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Foto: Força Aérea Brasileira / Flickr

Em carta, entidades internacionais pedem apoio de Celac e Brics pelo fim das intervenções no Haiti

Grupos denunciam ações do Ocidente e defendem que líderes políticos haitianos assumam o controle do destino no país
Guilherme Ribeiro

Tradução:

Uma carta assinada por 13 entidades haitianas e internacionais pede a ajuda da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e do grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) para dar fim ao imperialismo no Haiti.

“Nós […] entendemos que nossos líderes políticos têm a capacidade científica para governar, para trazer bem-estar ao povo e a capacidade de explorar os recursos naturais que temos”, diz trecho da carta, em referência às reiteradas intervenções estrangeiras no país.

A declaração, publicada pelo grupo Salvar o Haiti em 24 de abril, denuncia as violações perpetradas pelo Ocidente e defende que os líderes políticos haitianos assumam o controle do destino do país.

Militar dos EUA questiona agressivamente um haitiano em 1º de outubro de 1994 (Foto: Arquivo Nacional dos EUA)

O texto começa apontando que o sistema capitalista instalou um grupo de terroristas no Haiti para piorar a atual crise humanitária: “seu objetivo é destruir esta nação completamente […] sequestram, matam, saqueiam, estupram, roubam as pessoas, como querem”, afirmam.

O assédio, ressaltam, não é de hoje: remonta a 220 anos, a partir da vitória dos haitianos contra colonos franceses, em 18 de novembro de 1803. Desde então, o país tem sido alvo de chantagens, saques e invasões, com o auxílio da vizinha República Dominicana:

“Os imperialistas nos ocuparam em 1994 sob o pretexto da democracia para destruir o Exército haitiano”, recordam. 

As ações desse mesmo imperialismo foram responsáveis por deixar o Haiti mais pobre, impedindo o desenvolvimento da nação e implementando programas de deslocamento forçado. Por isso, é preciso acabar com a influência de grupos como a Comunidade do Caribe (Caricom), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU): 

“Desembarcaram com seus Exércitos sem que estivéssemos em guerra com vocês […] porque são descarados e sem caráter, se escondem atrás de uma democracia criminosa para destruir as crianças do país. Deem uma olhada em si mesmos e vão embora, JÁ CHEGA”.

A seguir, confira o texto na íntegra:

DECLARAÇÃO DE RESGATE DO HAITI

Dutty Boukman, nossos ancestrais, Jean Jacques Dessalines, o Grande Mestre do país, a juventude do país, povo haitiano em geral,

A Organização Política Salvar o Haiti se solidariza com muitas outras organizações políticas e sociais no Haiti e no exterior que assinaram esta declaração, reunidas no Comitê Popular Soberano para Salvar o Haiti para tomar nas mãos o destino de nosso país.

Todos sabemos que o sistema capitalista imperialista colocou um pequeno grupo de terroristas para capturar o povo. Seu objetivo é destruir esta nação completamente. Eles têm os nomes de todo tipo de bandidos: gangues de gravatas, gangues de sapatos.

Esses terroristas sequestram, matam, saqueiam, estupram, roubam as pessoas, como querem. Se tivéssemos que citar os atos criminosos cometidos na capital, não nos deteríamos, como: Torcelle, Centro, Martissant, Croix-des-Bouquets, até mesmo em cidades provinciais onde as pessoas não podem se deslocar para ver suas famílias.

Jovens de nosso país, deixem-nos contar como o país chegou até aqui: o Ocidente não queria nos considerar como pessoas e ainda não quer. Em 18 de novembro de 1803, nossos antepassados derrotaram o maior exército de colonos. Quebramos as correntes da escravidão e criamos uma nação livre. A REVOLUÇÃO que trouxe felicidade a todos, e proclamou a liberdade em todo o mundo.

Em 1825, esses mesmos ocidentais nos obrigaram a pagar um resgate, sob o pretexto de reconhecer nossa Independência. Em 1915, os governantes ocidentais invadiram o país para se apoderar de todas as nossas reservas de ouro do Banco Central. Desde então, o país tem sido completamente dividido entre habitantes das cidades e forasteiros, sob o pretexto de modernizar nossa administração pública. Os imperialistas nos ocuparam em 1994 sob o pretexto da democracia para destruir o exército haitiano.

É a Revolução Haitiana que deu origem ao socialismo no mundo. Mas isso não os impede de querer respeitar os direitos de nossos idosos. Eles querem tomar o país e nos destruir um por um.

