No início da Cúpula de Ação Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), a jovem sueca Greta Thunberg, voz e cara do movimento juvenil mundial para resgatar o futuro do planeta, perguntou aos chefes de Estado, executivos empresariais e representantes da ordem internacional reunidos aí: Como se atrevem?
Convidada para dizer algumas palavras na reunião, Thunberg com suas usuais eloquência e simplicidade, mas desta vez com olhos momentaneamente cheios de lágrimas de ira, e um olhar, e tom expressando a grande indignação de sua geração ante o delito dos líderes políticos e econômicos mundiais representados aqui, declarou que “as gerações do futuro… estaremos observando-os”.
Começou dizendo: “Isto está tudo mal. Eu não deveria estar aqui. Deveria estar de volta à escola do outro lado do oceano. Mesmo assim, os senhores acodem a nós, os jovens, pela esperança. Como se atrevem?
E continuou: “Roubaram minha infância e meus sonhos com suas palavras ocas, e ainda assim sou uma das afortunadas. Há gente que está sofrendo, gente que está morrendo, ecossistemas completos estão colapsando. Estamos no início de uma extinção em massa. E tudo o que podem falar é de dinheiro e contos de fadas sobre crescimento econômico eterno. Como se atrevem?
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"Há gente que está sofrendo, gente que está morrendo, ecossistemas completos estão colapsando"
Alguns, nesse momento se viram obrigados a aplaudir, outros não sabiam exatamente o que fazer. Afinal de contas ela os estava apontando em público, diante do mundo, ao vivo.
“Por mais de 30 anos a ciência tem sido tão clara como o cristal. Como se atrevem a continuar a ignorá-la e chegar aqui dizendo que estão fazendo o suficiente quando a política e as soluções que se necessitam ainda não estão à vista?”
“Dizem que nos escutam e que entendem a urgência. Mas não importa o tanto que eu esteja triste e zangada, não quero acreditar nisso. Porque se de verdade entendessem a situação e mesmo assim continuassem fracassando em agir, então seriam malvados e isso eu me recuso a acreditar”, declarou olhando o público com olhos ferozes.
Abordando o argumento científico, explicou que “a ideia popular de reduzir à metade nossas emissões só nos dá 50% de possibilidade de permanecer abaixo de 1,5 graus diante do risco de detonar reações em cadeia irreversíveis, além do controle humano. 50% poderia ser aceitável para os senhores, mas esses números não incluem pontos de inflexão, circuitos de retroalimentação e aquecimento adicional ocultos por contaminação tóxica ambiental, nem os aspectos de equidade e justiça climática. Também dependem de que a minha geração chupe do ar centenas de milhares de toneladas do CO2 dos senhores com tecnologias que mal existem. Então, um risco de 50% simplesmente não é aceitável para nós, os que temos que viver com as consequências”.
Abundou sobre outros cálculos e prognósticos emitidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC – https://www.ipcc.ch) indicando que são requeridas metas e medidas mais ambiciosas e mais rápidas do que se pensava antes, já que limites receitados sobre emissões de CO2 serão superados em apenas 8 anos e meio. Diante desse consenso científico, perguntou de novo: “Como se atrevem pretender que isto possa ser solucionado com o business as usual e algumas soluções técnicas?”
Prognosticou que nesta reunião “não haverá nenhuma solução nem planos alinhados com estas cifras apresentadas aqui neste dia, porque estes números são demasiado incômodos e os senhores ainda não são suficientemente maduros para dizer as coisas tal como são”.
Advertiu aos distintos presentes na cúpula mundial que “estão fracassando. Mas os jovens estão começando a entender a traição dos senhores. Os olhos de todas as gerações futuras estão sobre os senhores. E se optam por fracassar, digo que nós jamais os perdoaremos. Não permitiremos que façam o que querem. Aqui e agora é onde colocamos um limite”.
Concluiu: “O mundo está despertando. Uma mudança está chegando, lhes agrade ou não”.
*David Brooks, Correspondente de La Jornada, Nova York.
**Tradução: Beatriz Cannabrava
***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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