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Em 1900, 7 impérios invadiram a China para massacrar um povo que lutava por liberdade

Quase impossível aliança entre todos os imperialismos de então se deu contra um povo explorado, mas que lutou até o fim
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul
Florianópolis (SC)

Tradução:

A China até 1899 era uma peneira aberta a todos os Impérios do planeta. Por exemplo, os japoneses dedicavam-se ao comércio de escravas sexuais, os ingleses, ao comércio do ópio produzido na Índia, os franceses e os ingleses trocavam bugigangas por seda e porcelanas de enorme valor no ocidente.

Por seu lado, o Imperador e a Corte chinesas preferiam permitir que a intervenção imperialista sugasse todos os esforços de um povo escravizado e exaurisse o país, que reagir aos invasores.

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Então surgiu uma sociedade secreta, conhecida como “A Sociedade dos Punhos Harmoniosos e Justiceiros”, para lutar contra os imperialistas. Organizaram-se e mesmo armados apenas com os punhos e pedaços de madeira, posteriormente armas aprendidas dos invasores, iniciaram a revolta que ficou conhecida como a “Guerra dos Boxers”. O conflito durou dois anos.

Os boxers realizaram ações armadas como cortar linhas telegráficas, destruir ferrovias e perseguir os já conhecidos missionários cristãos, sempre agentes da exploração em “nome do Nazareno”. Apesar de a organização ser pequena, os participantes dessa revolta atacavam tudo aquilo que poderia representar a dominação dos ocidentais em seu país.

Miguel Urbano Rodrigues | Lenin e o imperialismo

As nações imperialistas, então, pela primeira vez na História organizaram um exército com mando unificado para repressão aos boxers.

Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, França, Japão, Itália e Rússia enviaram navios e soldados para tomar a cidade de Pequim, o principal foco dos conflitos. A invasão estrangeira – ocorrida no final de maio de 1900 – foi respondida com um ataque suicida dos boxers à pista de corrida dos cavalos estrangeiros e levou ao isolamento do bairro das Embaixadas.

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Entre os meses de julho e agosto, as tropas estrangeiras lutaram contra os boxers e os membros do exército imperial que apoiavam o levante.

Após sufocarem a revolta, as nações imperialistas fizeram uma série de exigências em troca da preservação dos territórios e do Imperador e sua Corte: o governo chinês se viu obrigado a pagar uma pesada indenização em ouro e liberar novos portos às embarcações estrangeiras. Além disso, os imperialistas impuseram a sua autoridade na capital do país e proibiram os chineses de importarem armamentos.

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Quase impossível aliança entre todos os imperialismos de então se deu contra um povo explorado, mas que lutou até o fim

Wikipédia
“Ao chegarem, que fique claro: não haverá perdão, não haverá prisioneiros”, disse o imperador alemão Guilherme II antes da partida à China




Uma narrativa de Gunter Grass, inserida em “Meu século”*

O imperador alemão Guilherme II, no embarque de tropas para a China, assim se dirigiu a elas:

“Ao chegarem, que fique claro: não haverá perdão, não haverá prisioneiros”. Contou então a história do rei Átila e suas hordas de hunos. Teceu elogios aos bárbaros hunos, apesar da devastação e matanças promovidas no século V, com a destruição do império romano.

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Ao final gritou: “Abram o caminho para a cultura.”

E narra Grass. E assim aconteceu. Não se fizeram prisioneiros. Os boxers que se renderam foram todos ou fuzilados ou decapitados na Praça da Paz Celestial.

Elias Jabbour: “A China não pode ser colocada numa caixinha ideológica”

Mais de mil boxers rendidos e massacrados. Amarrados pelos rabichos de seus cabelos, os condenados imploravam para que a metralha Match dos americanos e os fuzis dos alemães os abatessem, ao invés da facas afiadas dos japoneses.

O século XX foi inaugurado com muito sangue chinês derramado pela quase impossível aliança de todos os imperialismos contra um povo explorado!

* Ref.: Grass, G. Meu século. Ed. Record.

Carlos Russo Junior | Colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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