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"O que estás ocultando?": Biden desafia Trump a tornar pública suas informações fiscais

Ninguém ganhou ou perdeu – não houve nada explosivo que pudesse mudar uma contenda na qual mais de 40 milhões já votaram de maneira antecipada
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

No último espetáculo político diante de um público nacional antes da eleição geral de 3 de novembro, o presidente republicano Donald Trump e seu opositor democrata Joe Biden buscaram a forma de entreter e buscar o voto dos já poucos indecisos, em um evento para ver quem cometia mais erros ou quem conseguia o gol retórico. 

Ninguém ganhou ou perdeu – não houve nada explosivo que pudesse mudar uma contenda na qual mais de 40 milhões já votaram de maneira antecipada e onde as pesquisas se mantiveram fixas durante o último mês. Biden tem uma vantagem de 10 a 11 pontos percentuais no nível nacional, embora com margens mais estreitas, nos estados considerados chaves no mapa eleitoral. 

Neste segundo e último debate (um foi cancelado quando Trump se recusou a participar virtualmente) transmitido ao vivo nacionalmente a dezenas de milhões de telespectadores a partir da Universidade Belmont em Nashville, Tennessee, os disputantes debateram por 90 minutos sobre temas do manejo da pandemia, “segurança nacional”, imigração, saúde, mudança climática e outros, enquanto também trocaram golpes ensaiados sobre quem é o mais corrupto.

Talvez o que tenha chamado mais atenção foi que Trump se portou mais ou menos bem, em comparação ao primeiro debate, quando interrompeu de maneira incessante a Biden (entre 71 e 128 vezes, dependendo de quem contava) e que foi qualificado como o pior debate jamais visto. 

Com uma solitária moderadora, Kristen Welker da NBC News, os dois candidatos ofereceram um debate que no geral abordou os temas mais substantivos e, embora Trump obviamente tenha novamente conquistado o troféu do concurso de afirmações enganosas ou distorcidas, não faltaram trocas de insultos pessoais, sobretudo sobre corrupção.

Trump repetiu suas acusações sobre a forma como o filho de Biden, Hunter, e dois de seus irmãos, se tornaram ricos usando o prestígio do pai, que anteriormente ocupou os cargos de vice-presidente e senador.

“Vives muito bem, tens casas por todas partes”, afirmou Trump, acrescentando que “tu (Biden) tomas dinheiro de Wall Street, eu não”, e que o democrata também tem recebido dinheiro da Rússia, concluindo que “eu nunca aceitei dinheiro da Rússia… ninguém foi mais firme com a Rússia que eu”. 

Biden negou que tenha recebido dinheiro de qualquer país e acusou Trump por ganhar dinheiro com seus negócios com a China, a Rússia e outros e o desafiou, de novo, a tornar público suas informações fiscais, como ele fez durante os últimos 22 anos. “O que estás ocultando?” repetiu o democrata.

Ninguém ganhou ou perdeu – não houve nada explosivo que pudesse mudar uma contenda na qual mais de 40 milhões já votaram de maneira antecipada

Google Fotos
O opositor democrata Joe Biden e o atual presidente republicano Donald Trump

Pandemia

O debate começou com o tema do manejo da pandemia. Trump se auto elogiou como sempre, afirmou falsamente que o vírus “está se desvanecendo” e “estamos por dar a volta à esquina” – algo que repete desde que explodiu a pandemia no início do ano. Acusou como sempre que o vírus “veio da China”. E acrescentou que “estamos aprendendo a viver” com a pandemia. “Não temos alternativa”.

Biden atacou o manejo desastroso da pandemia – o lado político mais vulnerável de Trump -, recordando que ainda agora há “milhares de mortos a cada dia” e que já foram registradas mais de 225 mil mortes resultantes da “incompetência” do presidente e de seu governo e “que quem foi o responsável por tal situação não deve permanecer em seu posto”. 

Imigração, crianças enjauladas, dreamers e indocumentados

A moderadora perguntou sobre a notícia da semana: que registra que 545 crianças imigrantes separadas de suas famílias ainda não foram reunidas com seus pais.

Trump argumentou que muitas crianças imigrantes chegam sozinhas e são transportadas por “coiotes” e “quadrilhas”, que quando detidas foram alojadas em locais que apresentam melhores condições das que conheciam em seus países. “Estamos trabalhando muito duro”, agregou, “para reunificar estas famílias”, o que é falso. Finalmente, também acusou que Barack Obama e seu vice-presidente Biden foram aqueles que “construíram as jaulas para os menores de idade”. 

Biden sustentou que essas crianças não chegaram sozinhas, mas que foram separadas de seus pais, algo que “viola todas as normas” e que agora não podem encontrar seus pais, ressaltando que tal comportamento “é criminoso, criminoso”. Prometeu que se for eleito, de imediato reativará as proteções contra a deportação dos dreamers e em seus primeiros 100 dias na Casa Branca terá uma proposta para oferecer um caminho à legalização para os 11 milhões de indocumentados. 

Racismo

Ao abordar o tema do racismo, Trump repetiu sua famosa frase de que “ninguém fez mais pela comunidade negra que Donald Trump, com a possível exceção de Abraham Lincoln”. Se não fosse suficiente, declarou: “sou a pessoa menos racista nesta sala”. 

Biden retrucou afirmando que Trump “é um dos presidentes mais racistas em nossa história… chamou de violadores os mexicanos, deportou muçulmanos por serem muçulmanos…”, etc, etc, etc.

Mudança climática

Também abordaram o tema da mudança climática, com Trump afirmando que “amo o meio ambiente” e afirmando que os EUA tem o ar e a água mais puros do planeta, mas que se deve defender a indústria de hidrocarbonetos, e afirmou que Biden na verdade está a serviço da esquerda como o senador Bernie Sanders, a deputada Alexandra Ocasio-Cortez e suas colegas (todas mulheres de cor).  

Biden sustentou que não é dessa esquerda, ressaltando que derrotou esses candidatos, mas que propõe promover uma economia sustentável e com isso contribuir para combater a mudança climática. 

Retóricas

Trump buscou regressar a 2016 e apresentar-se como um candidato anti sistema e “externo” ao mundo político, apesar de ter sido presidente durante quatro anos. “Não sou um político típico, assim é como fui eleito”, afirmou. Repetiu o que talvez seja o ataque mais agudo e efetivo da sua campanha contra o ex-vice-presidente ao reiterar que Biden tem sido político durante 47 anos e não resolveu nada. “É tudo discurso e nada de ação com esses políticos”, declarou. 

Ambos abusaram das frases retóricas que repetem incessantemente em seus atos e discursos. Trump advertindo que se Biden for eleito “a bolsa de valores despencará” acarretando uma depressão, e que como presidente está levando o país “pelo caminho do êxito”. 

Biden repetiu que “o caráter do país está sobre a cédula” e que com ele como presidente “será privilegiada a ciência sobre a ficção, a esperança sobre o temor” e serão restabelecidos os conceitos de “decência, honra, respeito e dignidade” que não existiram durante a atual presidência. 

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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