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Eleições Venezuelanas: uma encruzilhada para o Foro de São Paulo

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

<<Humberto Marquez*>>

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O Foro de São Paulo, que reúne a partidos de esquerda da América Latina e do Caribe, considera crucial para seu futuro e para poder “conter a direita” na região que o presidente provisório da Venezuela, Nicolás Maduro, seja ratificado no cargo nas eleições de 14 de abril.

Maduro, novo líder do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), e Henrique Capriles, candidato da colorida coalisão opositora Mesa de Unidad Democrática, disputarão nas urnas o mandado presidencial de seis anos para o qual o falecido Hugo Chávez (1954-2013) havia sido reeleito em outubro.

“Para o Foro, as eleições na Venezuela são fundamentais, porque uma eventual derrota (do chavismo) significaria um retrocesso no processo de integração”, disse o historiador Valter Pomar, secretario executivo do Foro e dirigente do governante Partido dos Trabalhadores.

“Não é a economia brasileira ou argentina a que se veria afetada se ocorresse essa derrota – que não ocorrerá – sim toda a economia latino-americana, afetando especialmente os países mais débeis ou atrasados do ponto de vista industrial”, disse.

Partidos integrantes do Foro, criado em 1990 em São Paulo, por iniciativa do PT, então na oposição, atualmente governam na Bolívia, Brasil, Cuba, Dominica, Equador, El Salvador, Nicarágua, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

Vários desses estados se reúnem no pacto integracionista Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América –ALBA- e são beneficiários do programa venezuelano de cooperação petroleira e financeira conhecido como Petrocaribe.

O Foro reivindica que a primeira eleição de Chávez como presidente da Venezuela, em dezembro de 1998, marcou o início da ascensão ao governo de vários dos partidos filiados na região e desde então não perderam eleições onde haviam conquistado.

Essa contabilidade exclui o Partido Socialista do Chile, porque perdeu o governo em 2010, para o conservador Sebastián Piñera, como um integrante mais da centro-esquerda Concertación de Partidos pela Democracia, formada em 1990, muito antes do ciclo de triunfo assinalado.

O Grupo de Trabalho do Foro, com 38 delegados de 27 partidos procedentes de 18 países, reuniu-se no dia 1o de abril em Caracas para homenagear a Chávez e manifestar apoio a Maduro. “É um excelente apoio, que representa os movimentos populares da América Latina e Caribe que Venezuela é estratégica e que a vitória de Nicolás Maduro é também a vitória dos povos”, asseverou o anfitrião Rodrigo Cabezas, dirigente do PSUV e deputado ao Parlamento Latino-americano.

Maduro, por sua vez, afirmou que “este é o momento de maior expansão das lutas pela nova independência de América Latina ante a hegemonia e dominação imperial estadunidense. O caminho para esta nova fase está apenas começando”.

O governante e candidato, ao visitar o mausoléu de Chávez junto com os delegados do Foro, fez “um especial reconhecimento a Revolução Cubana, como antecedente deste processo latino-americano e caribenho”. “Fincou a primeira estaca, libertou o primeiro território e gerou a dinâmica de resistir, lutar e vencer”, afirmou.

“Sim, estamos preocupados com que a direita está armando um operativo internacional, não só operativos nacionais para nos golpear. Há um processo de contraofensiva da direita na região, como se viu em Honduras e Paraguai, neste último um caso de golpe parlamentar”, disse Pomar.

“Vemos uma situação de equilíbrio. A direita não consegue golpear-nos nos principais países em que governamos, mas tampouco conseguimos sacá-los, como por exemplo no México. Este equilíbrio relativo não vai durar para sempre”, opinou.

Segundo o dirigente do PT, “o que pode favorecer-nos é acelerar as mudanças em cada país e aprofundar a integração, tema fundamental, porque para muitos píses da região não há como avançar nos processos de mudanças isoladamente. Por isso a eleição presidencial na Venezuela é essencial”.

Assim é a ponto de que o Foro deixou em segundo plano as eleições presidenciais do Paraguai, onde a esquerda participa sem maiores possibilidades diante dos candidatos favoritos dos tradicionais partidos Colorado e Liberal.

A reunião do Grupo de Trabalho do Foro também passou em revista brevemente outros temas da atualidade internacional, em particular pelas ameaças à paz global derivadas dos conflitos na península de Coréia, na Síria e o desenvolvimento nuclear do Irã.

Embora o grupo tenha acordado alertar sobre a provocação estadunidense na península coreana, houve vozes que reclamaram da conduta da Coréia do Norte por “facilitar a provocação” atribuída a Washington.

No debate sobre Coréia se ventilou a tese de que esse conflito aviva o protagonismo estadunidense na região do Pacífico Asiático em detrimento de China e seus sócios no grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) de potencias emergentes.

No terreno regional se considerou que a situação mais urgente é a negociação de paz que tem como cenário La Habana, entre as insurgentes Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia e o governo desse país, do conservador Juan Manuel Santos, considerado o primeiro beneficiário político do processo.

Como em quase todas as reuniões do Foro, os independentistas porto-riquenhos, esta vez representados por Héctor Pesquera, do Movimento Nacional Hostosiano, colocaram a necessidade de não afrouxar a luta contra os rasgos de colonialismo na América e pediram que se exija, por razões humanitárias, a liberdade do patriota Oscar López Rivera, há 32 anos peso em cárceres nos Estados Unidos.

*IPS de Caracas para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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