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"Ainda há tempo", clamam líderes de esquerda da América Latina em carta a Ciro por renúncia

"Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer o bem", diz ainda o texto que reforça a gravidade e os riscos da atual eleição
Felipe Mendes
Brasil de Fato
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

Enfrentando resistência de setores do próprio partido e lutando contra uma possível corrente pelo “voto útil” a favor de Lula na reta final do primeiro turno da eleição presidencial, o candidato do PDT, Ciro Gomes, teve que lidar com mais um duro golpe em suas pretensões eleitorais para 2022. Líderes de esquerda de diversos países da América Latina assinaram uma carta pública pedindo que ele renuncie à candidatura e anuncie apoio a Lula.

Entre os signatários estão o militante de direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do prêmio Nobel da Paz em 1980o ex-presidente do Equador Rafael Correa

“A eleição no fim não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, e sim entre fascismo e democracia. E você, um homem político inteligente e com ampla experiência nas costas, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar ao segundo turno, menos ainda de garantir uma vitória no primeiro turno”, pontua o documento.

Triste constatação: ao invés de se preocupar com futuro do Brasil, Ciro quer apenas ter razão

Para os signatários da carta, a candidatura de Ciro tira força do bloco antifascista e dá mais espaço para Bolsonaro tentar um golpe de Estado. O texto destaca que Ciro “não está em condições de fazer o bem”, apesar de suas boas intenções, e lembra que as chances dele ganhar a eleição são “iguais a zero”. O grupo, que tem dezenas de signatários, deixou aberta a possibilidade de receber novas adesões por e-mail, no endereço cirorenuncia@gmail.com.

“Ao enfraquecer uma candidatura única de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você efetivamente fará (independente de suas intenções, que sabemos que são boas), será facilitar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder”, diz o texto. “Não temos dúvida de que você seguirá como uma figura protagonista da política brasileira nos próximos anos. Esta não é sua hora, as circunstâncias te obrigam a esperar. Mas não se esqueça que a paciência é um dos traços dos grandes líderes políticos”, conclui.

Leia, a seguir, a íntegra da carta e os nomes de alguns de seus signatários:

"Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer o bem", diz ainda o texto que reforça a gravidade e os riscos da atual eleição

Reprodução Facebook
"Parece-nos que, por sua trajetória, você não deve ingressar na história do Brasil por essa porta indigna"




Carta aberta a Ciro Gomes: o que é preciso fazer para frear Bolsonaro

20 de setembro de 2022

Querido companheiro Ciro Gomes:

Nós, os abaixo assinados, somos militantes da esquerda latino-americana, profundamente anti-imperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Pátria Grande. Somos também pessoas que amamos e admiramos o Brasil e seu povo; a incrível cultura deste país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para chegar a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.

Sabemos que você foi durante toda sua vida um lutador pelas boas causas do povo brasileiro. Por isso a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta fraterna mensagem, porque nos é incompreensível, na conjuntura brasileira atual, sua insistência em manter sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil, neste 2 de outubro, que mesmo sem a menor dose de exagero podem ser consideradas como um divisor de águas histórico. Por que? Porque a eleição no fundo não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inacio “Lula” da Silva e sim entre fascismo e democracia. E você, homem político, inteligente e com uma ampla experiência às suas costas, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar ao segundo turno, menos ainda de impor-se no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, querido companheiro Ciro, a única coisa que fará é dispersar forças, debilitar a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, e facilitar a vitória de Bolsonaro, e eventualmente abrir caminho para um novo golpe de estado. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer o bem, nenhum bem, e sim de fazer um mal muito grande ao Brasil e a seu povo. Não poderá fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são iguais a zero. Ao debilitar a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você objetivamente fará (independentemente de suas intenções que, não duvidamos, são boas) será aplainar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.

Parece-nos que, por sua trajetória, você não deve ingressar na história do Brasil por essa porta indigna, como a de um homem que tendo lutado pelas boas causas de seu povo e logrado importantes resultados, na instância crítica e decisiva para seu país comete um erro gravíssimo e abre as portas a um processo que semeará morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, terá também você como uma de suas vítimas. Não pode desconhecer a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e suas promessas, inclusive as que pode ter feito a você, carecem por completo de valor. Bolsonaro é um personagem imoral, um alucinado fanático, carente de princípios morais que deixou morrer mais de 700.000 brasileiras e brasileiros sem fazer o menor esforço para salvá-los. É, também, um traidor em série, só comparável aos piores personagens de Shakespeare. E não hesitará um instante em traí-lo assim que lhe seja conveniente.

