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Em Pacaraima, energia e gasolina vêm da Venezuela, por que a violência?

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Num Estado de Golpe, nada é o que parece. Nada do que a TV diz é verdade. Autoridades? Nenhuma. Só trambiqueiros ou porta-vozes do trambique.

Malu Aires*

Pacaraima foi emancipada em 1995. O Município, fronteiriço com a Venezuela, conta com aproximadamente 12 mil habitantes e é uma invasão de comerciantes, dentro de uma reserva indígena, a Reserva de São Marcos. A sede da Prefeitura é um galpão de distribuição de produtos. O único atrativo da cidade é o comércio na sua principal avenida – a Rua do Comércio.

A energia elétrica de Pacaraima vem da Venezuela. O único posto de abastecimento de combustíveis, vem da Venezuela. Os moradores da cidade de Pacaraima dependem da Venezuela para aquecer o comércio do município e para consumo de energia. Sem gasolina, o comércio e o trânsito de Pacaraima param. Sem compradores venezuelanos, o comércio de Pacaraima para.

Para os serviços de transporte entre as duas fronteiras, Pacaraima conta com mais de 90 taxistas que, diariamente, cruzam livres a fronteira entre os dois países. Brasileiros não-indígenas e venezuelanos são parceiros há décadas e esta parceria sustenta Pacaraima.

 

O ódio surgiu agora?

 

A política local é comandada por latifundiários, invasores de terras indígenas. Difícil achar um prefeito que não tenha uma ficha criminal extensa, currículo obrigatório para alcançarem as cadeiras do Congresso Nacional, por Roraima.

Conflitos entre estes invasores e indígenas são constantes e o extermínio indígena, na região de Pacaraima, é situação alarmante há alguns anos. O lobby pela extinção da reserva de São Marcos move a política local.

Moradores de Pacaraima- Roraima, expulsam imigrantes venezuelanos.

Uma cidade comandada pela política da violência, pistolagem e xenofobia, há tantos anos, era cenário perfeito ao conflito deste final de semana.

O vigilante Wandenberg Ribeiro Costa, orgulhoso organizador do ato fascista de Pacaraima, consta da folha de pagamentos da Prefeitura. O prefeito, Juliano Torquato, que em outubro de 2017 atropelou duas crianças venezuelanas, coincidentemente estava fora da cidade, durante a vergonhosa atuação do seu empregado.

Em julho deste ano, outro “protesto” foi organizado contra os venezuelanos, formando uma comissão que, em reunião com o Ministro da Justiça, pediu reforço ao governo ilegítimo e mais dinheiro para o Município. Os líderes desta comissão foram três secretários municipais, dois vereadores, um representante do Comércio e três moradores.

As lideranças que provocaram este ataque violento contra os venezuelanos já comandaram um ataque à sede da Funai, já formaram bandos de pistoleiros para ataque contra os indígenas e fazem enorme lobby no Congresso Nacional para a extinção da Reserva Indígena de São Marcos, com a intenção de remarcar o Município, invadindo mais terras indígenas, e desmatar a região, para ampliação do cultivo de arroz.

Estes mesmos latifundiários que apoiam o golpe, agora se organizam para provocar, com a barbárie deste último final de semana, um desgaste e uma provocação à Venezuela, dias depois que o Secretário de Defesa dos EUA, o “Cachorro Louco”, discute com o Ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, da Defesa, Joaquim Silva e Luna, e com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, “soluções” para a imigração venezuelana, no Brasil.

Não é de se estranhar que o exército não tenha interferido no arrastão fascista de Pacaraima.

É importante entender o contexto histórico da região, seus conflitos e sobre que bases são fundados. Importante rever o cronograma de acontecimentos para analisar o que de fato acontece quando uma mobilização daquela esfera, nada espontânea, surge. Não surge assim, do nada. Não é feita apenas para provocar em nós vergonha, apesar de alcançar, rapidamente, esse objetivo. Mas tem sempre uma característica – fazer passar por “popular” o que é criminosamente político.

O ataque de Pacaraima foi organizado por políticos locais, latifundiários genocidas por natureza, mancomunados com esferas do governo ilegítimo e golpista, a mando dos EUA. Cantaram o hino brasileiro porque ainda não aprenderam o hino estadunidense.

* É Paulistana, radicada em Belo Horizonte desde 1996. Compositora e intérprete.

*Foto Perfil / Maria Moreira


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Revista Diálogos do Sul

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