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Em busca da aprovação, Biden distorce atuação dos EUA no conflito Rússia-Ucrânia

Em discurso oficial, mandatário descreveu situação como "grande disputa entre democracia e autocracia" e colocou russos no papel de inimigos da liberdade
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Joe Biden ofereceu hoje seu primeiro informe à nação em uma sessão conjunta do Congresso no qual ressaltou suas conquistas principais incluindo um auge econômico, o controle da pandemia, restabelecer os fundamentos do sistema democrático e promover uma reforma migratória, e apelar pela unidade estadunidense, tudo em uma tentativa de responder a um mistério político: apesar de seus êxitos, alguns sem precedentes, não consegue capturar a aprovação de seu povo.

Começou com o tema de uma grande disputa entre a democracia e a autocracia no mundo, e outra vez, com saudades da guerra fria, colocando os russos no papel de inimigos da liberdade, proclamando que “na batalha entre a democracia e a autocracia, as democracias estão enfrentando o momento e o mundo está claramente escolhendo o lado da paz e da segurança”. 

Em um Capitólio com elevados níveis de segurança diante de ameaças de agrupamentos direitistas, que não foram cumpridas, e há apenas pouco mais de ano que esse edifício emblemático de Washington foi submetido a um assalto violento, sem precedentes, para descarrilar a eleição deste presidente, Biden tentou projetar uma imagem de um Estados Unidos em recuperação econômica e política dentro e fora do país. 

Em discurso oficial, mandatário descreveu situação como "grande disputa entre democracia e autocracia" e colocou russos no papel de inimigos da liberdade

Casa Branca
Biden iniciou seu informe apresentando os Estados Unidos como líder mundial relevante afirmando que “a diplomacia estadunidense importa”

Ucrânia

Aproveitando que a Ucrânia se tornou de repente no tema do momento, Biden iniciou seu informe apresentando os Estados Unidos como líder mundial relevante afirmando que “a diplomacia estadunidense importa”.  

Acusou que “a guerra de (Vladimir) Putin foi premeditada e não provocada” (algo que disputam muitos veteranos da diplomacia estadunidense) e que o russo rechaçou os esforços diplomáticos. “Pensou que o ocidente e a OTAN não responderiam, e pensava que nos podia dividir aqui em casa. Putin estava equivocado. Estávamos prontos”.

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Reiterou que, portanto, Putin “pagará um preço” por sua invasão, afirmando que “quando os ditadores não pegam um preço por sua agressão, causam mais caos”, anunciou uma iniciativa para combater os “oligarcas e líderes corruptos” russos e uma proibição aérea à aviação russa, entre outras sanções econômicas e medidas de castigo. 

Entre os convidados do presidente que se sentam tradicionalmente em um palco com a primeira-dama, estava a embaixadora da Ucrânia em Washington, que recebeu uma longa ovação.

Líder das forças do bem 

Depois de usar a Rússia para proclamar Estados Unidos como líder das forças do bem, o informe de Biden foi enfocado em sua agenda nacional e limitou suas referências do âmbito internacional só a umas menções de esforços nas Américas sobre Migração, e China como competidor econômico e o mundo em torno a pandemia. 

“Nos reunimos nesta noite em um Estados Unidos que viveu através de dois dos anos mais difíceis que essa nação jamais tenha enfrentado”, afirmou. Celebrou as iniciativas econômicas para resgatar o país da crise gerada pela pandemia que geraram 6,5 milhões de novos empregos em 2021, mais que em qualquer ano na história do país, e uma taxa de crescimento de 5,7 por cento – a maior em quase 40 anos. 

Nesse contexto, reiterou que depois de quatro décadas se abandona o consenso neoliberal (sem usar essa palavra) que disse que gerou a brecha mais ampla entre os mais ricos e quase todos os demais em quase um século. Em seu lugar, afirmou, a nova “visão” econômica é “construir a economia de baixo para cima… não de cima para baixo”. Apelou também a que os mais ricos paguem os impostos que lhes correspondem. 

Biden celebrou os investimentos públicos em infraestrutura e em programas sociais de saúde, educação e a promoção de medidas para enfrentar as consequências da crise climática e promover “a justiça ecológica”, instando o Congresso a continuar aprovando mais.

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Embora tenha ressaltado uma das maiores recuperações econômicas na história do país, Biden também foi obrigado a abordar o tema da inflação, oferecendo um estratégia para combatê-la reduzindo os custos de produção em lugar de reduzir salários, com maiores investimentos na infraestrutura e na manufatura doméstica. 

Em torno à pandemia, celebrou que depois de dois anos, “a Covid-19 já não necessita controlar nossas vidas” e que o país está à ponto de retornar a “rotinas normais”, ressaltando que 75 por cento dos adultos do país estão vacinados, as hospitalizações reduzidos em 77 por cento, e com isso, a maioria dos estadunidenses agora podem começar a deixar as máscaras, regressar aos seus lugares de trabalho e permanecer nas classes.

Migração, armas e votos

Abordou o tema da migração uma vez mais combinando o apelo por uma reforma do sistema migratório com o assunto da segurança fronteiriça. Ressaltou esforços como “patrulhas conjuntas” com o México e a Guatemala para pegar mais traficantes humanos, e acordos com “sócios” na América Central e América do Sul para que alberguem mais refugiados e “assegurem” suas fronteiras.

O mesmo tempo, pode-se proceder a reformar o sistema migratório inclusivo outorgar uma via à cidadania para os “dreamers”, os trabalhadores rurais e outros trabalhadores “essenciais”, facilitar que as empresas possam contratar a mão de obra que necessitam e reduzir os prazos para a reunificação de famílias. Não ofereceu uma proposta nova, nem detalhou como pensa conseguir estes objetivos. 

Abordando o tema do controle de armas de fogo, apelou ao Congresso a aprovar medidas que reduzir a violência com balas, entre elas “anula o escudo” contra a responsabilidade que faz com que os fabricantes de armas sejam única indústria em Estados Unidos que não possam ser demandadas. Esse “escudo” é justamente o que estão empregando os armeiros em sua defesa contra a demanda interposta pelo México em um tribunal em Massachusetts.

Também abordou a defesa do direito ao voto, o qual disse que estava “sob assalto” neste país, denunciando que são promovidas leis em vários estados não só para suprimi-lo. Mas para “subverter eleições inteiras”. Não podemos permitir que isto aconteça”, afirmou e pediu a aprovação de vários projetos de lei para defender a reforma do sufrágio efetivo.

Instou o Congresso a aprovar reformas trabalhistas para facilitar a sindicalização e elevar o salário-mínimo a 15 dólares por hora.

Todos estarão observando se este relatório ajuda a reverter a tendência negativa de aprovação de Biden, que começou a noite com uma taxa de aprovação média de 40.6 por cento -um colapso de 15 pontos ao longo de seu primeiro ano. 70% do público acredita que o país está indo na direção errada, de acordo com a pesquisa mais recente da AP/NORC.

David Brooks, correspondente.
Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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