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Direita peruana fascista usará anticomunismo para atingir Castillo e manter população aterrorizada

A voz do homem peruano nos exige que nos mantenhamos vivos para perseverar em uma luta que se nutre do sangue dos assassinados, da lembrança dos desaparecidos, do martírio dos torturados
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

“No fim da batalha,
e morto o combatente, veio a ele um homem
e lhe disse: “não morras, te amo tanto!”
César Vallejo

Não poderíamos dizer que estamos “no fim da batalha”. Esta luta culminará – neste período – em 6 de junho, quando sejamos capazes de derrotar a variante nipônica do “modelo” neonazista que quer se impor, do modo como o fizera na última década do século passado, e que pretendia reeditar com uma maioria fictícia no parlamento dissolvido no fim de setembro de 2018. 

De toda maneira, como no poema de Vallejo, aqui também e até nós chegou a voz do homem peruano que exige que nos mantenhamos vivos para perseverar em uma luta que se nutre do sangue dos assassinados, da lembrança dos desaparecidos, do martírio dos torturados, do sacrifício dos encarcerados, do grito das mulheres esterilizadas; vale dizer, da memória viva que alimenta o coração e a consciência dos peruanos. 

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A direita em nosso país tem diversos porta-vozes. Um deles tem dito muito claramente que se bem é certo que a vertente laranja possui uma “pesada mochila” de opróbrio e vilezas, o professor Castillo terá contra ele uma ferramenta mais poderosa: o anticomunismo, que tem sido alimentado em todos os países, e no nosso também, para manter aterrorizada e escravizada a população.

Virão os comunistas e tomarão seus filhos, expropriarão suas misérias, privarão você do direito a pensar, arrebatarão seu fogão e até as xícaras da prateleira, impedirão você de sair e conversar com seus amigos, manterão você preso atrás de um muro de silêncio. 

Mas, além do mais, virão para ficar – agrega Alfo M. desde seu cômodo refúgio em Madrid, donde compartilha ares com o ínclito juiz Hinostroza Pariachi, também protegido pela Keiko.

E para confirmar tudo isso farão montagens de fotos, e mostrarão uma de Pedro Castillo não montado em um cavalo, mas sim em um carro bomba. 

A voz do homem peruano nos exige que nos mantenhamos vivos para perseverar em uma luta que se nutre do sangue dos assassinados, da lembrança dos desaparecidos, do martírio dos torturados

Sputnik News
O professor Castillo terá contra ele uma ferramenta mais poderosa: o anticomunismo

Nos dirão que descobriram agendas que confirmam que Castillo era o encarregado de fazer as atas do Comitê Central do Sendero e que redigia as proclamações de Abimael. Nos dirão também que com Castillo, Elena Iparraguirre, será a “Primeira-Dama” no Palácio de Governo. 

E encontrarão quem acredite nisso porque aí estarão desde Milagros Leiva até Rossana Cueva, passando por Phillis Butters, José Barba, Guillermo Thorndike e Rafael Rey, repetindo manhã, tarde e noite as mesmas “primícias”. 

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Mas seria maravilhoso que desta vez o povo lhes diga: Basta! Essas monumentais mentiras não enganam mais. É preciso chamar as coisas pelo seu nome e falar do que realmente interessa aos peruanos: a fome, a miséria, as doenças, a educação e o trabalho. 

E demonstrar como a classe dominante liderada pelo Keikismo nos últimos vinte anos, e antes pelo pai, espoliou o país e roubou tudo, até mimetizar-se com uma oligarquia envilecida e em derrota. Keiko Fujimori, com pose angelical, assegura que ela “não aterrorizará” o professor Castillo. 

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Para isso têm seus Pitbull que nos dirão que o Peru vai naufragar, que ficará sem crédito, sem recursos e sem dólares por culpa de uma “política extremista”; e que melhor era a outra, sem oxigênio, sem leitos de UTI, sem hospitais e sem escolas. 

A partir do anticomunismo se pode esquecer que o melhor poeta peruano – César Vallejo- foi comunista; que o mais ilustre pensador do século XX, José Carlos Mariátegui, também foi. E que foram no mundo homens e mulheres do valor de Henri Barbusse, Pablo Picasso, Nazim Hikmet, Paul Valéry, Dolores Ibarruri, os esposos Curie, Pablo Neruda e Saramago.

Com seus nomes na memória, alguém poderia dizer que as ideias do socialismo são sinônimo de atraso ou selvageria, que o socialismo implica ignorância e atraso espiritual?.

Em contraste, cabe evocar os anticomunistas: Adolfo Hitler, Al Capone. Lucky Luciano, Francisco Franco, Jorge Rafael Videla, Augusto Pinochet, Alberto Fujimori.

Nos anos 50 do século passado, o presidente da Guatemala, Juan José Arévalo, escreveu um livro que hoje tem plena atualidade: “El antikomunismo en América Latina”. Nele se burlava das raivas imperiais que buscam difamar as legítimas aspirações dos povos de nosso continente.

Por isso, premonitoriamente, escrevia a palavra “K”, que poderia ser o símbolo eleitoral de Keiko em nosso tempo. O “K” permitia incorporar todos os males da terra às demandas legítimas das populações. 

Hoje se difama Cuba, mas a Pátria de Martí tem a melhor educação da América Latina, confirmada pela UNESCO; a melhor política de saúde de nosso continente, como confirma a OMS; os melhores programas de emprego, como reconhece a OIT. 

E agora tem o que nenhum país do continente tem: suas próprias vacinas para enfrentar a Covid-19. E contra ela dizem “não queremos ser como Cuba”. Perguntaram aos cubanos se eles gostariam de ser como o Peru, com suas misérias e seus mortos?

Em nosso tempo, o anticomunismo nada mais é que um trapo que serve para encobrir vilezas. Em sua sombra só pode se esconder a escória da sociedade que busca impor, a qualquer preço, o fascismo redivivo. Não podemos deixá-lo passar!

Gustavo Espinoza M. , Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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