, um salvador da moral histórica abalada pela vergonhosa derrota no Vietnã, os escândalos que levaram à deposição de Richard Nixon. Sua campanha fundada na defesa dos direitos humanos (fora de suas fronteiras), buscava reversão de expectativas inclusive no âmbito externo. Não obstante, Carter não era nenhum adventício, era nada menos que secretario da Comissão Trilateral, ou seja, um subordinado a Rockefeller.
Quando da eleição de Barack Obama, de novo se apresentava uma conjuntura de baixa moral do povo estadunidense depois das mentiras e guerras malucas da família Bush. Um negro candidato enchia o mundo de esperança de que as coisas mudariam. Sim, os métodos precisavam ser substituídos para maquiavelicamente mudar as cosias para que tudo permanecesse no mesmo lugar. Obama, formado na elitista Harvard, também não era um outsider. Ao lado de Obama, na Casa Branca, maquiavelicamente estava Brzezinski para garantir que nada sairia fora dos eixos.
Há que voltar um pouco na história e lembrar que o senador George McGovern, este sim um outsider, jamais conseguiu realizar seu sonho de ser presidente. Eram tempos de guerra e tinha que ser Richard Nixon. Em 2000, Al Gore, que era vice presidente, ganhou a eleição pelos votos populares, mas quem assumiu foi o son of Bush, George W. Bush, disposto a levar a cabo a guerra nas estrelas já aprovada apelos senhores de todas as guerras, todos eles membros do CRF.
Há mais de cem partidos políticos nos Estados Unidos, inclusive um Partido Comunista e um Partido Nazista, um Partido Verte, quatro que se dizem Socialista, um Partido dos Trabalhadores, porém, historicamente, só o Partido Democrata e o Partido Republicano, para inveja das elites latino-americanas, tem condições de realmente disputar o pleito. Tudo se joga com cartas marcadas desde que se fundou a União sob a égide da doutrina do destino manifesto.
Fidel Castro deve estar rindo a toa ao ver um cubano de segunda geração, Marco Rúbio, na disputa para ser candidato pelo Partido Republicano. É realmente divertido pensar em um cubano mandando em Washington. Porém, antes das prévias finais foi vencido pelo senador Ted Cruz com apoio dos evangélicos e da ultra direita. E há também muita gente assustada com a ascensão vertiginosa de Donald Trump, com seu discurso xenófobo, este sim, bilionário porém, não pertencente à elite pensante dominante. Lá como cá, nesses tempos de crise, a crise é também de liderança.
Na atual conjuntura de crise profunda do capitalismo, em que está em cheque a ditadura do capital financeiro, em que se vê um ressurgimento do nazi fascismo, Estados Unidos deve tomar muito cuidado para não perder espaços de sua hegemonia. Essa é a questão. Erros de avaliação podem por em risco essa hegemonia que conquistaram.
Enquanto os meios de comunicação e os militantes partidários se distraem com as praias eleitorais, a verdade é que a decisão já está tomada. Não podem dar-se ao luxo de correr riscos. Essa é a tradição lá.
Quem será o ungido? Perguntem ao CFR.
Não é difícil perceber quem está mais próxima das políticas e interesses do CFR. Hillary Clinton, atual secretaria de Estado, efetivamente atua como quem trabalha para o CRF. Com facilidade ela frustrou as pretensões do senador Bernie Sanders, um “social-democrata” (dizem que de esquerda) e a um judeu de origem polonesa, Jerry Schneider. Que bela imagem para a grande democracia do ocidente, depois de um negro, uma mulher na presidência.
 
 
Nada como uma mulher para falar suavemente softly[1] à sombra dos drones e fortalecer as relações com os países amigos da América Latina, eufemismo para o neocolonialismo revigorado com a ascensão da direita em nossas pragas.
Donald Trump e Hillary Clinton serão os protagonistas dos grandes espetáculos das campanhas e das convenções finais dos partidos Democrata e Republicano. É a sociedade do espetáculo. Hillary será a ungida e Trump sabe qual é o papel que lhe cabe. Talvez ele possa ser uma carta no futuro, como foi o hollywoodiano Ronald Reagan. Porém, terá que ter as qualidades de um Reagan para ser aceito pelos senhores do poder. Sobra-lhe tempo para preparar-se.
*Jornalista editor de Diálogos do Sul
 
[1] Speak softly and carry a big stick, disse Roosevelt ao embaixador enviado para conseguir o Canal do Panamá no início de 1900.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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