Ainda está em tempo de emendar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se agora mesmo a seus seguidores e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra opção senão apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes este voto, crucial para derrotar em primeiro turno o capitão (assim, com minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltou a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por sua história e suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que semelhante figura monstruosa permaneça um dia mais no Palácio do Planalto. E ainda, por sua idade, não temos dúvida de que continuará sendo uma figura protagônica da política brasileira. Que esta não é a sua vez, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.

Nada mais por ora. Esperamos que saiba apreciar o sentido solidário desta mensagem. Receba um fraternal abraço de seus companheiros de luta de toda a América Latina e do Caribe.

Assinam:

Adolfo Pérez Esquivel, Premio Nobel de la Paz, Argentina
Rafael Correa, ex presidente del Ecuador
Stella Calloni, periodista, Argentina
E. Raúl Zaffaroni, ex Juez de la Corte Suprema, Argentina
Atilio Boron, politólogo, Argentina
Piedad Córdoba, Senadora, Colombia
Amado Boudou, ex vicepresidente de la Argentina
Gabriela Rivadeneira, ex presidenta Asamblea Nacional, Ecuador
Fernando Buen Abad, filósofo, México
Ignacio Ramonet, periodista, Francia/España
Ernesto Villegas, República Bolivariana de Venezuela
Hugo Moldiz, ex ministro, Bolivia
Jaime Lorca, Fundación Memoria y Futuro, Chile
Xavier Lasso, periodista, Ecuador
Katu Arkonada, País Vasco/Bolivia
Jorge Lara Castro, ex canciller, Paraguay
Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colombia
Esteban Silva, docente universitario, Chile
María Seoane, periodista, Argentina
Mempo Giardinelli, escritor, Argentina
Juan Eduardo Romero, diputado PSUV, Asamblea Nacional, Venezuela
Alicia Entel, docente universitaria, Argentina
Gilberto López y Rivas, antropólogo, México
Daniel Jadue, Alcalde de Recoleta, Chile
Telma Luzzani, periodista, Argentina
Florencia Saintout, presidenta, Instituto Cultural de la provincia de Buenos Aires, Argentina
Ramón Grossfogel, docente universitario, Puerto Rico
Mario Giorgi, Radio UNDAV, Argentina
Claudia V. Rocca, Rama Argentina de la Asociación Americana de Juristas
María Fernanda Barretto, escritora colombo-venezolana
Daniel de Santis, docente universitario, Argentina
José Seoane, docente universitario, Argentina
Paola Gallo Peláez, Co-presidenta del MOPASSOL, Argentina
Jorge Cantor, Argentina
Rodolfo Hamawi, docente universitario, Argentina
Emilio Taddei, docente universitario, Argentina
Julio Ferrer, periodista, Argentina
Juan Ramón Quintana Taborga, ex ministro, Bolivia
Andrea V. Vlahusic, Co-presidenta del MOPASSOL, Argentina
Héctor Bernardo, periodista, Argentina
María Fernanda de la Quintana, periodista, Argentina
Jorge Elbaum, docente universitario, Argentina
Carlos López López, Parlamentario del Mercosur
Ana María Ramb, escritora, Argentina
Pamela Dávila, periodista, Ecuador
Rafael Urrejola Ditborn, periodista, Chile
Paula Klachko, docente universitaria, Coord. REDH/Cap. Argentino
Henry Morales, Coord. Movimiento Tzuk Kim Pop, Guatemala
Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina
Carlos Bedoya, Coord. Latindadd, Perú
Alexia Massholder, docente universitaria, Argentina
Claudio Katz, economista, Argentina
Marcelo Rodríguez, docente universitario, Argentina
Mario Alderete, Argentina
Graciela Josevich, AUNA Argentina

Para aderir, envie sua mensagem a: cirorenuncia@gmail.com

Felipe Mendes | Brasil de Fato
Edição: Nicolau Soares
Tradução da carta: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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