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Evangélicos, militares e policiais fracassam nas urnas e põem em xeque ultraconservadorismo

Das 45 candidaturas evangélicas na disputa em 21 capitais, nove foram para o segundo turno e apenas três venceram o primeiro
Cida de Oliveira
Rede Brasil Atual
São Paulo (SP)

Tradução:

A expectativa de repetir nas eleições de 2020 a onda ultra conservadora de 2018 motivou evangélicos, militares e policiais a costurar dobradinhas em 45 candidaturas para disputar a prefeitura de 21 capitais brasileiras. O que se viu nesse primeiro turno, no último dia 15, foram candidatos a prefeito evangélicos, usando títulos como “pastor”, pastora”, “missionária” e “apóstolo”, em muitos casos com vices ligados ao Exército e às polícias, usando “capitão”, “coronel” e “delegado” antes de seus nomes. Há também o oposto, em que os evangélicos aparecem como vice. E candidatos que, embora não se declarem oficialmente como evangélicos, têm o apoio dessas igrejas e suas lideranças.  

No entanto, somente três dessas candidaturas saíram vitoriosas no primeiro turno das eleições e nove vão disputar o segundo. As demais obtiveram colocações que vão do terceiro lugar até o último na contagem dos votos. 

Os resultados sugerem o arrefecimento da onda ultraconservadora que não durou dois anos. E mais do que isso, o desgaste, principalmente nas capitais, do discurso antidemocrático que ganhou força com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e culminou com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.

Das 45 candidaturas evangélicas na disputa em 21 capitais, nove foram para o segundo turno e apenas três venceram o primeiro

Reprodução: Twitter
Aproximação de Bolsonaro com igreja evangélica e com militares impulsionou a onda ultra conservadora

Ataques à democracia

Os ataques à democracia seguiam com força nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro e em atos promovidos por bolsonaristas, como os que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). “Mesmo com o Exército ‘batendo cabeça’ e desdenhando da pandemia e da doença junto com governo, a onda antidemocrática prosseguia. Mas veio a derrota de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, com a divulgação das suas atrocidades, seu desdém pela doença, suas vítimas. O impacto foi tão grande que na semana passada tinha militar querendo abafar as falas de Bolsonaro nesse sentido”, disse à RBA o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da Sociologia e Política – Escola de Humanidades (a antiga Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).  

Segundo Ramirez, a força da pandemia, com mais de 166 mil mortos e quase 6 milhões de infectados no Brasil, enfraqueceu as promessas dos pastores neopentecostais em relação à cura da covid-19. E também a confiança no presidente Bolsonaro. Líderes evangélicos aliados ao governo e sua necropolítica, ou com a aliança estremecida, pregaram que Jesus pode curar a doença. Ou passaram a comercializar nas igrejas produtos “consagrados” capazes de derrotar o novo coronavírus.

Democracia é o caminho

“Mesmo com tudo isso, os fiéis viam familiares, parentes e amigos sendo afetados, muitos de maneira grave, com morte. Isso foi levando todo apoio ao colapso. Ficou claro para essas pessoas que a democracia é o caminho, e não a religião”, afirma.

Na avaliação do sociólogo, são grandes as chances de, a exemplo de Trump,  Bolsonaro vir a ser derrotado pela pandemia. O discurso presidencial é descolado da realidade, quando a retomada das restrições já estão sendo consideradas pelos governos estaduais. “O discurso era de que tudo estava sob controle, que havia exageros quanto a medidas preventivas e que era preciso aumentar a flexibilização. Ficou claro que o aumento do contágio é fruto da política de um governo que não se preocupa com a saúde da população. Além disso, Bolsonaro não está vinculado a nenhum partido. Há a possibilidade de quando chegar 2022 não ser aceito em nenhuma legenda”, diz. 

Aprovados em primeiro turno

Palmas – Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita com 46.243 votos (36,24%). Apesar de não ser assumidamente evangélica, criou durante sua gestão um comitê municipal com as lideranças evangélicas da região para consulta de políticas públicas. 

Florianópolis – Gean Loureiro (DEM), eleito no primeiro turno, não é oficialmente evangélico. Seu vice, Topázio Silveira Neto (Republicanos) é um empresário apoiado pela Igreja Universal, mesmo sem ter se declarado evangélico.

Campo Grande – Evangélico, Marquinhos Trad (PSD) foi reeleito. Durante seu governo foi criticado pela gestão pautada em doutrina religiosa. Primo do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, recebeu 218.418 votos (52,58%).

Estão no segundo turno das eleições

Cuiabá – Abílio Junior (Podemos) é neto de líderes da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Mato Grosso, com muita influência na região. Obteve 90.631 votos (33,72%). 

Goiânia – O vice de Maguito Vilela (MDB) é o Pastor Rogério Cruz (Republicanos). A chapa teve 217.194 votos (36,02%). Vai disputar com Vanderlan Cardoso (PSD), que tem Wilder Morais (PSC) como vice. Ambos evangélicos, receberam 148.739 votos (24,67%).

Manaus – David Almeida (Avante) é evangélico. Recebeu 218.929 votos (22,36%). 

Maceió – João Henrique Caldas (PSB) é autor de uma lei estadual que institui o dia 30 de novembro como feriado estadual alusivo ao Dia do Evangélico. Obteve 109.053 votos (28,56%).

Rio de Janeiro – Com 576.825 votos (21,90%), Marcelo Crivella (Republicanos) é da coligação “Com Deus, pela Família e pelo Rio”. 

São Luís – Eduardo Braide (Podemos) recebeu forte apoio das lideranças da Igreja Assembleia de Deus. Ficou em primeiro lugar no primeiro turno, com 193.578 votos (37,81%). Vai disputar o segundo turno com Duarte Junior (Republicanos), que se filiou ao partido do vice-governador do Maranhão Carlos Brandão com o objetivo de herdar os votos evangélicos que elegeram governador e vice. Obteve 113.430 votos (22,15%).


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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