A partir desta quinta-feira (6) até domingo (9), acontecem eleições cruciais na União Europeia (UE), nas quais não só serão renovados os 720 assentos do Parlamento Europeu, mas o desafio será frear o avanço da extrema-direita, especialmente na Itália, Hungria, Alemanha, França, Holanda, Finlândia, Espanha e Suécia, onde têm milhões de adeptos.
Em jogo estão o futuro das políticas de integração dos países da UE, seu projeto para combater a mudança climática e seu sistema de segurança e proteção.
A repartição histórica das cadeiras no Parlamento Europeu resultou em dois grandes grupos: os conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) e os social-democratas, muitos deles de tradição socialista.
A maioria das pesquisas prevê que haverá um voto esmagador às forças de extrema-direita disseminadas nos 27 países que compõem o bloco, com discursos similares que se adaptam às especificidades de cada região.
A participação nas eleições europeias costuma rondar 50%, uma porcentagem relativamente inferior à da maioria das eleições nacionais na Europa, em parte graças ao fato de que em alguns países o voto é obrigatório, como na Bélgica, Bulgária e Grécia.
O êxito da extrema-direita nas eleições europeias é um fenômeno crescente há duas décadas.
Desde 2014, o maior partido francês no Parlamento é a Frente Nacional, de Marine Le Pen, rebatizado como Agrupação Nacional (RN), e desde esse ano, até que o Reino Unido abandonou a UE, em 2016, a maior força britânica foi o Partido Independente do Reino Unido, do ultradireitista Nigel Farage.
Os eurodeputados afiliados de extrema-direita representam atualmente 18% do Parlamento Europeu, mas isso sem contar os numerosos eurodeputados extrema-direita não afiliados. A diferença é que este ano, um aumento previsto de 36 assentos adicionais converteria a extrema-direita na chave para a formação de maiorias na próxima legislatura.
A extrema-direita no Parlamento Europeu está dividida em dois grupos: o dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), da primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, e o de Identidade e Democracia (ID), de Le Pen e a Alternativa para Alemanha (AfD). O ECR inclui alguns dos pesos-pesados da extrema-direita europeia: o recentemente destituído partido de governo da Polônia, Lei e Justiça (PiS), os Irmãos de Itália de Meloni, o maior da coalizão italiana, os Democratas Suecos, que apoiam o governo de centro-direita de Estocolmo, o Partido dos Finlandeses, que ficaram em segundo lugar nas eleições do ano passado, o espanhol Vox e o nacionalista flamengo N-VA, o maior partido do parlamento belga.
O grupo menor, Identidade e Democracia, que teve problemas desde que perdeu os eurodeputados do UKIP de Nigel Farage após o Brexit, combina o RN de Le Pen, que se espera voltar a ser o maior partido da França no Parlamento Europeu, e a AfD, que atualmente ocupa o segundo lugar nas pesquisas na Alemanha.
Com este panorama, a maioria dos partidos progressistas está enfatizando a ameaça real de que a extrema-direita altere com suas ideias o projeto de integração comunitária e dinamite alguns de seus planos, como a agenda 2030 para combater a mudança climática ou as alianças de integração econômica com outras regiões, como Mercosul, México, Chile ou Turquia.
Giorgia Meloni, Marine Le Pen e Úrsula Von der Leyen
As eleições do próximo domingo na União Europeia (UE) determinarão o futuro imediato da região, mas há pelo menos três mulheres – duas de extrema-direita e uma da tradição conservadora e liberal clássica – que serão determinantes para o projeto comunitário, com questões como a integração, a política migratória e a segurança no ponto no alvo.
A italiana Giorgia Meloni, a francesa Marine Le Pen e a alemã Úrsula Von der Leyen, atual presidenta da Comissão Europeia (CE), têm em suas mãos uma boa parte do modelo de convivência que está em jogo neste domingo, no qual se augura um avanço implacável das formações de extrema-direita em 18 dos 27 países que vão votar.
O futuro da Europa tem rosto de mulher, mas diferentemente do México, as dirigentes políticas chamadas a marcar o futuro na região defendem – ao menos duas delas – um programa de extrema-direita ou neofascista, enquanto a atual presidenta da CE pertence ao hegemônico grupo do Partido Popular Europeu, da clássica tradição democrata-cristã e liberal. Por isso, muitas atenções estão voltadas para Itália, França e Alemanha, onde estão realizando intensas campanhas para conseguir o maior número de assentos e aumentar ainda mais sua influência política.
Meloni, com sua formação Fratelli Di Italia, se apresenta como cabeça de lista e apresentou estas eleições como um plebiscito à sua gestão no país, à parte do modelo que pretende impulsionar no continente e das alianças com as formações mais ultradireitistas que têm representação parlamentar.
Todas as sondagens auguram que a formação de Meloni será a mais votada e aumentará sua presença no Parlamento Europeu, onde obterá cerca de 23 dos 71 assentos que correspondem à Itália. Além disso, a outra força de extrema-direita, liderada por Mateo Salvini, terá cerca de oito deputados mais, mais os 14 de Forza Italia (que pertence à família do Partido Popular Europeu). Com isso, a direita e extrema-direita somarão 45 dos 71 deputados, segundo as sondagens.
Na França, as pesquisas apontam para um resultado histórico para o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen, que já até exige do presidente Emmanuel Macron que, diante dos resultados, só tem como saída política a dissolução da Assembleia Nacional e a convocatória de eleições.
As pesquisas auguram que a formação de Le Pen será a mais votada, com dez pontos de diferença em relação ao segundo, que se disputará entre o partido de Macron e o Partido Socialista da França, que poderia renascer de um longo período no ostracismo.
Por último, a terceira mulher sob os holofotes é a popular Ursula Von der Leyen, que também aspira a revalidar seu cargo como presidenta da CE e que parte como favorita nas sondagens. O problema é que já anunciou estar disposta a abrir as negociações com o grupo liderado por Meloni, caso seja necessário e em função da repartição de cadeiras a partir do próximo domingo.
As primeiras sondagens à boca de urna realizadas nos Países Baixos, onde na quinta-feira (6) começou o processo eleitoral, confirmam o avanço da extrema-direita de Geerts Wilder, que obteria de uma só vez sete dos 31 assentos que correspondem ao país. Wilders já ganhou nas eleições legislativas de novembro passado com seu Partido da Liberdade e com um discurso contrário à migração.
No mais, no resto dos países, a quinta-feira concluiu oficialmente a campanha eleitoral, de modo que este sábado (8) será um dia de reflexão para as cruciais eleições de domingo.
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