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Ao insistir em adiar eleições, Trump dá sinais de que não aceitará derrota para Biden

Presidente não tem autoridade para mudar a data de uma eleição e sua sugestão foi imediatamente rechaçada pelos líderes legislativos de seu próprio partido
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Com uma pandemia que não consegue controlar e cujo inepto manejo levou a mais de 157 mil mortes, e uma queda econômica sem precedente desde a Grande Depressão, Donald Trump sugeriu postergar uma eleição que por ora está perdendo. 

Não surpreendeu – muitos já tinham prognosticado que ele o faria – mas ao mesmo tempo assombrou sua audácia de propor algo sem precedentes. Em um tuíte Trump insistiu em sua afirmação sem sustentação de que o uso generalizado de cédulas por correio (mecanismo que será usado amplamente por causa da pandemia) levará à “eleição mais imprecisa e fraudulenta da história. Será uma grande vergonha para EUA” e com isso sugeriu “adiar a eleição até que as pessoas possam votar de maneira apropriada e segura?”

Em sua entrevista coletiva supostamente dedicada ao tema do coronavírus, o presidente se recusou a retroceder apesar do fato de que não tem autoridade para mudar a data de uma eleição e que sua sugestão havia sido imediatamente rechaçada pelos líderes legislativos de seu próprio partido.

Uma vez mais insistiu em que o uso do mecanismo do voto através de cédulas enviadas por correio não está sujeito a nenhum controle e levariam a uma fraude. “Não quero ver uma eleição torta”, insistiu, agregando que se for usado o voto pelo correio “esta seria a eleição mais manipulada na história”.

Pouco antes, o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, como sua contraparte na câmara baixa, Kevin McCarthy, haviam declarado que nunca na história do país se adiou uma eleição federal e asseguraram que a eleição programada para 3 de novembro será realizada.

Presidente não tem autoridade para mudar a data de uma eleição e sua sugestão foi imediatamente rechaçada pelos líderes legislativos de seu próprio partido

Montagem br.news / Reprodução
Nas últimas semanas as pesquisas registram uma contínua queda na aprovação de Trump e um incremento na margem de vantagem de seu oponente

O que diz a Constituição

Enquanto isso, os democratas ressaltaram que esta proposta só reflete o desespero de um presidente que está em graves apuros. A presidenta da câmara baixa, a democrata mais poderosa de Washington, Nancy Pelosi, respondeu enviando por tuíte apenas uma cópia do trecho da Constituição que estabelece que é o Congresso que determina a data para a eleição federal.

Críticos do presidente suspeitavam que ele desejava desviar a atenção pública de notícias que estão contribuindo para afundar suas perspectivas de reeleição, assinalando que enviou o tuíte incendiário minutos depois da apresentação de dados oficiais registrando a pior baixa jamais ocorrida da atividade econômica em um trimestre.

De fato, outros críticos ressaltaram que o objetivo real do presidente é continuar com sua estratégia de semear dúvidas sobre a legitimidade da eleição para depois questionar os resultados. 

Durante as últimas semanas – com as pesquisas demonstrando uma contínua deterioração em sua aprovação e um incremento na margem de vantagem de seu opositor democrata Joe Biden – Trump tem repetido que as próximas eleições prometem ser as mais fraudulentas, algo que também disse na eleição de 2016.  

Legisladores, especialistas em lei eleitoral e jornalistas disseram de imediato que o presidente não tem a autoridade para mudar a data a eleição, que é estabelecida por uma lei federal que dita que a eleição nacional será realizada na primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira em novembro, algo que tem permanecido assim desde 1845. Portanto, só o Congresso poderia modificar a lei.  

Mais ainda, a Constituição estabelece que o período presidencial do presidente termina com o início do período de um novo presidente em 20 de janeiro depois da eleição. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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