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Eleições nos EUA: mais de 50% da população não confia no governo e na justiça do país

Não ajuda que ambos os partidos não conseguiram recuperar a confiança do público, a qual despencou nos últimos 15 anos
David Brooks
La Jornada
São Paulo (SP)

Tradução:

A decomposição do processo democrático estadunidense sob uma ofensiva direitista é o tema central dessa eleição intermediária, e suas consequências. Isso se dá, sobretudo, se o lado mais extremo do Partido Republicano conseguir conquistar as maiorias em ambas as câmaras do Congresso e, nas contendas estaduais, impor o controle sobre postos que controlam o processo eleitoral. O impacto para a próxima eleição, em 2024, pode ser alarmante.

O prognóstico é favorável para os republicanos nas eleições desta terça, 8 de novembro, onde estão em jogo toda a câmara baixa, pouco mais de um terço do Senado, 36 governos e dezenas de postos choves estaduais. Na sexta-feira (4), foi divulgado que o ex-presidente Donald Trump está contemplando anunciar sua candidatura para regressar à Casa Branca pouco depois da eleição intermediária, talvez tão logo como em 14 de novembro.

Na quinta-feira, Trump declarou em um comício em Iowa: “Em ordem para que nosso país seja exitoso, seguro e glorioso, eu muito, muito, muito provavelmente o farei de novo… Preparem-se, isso é o único que lhes direi – logo, logo. Preparam-se”. 

A economia – sobretudo a inflação – o crime, a imigração e a fraude eleitoral são os temas que os republicanos promovem com aparente êxito, junto com uma recusa à legitimidade da eleição presidencial de 2020. 

Não ajuda que ambos os partidos não conseguiram recuperar a confiança do público, a qual despencou nos últimos 15 anos

deckerme – Flickr
Dois terços dos eleitores dizem que o governo trabalha principalmente para beneficiar as elites políticas

Para os democratas, a mensagem foi menos clara, com o presidente Biden e outros líderes enfatizando a luta entre “a democracia” e “a autocracia”, e alguns, sobretudo progressistas como o senador Bernie Sanders, sublinhando os temas que mais afetam os trabalhadores como o emprego, apoios econômicos durante a pandemia que reduziram a pobreza, entre outros, e advertindo que a agenda republicana buscará reduzir o gasto público em serviços sociais e no programa de Seguridade Social. 

São os temas econômicos os que costumam determinar eleições, e a percepção popular nas pesquisas é que a economia não está funcionando para eles, citando sobretudo a inflação. 

Mas o debate já não é só sobre temas e propostas políticas, mas cada vez mais sobre o futuro da democracia estadunidense, como reportou La Jornada. De fato, uma maioria de estadunidenses expressam preocupação pela violência política, com quase 9 de cada 10 (88%) opinando que as divisões se intensificaram no país a tal grau que há um crescente risco de violência, segundo uma pesquisa do Washington Post/ABC News difundida nesta sexta-feira.

Aparentemente há razão em se preocupar, já que o FBI e outras agências federais emitiram um alerta na semana passada sobre uma crescente probabilidade de violência de extremistas domésticos nos 90 dias depois da eleição.

“Depois das eleições intermediárias de 2022, percepções de fraude relacionadas com a eleição e insatisfação com os resultados eleitorais provavelmente resultaram em elevadas ameaças de violência contra uma ampla gama de alvos, como opositores ideológicos e trabalhadores eleitorais”, afirma o memorando oficial, reportado pelo Washington Post.

Não ajuda que ambos os partidos não conseguiram recuperar a confiança do público no governo, a qual despencou nos últimos 15 anos, segundo pesquisas da Gallup. A maioria dos estadunidenses continua opinando que o governo federal não é efetivo em melhorar a vida do povo. A confiança no poder executivo é de 43% – só três pontos sobre seu nível mais baixo durante o escândalo de Watergate nos anos 1970.

O nível de confiança no poder legislativo é ainda menor, só 38% (embora isso seja uma melhoria), e pela primeira vez na história da pesquisa sobre este tema, o poder judicial só tem um nível de confiança, de 47%. A Gallup assinala que os três poderes gozavam da confiança da maioria recentemente tanto quanto em 2005, e quando este tema foi sondado pela primeira vez pelo órgão em 1972, período em que mais de dois terços do eleitorado expressava confiança no governo federal.  

Uma maioria dos estadunidenses expressa pessimismo no futuro da política em seu país e dois terços dos eleitores dizem que o governo trabalha principalmente para beneficiar as elites políticas. No entanto, de acordo com sondagens da Gallup e do Pew Research Center, também há expressões marcadas de apoio e aprovação ao papel que desempenha o governo federal em diversas questões para melhorar, apoiar e defender os interesses e necessidades das maiorias – ou seja, as maiorias não são “antigoverno” e favorecem a negociação política e não a polarização, para que o governo cumpra com seus compromissos.

É neste contexto que se realizam estas eleições intermediárias, onde a estratégia de uma ampla gama de republicanos leais a Trump é continuar minando a confiança pública na integridade do sistema político, incluindo o processo eleitoral.

“Se você tem 30 anos de idade ou menos e não vota em seu distrito e age para que todos os que conhece votem… é quase inimaginável contemplar quão brutal pode se tornar a vida para vocês ao longo da próxima década se não frearmos o fascismo”, escreveu o ator e ativista John Cusack em um tuite.

David Brooks | Especial para o La Jornada, direto de Nova York.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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