Nova York, Seattle e Portland no Oregon foram declaradas “cidades anarquistas” pelo governo de Donald Trump ao usar seu poder executivo como arma eleitoral contra bastiões democratas e, ao mesmo tempo, tratar de consolidar o controle direitista da Suprema Corte – a qual poderia ser o último árbitro de uma anunciada disputa eleitoral – antes das eleições de 3 de novembro.
A 43 dias da eleição geral, a morte da juíza liberal da Suprema Corte, Ruth Bader Ginsburg criou outra frente na guerra política que já se desenrolava de maneira sem precedentes, com o presidente pondo em dúvida o processo eleitoral em um país que está por registrar mais de 200 mil mortes pela pandemia, a pior crise econômica desde a Grande Depressão e o despertar do maior movimento de protesto da sua história.
Trump indicou hoje que nomeará uma mulher para substituir Ginsburg logo no sábado e que deseja que a nomeação seja ratificada antes da eleição.
Os democratas – que exigem que seja o vencedor das eleições quem indique o próximo juiz – não podem frear a ratificação do Senado sem a ajuda de pelo menos quatro republicanos – por ora dois se pronunciaram contra a indicação antes da eleição, e todos observam a outros dois ou três que poderiam romper com o presidente.
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Os prefeitos das três cidades denunciaram em uma declaração conjunta, “os jogos políticos baratos” de Trump
A batalha pela Suprema Corte – se Trump e seus aliados conseguem seu desejo terão uma maioria de seis juízes conservadores contra três liberais – tem implicações potencialmente gigantescas com severas consequências para o futuro de vários temas magnos do país, desde os direitos das mulheres e gays às liberdades civis, à justiça criminal, aos direitos trabalhistas e até ao processo eleitoral. Portanto, o posto vago e quem o ocupe de imediato se tornou um tema central desta eleição para os candidatos e suas bases de ambos os partidos.
Por outro lado, o procurador geral da nação, William Barr, em uma manobra plenamente eleitoral, designou Nova York, Portland, Oregon e Seattle como cidades “anarquistas” que têm “permitido anarquia, violência e destruição de propriedade”, em referência aos protestos contra o racismo sistêmico e a violência policial, e com isso ameaçou reduzir seu financiamento federal, sob as ordens de Trump.
Os prefeitos das três cidades denunciaram em uma declaração conjunta, “os jogos políticos baratos” de Trump, ao qual acusam de sempre buscar culpar os outros pelos seus fracassos. O governador de Nova York, Andrew Cuomo declarou que Trump “não é rei, não pode anular fundos à cidade de Nova York. É um ato ilegal”. Especialistas apostam que a medida será freada pelos tribunais.
Enquanto isso, a pandemia – que está para alcançar o saldo de 200 mil mortos nos Estados Unidos, muito mais que em qualquer outro país – segue como tema eleitoral. Hoje, em um discurso de campanha em Wisconsin, Joe Biden declarou que “pelas mentiras e incompetência de Donald Trump durante os últimos seis meses, vimos uma das maiores perdas na história dos Estados Unidos”. Isso, junto com a crise econômica que desatou o manejo da pandemia é o flanco mais vulnerável politicamente para o presidente.
Trump tem insistido em que sua resposta foi a melhor jamais adotada, que a China tem a culpa pela pandemia e assegura que logo terá uma vacina pronta e uma ressurreição da economia.
As 200 mil mortes por Covid somam mais que as combinadas de estadunidenses em todas as guerras desde a Segunda Guerra Mundial até hoje.
Por outro lado, o promotor distrital de Nova York, Cyrus Vance, indicou que poderia ter evidência suficiente para investigar o presidente por fraude fiscal.
Por ora, Biden continua com uma vantagem entre 7 e 8 pontos no nível nacional na média das principais pesquisas, como também em vários dos estados chaves que determinarão o resultado final.
Entre os latinos, Biden tem uma vantagem de 62% contra 26% para Trump, de acordo com uma nova pesquisa do NBC News / Wall Street Journal / Telemundo, mas a vantagem de 36 pontos do maior setor minoritário do país é menor do que a do candidato. A democrata Hillary Clinton em 2016. Além disso, naquela eleição, Trump conseguiu conquistar aproximadamente 30% dos votos latinos
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
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Tradução: Beatriz Cannabrava
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