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Eleições em Cuba: um processo democrático com sangue jovem

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

As últimas quatro décadas de história eleitoral em Cuba se caracterizaram por seu estreito vínculo com a juventude. O exemplo mais internacionalizado poderia ser, talvez, a segurança das urnas feita por meninos e adolescentes dos ensinos fundamental e médio.

Por Nicholas Valdés*

Este é um elemento distinto do processo da ilha, que ganha ainda mais significado se for levado em conta que, em nível global, a norma é que as forças policiais ou militares sejam encarregadas de cuidar das urnas com os votos.

No entanto, esse nexo atingiu um novo nível nestas eleições gerais de 11 de março. E é que — pela primeira vez — surge a figura do colaborador do Sistema Eleitoral cubano, responsabilidade que agora é assumida pelos educandos dos ensinos médio e universitário.

A coordenadora dos colaboradores da Comissão Eleitoral Nacional (CEN), Lisandra Esquivel, destacou essa participação ativa dos jovens nas eleições gerais — onde se elegem aos deputados do Parlamento cubano, além dos delegados das Assembleias Provinciais do Poder Popular.

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“No mundo existem personalidades ou instituições internacionais que se ocupam de velar pela legalidade e democratização das eleições. No caso cubano, o fato de essas figuras serem estudantes é muito importante, pois enfatiza a participação desse setor populacional em todos os processos políticos do país”, disse Esquivel à agência Prensa Latina.

Gerardo Hernández, herói da República de Cuba e sua filha Gema | Foto: Juan Moreno

A professora da Faculdade de Direito da Universidade de Havana explicou que na eleição de 2015 foram inseridas, junto com o trabalho próprio da CEN, as figuras dos supervisores e colaboradores. Essa experiência é a que agora permitiu introduzi-los pela vez primeira nas eleições gerais.

No caso específico dos colaboradores, sua função é contribuir com o aperfeiçoamento do sistema eleitoral cubano, ao converter-se em veladores da legalidade em cada uma das etapas, desde a nomeação de candidatos até a seleção da mesa eleitoral em todos os níveis, explica Esquivel.

Este grupo atinge cerca de 17 mil alunos em todo o país; deles, 1026 atuam em Havana.

Esquivel esclareceu que como muitos desses alunos não têm formação jurídica — só os que cursam Direito — foi realizado um programa de capacitação.

A participação dos jovens não só dá um caráter mais democrático ao processo eleitoral cubano, como influi também na própria formação cívica destes estudantes, sublinhou.

Sobre a figura dos supervisores, a especialista declarou que eles sim têm formação jurídica: “São todos graduados em Direito e atuam como professores universitários ou juristas”, argumentou.

Jovem com 16 anos recém completados vota em Havana | Foto: Juan Moreno

Ela pontuou que os supervisores também seguem a cada momento a legalidade do processo como uma espécie de controladores, enquanto os colaboradores servem como meio de retroalimentação para as autoridades da CEN.

Por sua vez, o porta-voz da Comissão Eleitoral Nacional, Gil Ramón González, destacou que “os jovens estão imersos em alguns dos momentos mais significativos da jornada, como a abertura dos colégios eleitorais, a emissão das partes, e o cumprimento da lei, o que é muito importante”,

“É uma experiência enriquecedora para nós”, disse em conversa com a Prensa Latina Néstor Pastrana, colaborador da CEN: “permite-nos colocar em prática todos os conhecimentos que aprendemos na teoria, além de ver como se qualificam as instituições imersas no trâmite jurídico”, explicou o estudante de terceiro ano da Faculdade de Direito da Universidade de Havana.

“Como cidadã cubana, eu conhecia o processo, mas o preparo para servir como colaboradora começou desde a faculdade. Foi uma experiência gratificante já que pude materializar conhecimentos que geralmente só vemos na teoria. Pude, desde um ponto de vista crítico, formar uma opinião a respeito de nosso sistema eleitoral”, disse por sua vez Roxana González, que cursa o segundo ano de Direito.

Os jovens, como parte da cidadania, não permanecem à margem e à espera dos resultados, mas desde a mais tenra idade se inserem no processo; primeiro desde a custódia das urnas, e depois, como veladores de um procedimento sem comparação no mundo.

Prensa Latina, de Havana, especial para o Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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