Pesquisar
Pesquisar

Em defesa da vida, povos de terreiro lançam manifesto: “Fora Bolsonaro e Mourão”

Religiões de matriz africana somam-se aos movimentos populares na defesa da democracia e pelo impeachment do presidente, e anulação da chapa Jair/Mourão
Marina Duarte de Souza
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

Ao som dos atabaques do Ilê Abassá de Ogum, que entoaram o toque de Xangô, orixá que representa a justiça nas religiões de matriz africana, lideranças dos povos de terreiro lançaram nesta quarta-feira (17), um manifesto pelo “Fora Bolsonaro e Mourão”. O movimento soma-se a mobilização que vem crescendo desde o começo da pandemia em defesa da vida e da democracia.

O documento é assinado por mais de mil entidades do movimento negro, comunidades de terreiros e lideranças religiosas e denuncia o recorrentes discursos de ódio e racistas do capitão da reserva e a ausência de políticas sanitárias em plena pandemia causada pelo vírus da covid-19 pelo governo Bolsonaro. De acordo com o manifesto, é justamente a população negra e pobre do país a mais vulnerável diante da crise.

As entidades também denunciam a conivência com assassinatos de jovens negros e periféricos, e os ataques constantes à cultura e à religião, inclusive, pelo atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.

APOIE A DIÁLOGOS

“Nós de tradição de matriz Africana, macumbeiras/os de esquerda, temos a obrigação de nos posicionarmos em relação ao caos político, econômico, ético e moral instalado em nosso país. Não podemos mais nos calar diante das agressões promovidas por um Presidente movido pelo ódio e desejo de morte”, diz o texto, que considera que o “Fora Bolsonaro e Mourão é o único meio de nos proteger para continuarmos avançando em busca de uma sociedade sem racismo”.

Religiões de matriz africana somam-se aos movimentos populares na defesa da democracia e pelo impeachment do presidente, e anulação da chapa Jair/Mourão

Foto: Amanda Oliveira/GOVBA
"FORA BOLSONARO E MOURÃO é o único meio de nos proteger para continuarmos avançando em busca de uma sociedade sem racismo", afirma manifesto

Manifesto foi lançado pelas redes do MST

O manifesto foi lançado transmissão ao vivo pelas redes sociais do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) e contou com um debate sobre a atual conjuntura e os impactos na vida, na religião e na cultura da população negra brasileira.

RECEBA NOSSO BOLETIM

“Não podemos nos silenciar agora, que é um dos momentos mais trágicos que vivemos na história de nosso país. Um país que foi edificado com o sangue dos nossos ancestrais e dos povos indígenas, por isso chamamos esse encontro e construímos esse manifesto”, disse a coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), Makota Celinha, uma das organizadoras da ação.

Entre os participantes registramos as presenças de Val Santos, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Nilma Lino, pedagoga e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sônia Guajajara da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e João Pedro Stedile da direção nacional do MST.

Depois da leitura do manifesto por Nilma Limo, a liderança indígena Sônia Guajajara denunciou que já são mais de 300 indígenas mortos pelo novo coronavírus e 5 mil infectados, segundo o levantamento da Abip. Segundo ela, a causa das mortes não é só a doença, mas a política do governo Bolsonaro que desempara a população, o sistema capitalista e o racismo estrutural.

“Não é somente por causa do vírus que estão morrendo milhares de pessoas aqui no Brasil, nós estamos morrendo por causa dessa necropolítica, então nós precisamos juntos fortalecer todas as lutas e vozes coletivas que nesse momento se expressam pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Nós precisamos também romper com tantas outras situações crônicas como o modelo econômico atual, totalmente opressor predatório e centralizador”, declarou Sônia.

“Faz todo o sentido o povo de terreiro, nesse momento, se juntar aos povos indígenas, ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e juntos a gente fortalecer os nossos modos de vida, os nossos modos de produção por mais justiça e por mais liberdade, e que nunca mais nenhum tambor seja silenciado, nenhum indígena seja queimado e que todos os nossos ecossistemas sejam preservados.”

A pedagoga e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilma Lino, também endossou a articulação das lutas emancipatórias do povo negro, indígena e camponês a partir da “dor que os une” para o que deve ser uma defesa de uma “democracia radial”. Durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), ela foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, extinta pelo governo Bolsonaro.

“Uma democracia radical é aquela que é anticapitalista, antirracista, antipatriarcal, antilgbtfóbica, antineoliberal e anti-fascista, nós temos que nós unificar e esse manifesto eu acho que o que ele anuncia é a ideia de que a gente pode ser unir numa democracia radial, derrubando aqueles que desde que assumiram tem negado a própria democracia que nós construímos”, expressou Nilma.

A análise da crise capitalista, que produziu a crise ambiental e sanitária da pandemia do novo coronavírus, ficou a cargo de João Pedro Stedile, que falou em nome do MST e da Frente Brasil Popular, que também puxa a mobilização “Fora Bolsonaro” e soma-se agora ao movimento dos povos de terreiro, que segundo ele, “ensinou a cuidar da natureza”.

Para os movimentos populares, que compõe a frente, a saída é pela porta da classe trabalhadora e da maioria do povo, que está também expressa no manifesto. Esta porta é um projeto pós-capitalista, que começa com a derrubada do governo.

“Um projeto que estabeleça a igualdade entre todos os brasileiros, que vivem do seu trabalho. Para nós debatermos e construirmos esse projeto pós-crise, como está sinalizado no manifesto, que vocês estão lançando hoje, o primeiro passo é trocar o governo. Portanto, Fora Bolsonaro é uma condição de sobrevivência do povo brasileiro, se nós não derrubarmos esse governo nós podemos chegar a 100 mil mortos”, reiterou Stedile.

A resistência a este “governo da morte”, foi puxada pela jornalista e coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), Makota Celinha, que celebrou também um ano do 1º Encontro das Religiões de Matriz Africana em Belo Horizonte, Minas Gerais.

“Cabe a cada um de nós da tradição de matriz africana, iluminados pelos nossos ancestrais construir um cenário imediatamente que nos impulsione a ir mais longe. Pra mim esse cenário é o da luta contra esse necrogoverno, pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Nós precisamos construir esse amalgama das pessoas de bem, porque o silêncio dos bons nós levaram a morte. Nós precisamos tocar esses tambores e acabe e rompa essa esfera de morte que nós estamos nesse momento. Nossa identidade ancestral é o que nos unificará nesse momento”, convocou ela.

O manifesto segue aberto para assinaturas e participação, depois se transformará em um pedido de impeachment do presidente entregue ao Congresso Nacional. Já existem mais de 28 processos de impedimento acumulados no legislativo.

Leia a íntegra do manifesto neste link.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Marina Duarte de Souza

LEIA tAMBÉM

Trump, passado e futuro do inferno que vivem as pessoas trans nos Estados Unidos
Embora minoria, população trans vira grande alvo da cruzada reacionária de Trump
Abuso sexual e recrutamento forçado violência rouba infâncias no Haiti
Abuso sexual e recrutamento forçado: violência rouba infâncias no Haiti
Jornalista brasileiro denuncia perseguição por agentes da Ucrânia no Brasil
Jornalista brasileiro denuncia perseguição por agentes da Ucrânia no Brasil
Crianças migrantes exploradas nos EUA entenda como Biden facilitou abusos e tráfico infantil (1)
Crianças migrantes exploradas nos EUA: entenda como Biden facilitou abusos e tráfico infantil