Lembro-lhes que sempre usam a República Dominicana para executar seus planos horrendos. Essas ações imperialistas são possíveis porque 85% dos membros da elite do país se tornaram agentes duplos para fazer o trabalho sujo do imperialismo e destruir seu próprio país. Os últimos 30 anos foram praticamente a restauração daqueles que têm a autoridade do poder político em suas mãos.

Nós, em Salvar o Haiti, e a coalizão de todos os partidos políticos que assinam esta declaração, entendemos que nossos líderes políticos devem ter a capacidade científica para governar, para trazer bem-estar ao povo e a capacidade de explorar os recursos naturais que temos.

Hoje, muitos estudos científicos mostram que a maioria dos haitianos está ficando mais pobre. O imperialismo impede o desenvolvimento da ciência em casa, prefere implementar programas de deslocamento forçado para que os jovens deixem o país, em vez de nos ajudar a ter ciência e tecnologia para desenvolver em casa.

Não à política neoliberal, ao imperialismo! Não à interferência estrangeira! Não a qualquer ocupação! Não a oligarquia corrupta! Não a todos os políticos apátridas que querem vender nosso país. O povo haitiano não precisa do KòGroup, nem da Caricom, nem da OEA, nem da ONU para encontrar uma solução para o problema que nos tem moído há 220 anos. Não precisamos de doenças importadas, nem de estratégias sindicais de gangues, nem de guerras civis, nem de tráfico de armas e munições.

Vocês clamam pelo mundo todo que o Haiti é o país mais pobre, enquanto brigam por ele, não querem deixá-lo em paz, construíram lá a maior embaixada, desembarcaram com seus exércitos sem que estivéssemos em guerra com vocês, sem que vocês nos chamem, porque são descarados e sem caráter, se escondem atrás de uma democracia criminosa para destruir as crianças do país. Deem uma olhada em si mesmos e vão embora, JÁ CHEGA.

Não à decisão da Caricom que dá à serpente 7 cabeças e 2 chifres para derrubar o país, para continuar compartilhando-o às costas do povo haitiano. A democracia rouba o que não precisamos!

O povo haitiano revoga este criminoso sistema capitalista imperialista para substituí-lo por um sistema socialista nos ideais do pai da nação, iluminado que conhece o valor das pessoas e o valor da vida.

A valente luta para SALVAR O HAITI está pedindo a solidariedade da Celac e dos Brics para levar internacionalmente as vozes do sofrimento do povo haitiano e fazer entrar em razão as organizações criminosas imperialistas.

Para concluir, enviamos um convite a todos os partidos políticos e organizações sociais que abraçam a causa da juventude, da diáspora, que se inscrevem nos ideais do pai da nação, Jan Jacques Desalin, para salvar o Haiti. A ambição sopra em todas as montanhas, o sino toca nas encruzilhadas da resistência, pedimos a todos os valentes haitianos que SE LEVANTEM PARA SALVAR O HAITI.

1 – Retorno aos ideais do pai da pátria: liberdade e bem-estar para todos;

2 – O compromisso dos jovens em um Plano Nacional para Salvar o Haiti;

3 – Nesse contexto: recorremos a um juiz de cassação para processar Tayebanda, que apoia a universidade para levar a ciência e o guardião da bandeira, e o exército e o BSAP, para garantir a segurança em todos os lugares.

Viva um Haiti Livre! Viva o socialismo! Viva o próprio Haiti!

Estruturas políticas e sociais que assinam esta declaração:

1- Organización Política Salvar Haití (OPSA)

2- Movimiento de la Unión Republicana (MUR)

3- Movimiento de Resistencia para una Revolución Haitiana (MORRH)

4- Organización Útil para la Población y la Reestructuración de Haití (OUPAREH)

5- Partido Republicano Nacional (PNR)

6- Demócrata Cristiana Social Haitiana (CDSH)

7- Asociación de Plantadores Haitianos (APH)

8- Oficina Nacional de Estudiantes Haitianos (BURNEH)

9- Partido Popular Soberano (KPS)

10- Haití es nuestro

11- Mujer del futuro (FA)

12- Plan de Apoyo e Integración Social (PAIS)

13- Plataforma Política Independiente Pueblo-Para (PPIMP)

Porto Príncipe, 24 de abril de 2024


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Guilherme Ribeiro Jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul.

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