Entrevistado recentemente por uma emissora uruguaia – Rádio Centenário, de Montevidéu – tive que responder uma inquietude: Quando se estabilizará o processo peruano, hoje convulso? Depois de pensar alguns segundos, assegurei que essa “estabilização” não chegaria nos próximos meses.
E depois assegurei que, provavelmente, seria possível despejar certas dúvidas ao calor dos resultados eleitorais de abril, se é que, definitivamente, aconteceriam as eleições previstas para o quarto mês do próximo ano.
E é que, efetivamente, essa é uma das primeiras interrogações a responder no período que se inicia. A direita não mostra qualquer vontade de encarar as próximas eleições, por uma razão muito simples: não foi capaz de construir a unidade elementar que lhe permita encará-la com alguma certeza de vitória.
A direita tem no cenário eleitoral peruano um certo “espaço”, um segmento de votação relativamente estável entre 18% e 20%. Unida a setores de “centro direita” pode cativar quase 50% do eleitorado e alcançar inclusive mais presença quando seu adversário natural – a esquerda política – parece desunida e dispersa.
Assim aconteceu em 2016 quando se deu ao luxo de colocar a cidadania entre uma opção surpreendente: escolher entre duas variantes dela mesma, representados por PPK e Keiko Fujimori. O Paraíso!.
Hoje em dia, as coisas mudaram. É a direita a que aparece dividida e fragmentada até em cinco candidaturas: Keiko, López Aliaga, Hernando de Soto, Cesa Acuña e Francisco Diez Canseco. Todos eles representam, realmente, os mesmos interesses. Mas esse segmento se estende ainda mais com outros candidatos que, sem significar exatamente o mesmo, têm enormes semelhanças com a reação: George Forhsai e Julio Guzmán.
Nesse marco, perfeitamente poderia ocorrer que a direita não ganhe as eleições ou que, inclusive, não seja capaz de chegar ao segundo turno – se este acontecer – com candidato próprio. Cada um dos seus poderia aglutinar 4% ou 5% e em um segundo turno ter que optar – por exemplo – entre a esquerda e alguém como Forshaiy ou Guzmán; e acolher-se assim ao que sempre recomendaram ao povo: o “mal menor”, para eles certamente.
Agência Brasil
A direita tem no cenário eleitoral peruano um certo “espaço”, um segmento de votação relativamente estável entre 18% e 20%.
A esquerda também enfrenta problemas de dispersão. Não foi possível construir a unidade por causa da conduta refratária de certas “cúpulas”, mas as “pessoas de baixo” poderiam fazer o que não quiseram – ou não puderam – seus dirigentes: forjar a unidade polarizando a votação em torno de uma só de seus propostas.
No campo popular, objetivamente, competem Verónica Mendoza, Marco Arana e Pedro Castillo. Acontece, no entanto, que a denominada “Frente Ampla” atravessa uma grave crise de decomposição, e que seu líder ou candidato se somou sem objeções à trupe golpista do passado 9 de novembro, o que a apagou do imaginário popular. Sucessivas renúncias de dirigentes e militantes, realmente terminaram por sepultar as aspirações eleitorais do Presidente da FA.
Pedro Castillo, por sua parte, não teve mais sorte. Com o apoio de uma organização interessante, Peru Livre, e um líder sugestivo – Vladimir Cerrón- não foi capaz de projetar uma opção válida no cenário da recente crise e trocou sua palavra por um arriscado silêncio. Objetivamente, mostrou sua inconsistência e precariedade.
Verónica Mendoza, então, aparece como uma carta real, com possibilidades e perspectiva. E aparece capaz de aglutinar um amplo espectro progressista e democrático. E pode, efetivamente, projetar sobre o cenário peruano uma imagem austera e honrada. Já não é sem tempo!
Mas para que isso seja possível – além de se apresentar a condição descrita – é indispensável que se despejem as ameaças que aparecem na perspectiva. A direita e a Máfia, envilecidas e em derrota, conspiram todos os dias para reverter as coisas. O tema policial continua sendo, neste marco, altamente indicativo. E dá as mãos com o uso dos meios de comunicação a serviço das piores causas.
Alguns dos chefes policiais depostos estão a cada noite nos programas de Willax. Às 8 os entrevista Miagros Leiva; às 9, Beto Ortiz; e às 10, Fhillips Butthers. E em todos os casos, dizem o mesmo. E agora anunciam que se valerão de “recursos de amparo”, para recuperar seus postos. Trata-se de uma crise que é indispensável superar a curto prazo.
A “maioria parlamentar” é outra ferramenta em uso. Derrogou a lei agro exportadora, mas ninguém sabe o que pretenderá estabelecer em troca. Aboliu – em primeira votação–- a imunidade parlamentar, mas ainda falta a segunda, em março.
Teremos que ver como se comporta. Por ora, entre cadeiras se esboça já a ideia de “vagar” à Presidenta do Legislativo. Seria uma maneira de contornar os problemas e mirar ao futuro. No meio tempo, no entanto, se cozinha um “projeto de lei” para “repor” os mandos policiais afetados pelo Governo Sagasti.
E no meio disso, fazer a vida insuportável ao Chefe de Estado, postergando suas iniciativas, propostas ou dispositivos. Uma a uma, elas serão vistas e remiradas por um legislativo que busca cenouras em uma caixa de peras.
A ofensiva reacionária não cessa. E estão intactas, e com poder, as figuras golpistas: Merino fala todos os dia nos meios em sua condição de “ex-presidente”; Alarcón continua sob as ordens da Fiscalização do Congresso; A Chávez vomita biles por todo lado; e Vega Antonio e Chejade seguem na mesma.
A “Grande Imprensa” busca acomodar seu fuzil nesta crise. Então, cuidado! Estar alertas é um dever.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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