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Em entrevista, médico cubano fala sobre combate ao coronavírus: “só Deus pelo Brasil”

Abelardo Fabre Pérez desabafa: “se tivéssemos como sair daqui para outros países, estaríamos presentes, já que aqui não nos querem"
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul
Franco da Rocha

Tradução:

Ao contrário do que aconteceu no Brasil, ontem (22) a Itália recebeu com aplausos uma brigada com 52 profissionais de saúde cubanos, entre médicos e enfermeiros, que desembarcaram em Milão, para ajudar no combate do coronavírus, que já matou mais de 16 mil pessoas no mundo. 

Para tratar do assunto, a TV Diálogos do Sul entrevistou o médico Abelardo Fabre Pérez, que veio ao Brasil para participar do programa Mais Médicos, criado pela ex-presidenta Dilma Rousseff em 2013. 

Fabre lamentou o fato de não poder exercer sua profissão no Brasil – no começo de 2019 Cuba encerrou o convênio com o país, após declarações ofensivas pela parte de Jair Bolsonaro –  e compartilhou sua visão pessimista sobre a pandemia em em território brasileiro: “não há médicos suficientes para colocar em lugares em que mais se precisa.”

Abelardo Fabre Pérez desabafa: “se tivéssemos como sair daqui para outros países, estaríamos presentes, já que aqui não nos querem"

Fotos Públicas
A TV Diálogos do Sul entrevistou o médico Abelardo Fabre Pérez, que veio ao Brasil para participar do programa Mais Médicos.

“Eu me questiono, como é possível um médico com 30 anos de trabalho, parado aqui no Brasil sem fazer nada”, diz Fabre, que defende a necessidade do uso da “atenção primária” no combate ao covid-19, um acompanhamento básico constante, capaz de identificar os sintomas iniciais da doença e, principalmente, na população de baixa renda. 

Para o médico, o “ministro [da Saúde] Luiz Henrique Mandetta é a única pessoa nesse governo que falou que é positivo ter a atenção primária, a única pessoa realmente preocupada com isso”, mas não é suficiente, observa.

Questionado sobre nossas condições para enfrentar o coronavírus e evitar a morte da população de baixa renda, o médico foi sucinto: “na minha opinião, só Deus, porque o Brasil não está preparado para essa pandemia, porque as pessoas não tem a mínima [condição] de higiene aqui no Brasil”.

“Grande parte da população não tem noção das possibilidades de uma doença atingir um número proporcional de pessoas, porque não tem educação básica”, diz. “Os médicos fazem um esforço gigante, mas não há médicos suficientes para colocar em lugares em que mais se precisa”.

Pérez também criticou o modelo estrutural das periferias do país. “Muita gente não tem água em casa. Álcool em gel não resolve problema, é água e sabonete. Tem muitas pessoas aqui que não têm estruturas porque moram em invasões, em casas com condições desfavoráveis do ponto de vista higiênico”, explica. 

Interferon alfa 2B

O governo cubano uniu suas forças a China para a produção do Interferon alfa 2B, um dos 30 medicamentos escolhidos pela Comissão Nacional da China para ajudar na cura do problema respiratório causado pelo coronavírus.

Pérez explica que o medicamento fabricado em Cuba não é uma vacina, ele controla o crescimento e desenvolvimento do vírus nas células do organismo humano, melhorando a qualidade de vida do paciente já infectado que apresenta condições graves.

“Há vários medicamentos cubanos que salvam vidas e não são aplicados em outra parte do mundo porque Cuba não é um país aliado, é só por isso”.

“Estamos aqui presente para ajudar no Brasil porque não temos como sair daqui no momento, se tivéssemos como sair daqui para outros países, França, Itália, Alemanha, Espanha, Irã, que estão sofrendo, estaríamos presentes para dar atenção aos seus países, já que aqui não nos querem. Porque não somos médicos de um só país, somos médicos internacionais”, conclui.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Mariane Barbosa

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