A intolerância tem sido marcante na sociedade, notadamente, em tempos de pandemia. É reflexo direto do ódio latente do ser humano, que mostra a face agressiva e oportunista que vivemos atualmente.
O aumento da antipatia causa repulsa crescente quando imagens em tempo real mostram a argumentação pobre no senso comum daqueles que promovem atos de tratamento injusto para com o semelhante.
A tensão social causada pela pandemia eleva o conflito a ponto de torná-lo corriqueiro, deflagrando a desigualdade. Soma-se a isso a ineficiência das instituições judiciárias em promover o processamento de delitos em tempo hábil, abrindo a porta para a impunidade.
Esses fatores ajudam a explicar a multiplicidade de agressões discriminatórias que ocorrem no Brasil.
Historicamente, a sociedade brasileira convive com forte concentração de renda, fruto da herança colonial escravocrata, cuja essência ainda permanece no imaginário coletivo.
Desta forma, torna-se complexo estabelecer um senso de justiça igualitário entre as classes sociais, o que demonstra a incompatibilidade de aplicação do direito nos casos concretos, vez que é aplicado de maneira não uniforme, a depender da vítima e do acusado.
Exemplos recentes mostram como as normas de conduta não geram expectativas comuns de justiça. Os padrões de ação não representam os comportamentos que a sociedade evidencia, pois é reservado aos mais abastados o acesso às instâncias superiores e a garantia de liberdade e prescrição.
Enquanto isso, às vítimas, por excelência as classes mais pobres, é destinado o rigor da lei e a taxação da culpabilidade, sem direito a defesa digna.
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Vítimas, por excelência, as classes mais pobres, é destinado o rigor da lei e a taxação da culpabilidade, sem direito a defesa digna
A pandemia do novo coronavírus causa mudanças aceleradas na vida dos indivíduos e, ao não conseguir sedimentar comportamentos que o momento exige, aflora sentimentos retraídos e elevar ações discriminatórias que demonstram relações de poder de cunho econômico e social, relegando a vítima à escória e à marginalidade.
A morosidade do conhecimento, processamento e julgamento por parte das autoridades policiais e judiciárias aliada a fatores de alteração obrigatória de rotinas auxiliam a entendermos o aumento dos casos de discriminação por motivos banais e torpes que causam indignação a sociedade brasileira.
A ausência de fiscalização das autoridades deturpa a visão estrutural da norma e, com isso, permeia no coletivo a permissividade de transgredir condutas utilizando poder, provocando dinâmicas desajustadas à realidade de uma sociedade organizada, visto a instabilidade de comportamentos sem expectativa definida.
Por isso, faz-se necessário negar com veemência atos inconvenientes que somente contribuem para tornar a sociedade vulnerável e, assim, exposta a maior violência ao atingir a todos a partir de violências individuais.
A dignidade humana e a forma como vem sendo vilipendiada se mostra superior à própria pandemia, pois contra este comportamento não tem vacina disponível, ao contrário dos vírus.
Não há saída a não ser por meio de projetos educacionais obsoletos que não preparam o indivíduo para viver em solidariedade no mundo globalizado.
Todavia, a demora na resposta das autoridades aprofunda o fosso e contribui para a proliferação de embates sociais, cujo potencial está inserido atualmente na sociedade brasileira.
A desorganização de comunicação entre as autoridades e a população civil contribui para o crescimento da intolerância, bem como aprofunda a virulência da opressão das classes dominantes que se utilizam de maior brutalidade para fazer valer a interpretação do direito que mais lhe convém.
Rogério do Nascimento Carvalho, colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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