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Em plena pandemia, face do capitalismo é refletida nas ameaças de Trump à Venezuela

Os milhões de dólares oferecidos para "caçar" um presidente não só viola todas as regras internacionais, mas atenta contra ao mínimos princípios humanitários
Stella Calloni
Prensa Latina
Buenos Aires

Tradução:

Em uma ação desesperada, quando seu governo – este sim terrorista – cambaleia pelo caos que engendrou no mundo, e nos Estados Unidos a pandemia do coronavírus afeta a mais de cem mil pessoas, o presidente Donald Trump acusou de narco- terroristas o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e seus principais funcionários. 

Ofereceu, como se fosse um filme do velho oeste, uma recompensa de 15 milhões de dólares para que lhe “entreguem” o mandatário venezuelano e 10 milhões por cada um dos acusados. 

Não é só isso. Como no faroeste o rosto de Maduro se vê em um cartaz no qual se oferece a recompensa, o que não só é brutal, mas criminoso, e se converte em uma afronta à humanidade nestas circunstâncias. 

Em momentos em que o próprio secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, adverte que devem ser levantadas as sanções impostas a vários países como Cuba, Venezuela, Irã, Nicarágua e outros, para atender a pandemia que assola a humanidade, o governo de Trump ameaça com um intervenção militar na Venezuela. 

Também a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu sobre o impacto do escrutínio estrito do setor financeiro, que continuam sofrendo os serviços públicos e a população da Venezuela como consequência destas medidas contrárias à Carta das Nações Unidas. 

A ameaça soa mais grave quando os Estados Unidos não puderam realizar uma manobra militar com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa para onde enviou tropas e equipamentos em pleno auge da pandemia na Itália e outros lugares. Foi a pedido de vários países europeus que se deteve a operação, mas o fato de tentá-la demonstra os limites que atravessaram os Estados Unidos e o seu sócio Israel. 

Os argumentos atuais para esta resolução da “justiça” estadunidense são gastos e utilizados em cada ciclo da história, mas não se pode desconhecer que em função de querer render a Venezuela e com ela o resto da América Latina, semearam bases e estabelecimentos na região. 

Só a Colômbia, seu melhor centro de operações contra toda a região tem nove bases, e seguem Panamá, Peru, Guatemala, Honduras, Costa Rica e outros países, incluindo Paraguai e Argentina, onde o Comando Sul assinou acordos com o ex-presidente Mauricio Macri.

Mas são os últimos acordos de Trump com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, os que mais preocupam nestes momentos. De fato, Bolsonaro e Trump em seu encontro na Flórida de 7 a 10 de março, proclamaram apoio ao inexistente e autoproclamado “presidente” da Venezuela  Juan Guaidó.

E também os “esforços da Bolívia para realizar eleições livres”, sem esclarecer que seriam lideradas pelos golpistas – entre eles o secretário geral da Organização de Estados Americanos, Luis Almagro- que derrocaram o presidente Evo Morales em novembro passado.

Bolsonaro se reuniu também com o representante republicano da Flórida, Marco Rubio, assessor de Trump sobre América Latina, ligado desde sempre à máfia terrorista de Miami, que tanto dano tem feito contra Cuba e toda a região. Na realidade, nesta reunião com Trump e seus assessores foram tomados acordos não só sobre a Venezuela, mas sim sobre Cuba e Nicarágua.

Os milhões de dólares oferecidos para "caçar" um presidente não só viola todas as regras internacionais, mas atenta contra ao mínimos princípios humanitários

Telesur
O presidente estadunidense Donald Trump

Bolsonaro: submissão sem precedentes

É conhecido que Bolsonaro quer fazer do Brasil o país líder na submissão ao império, inclusive sobre a Colômbia e foi o primeiro presidente brasileiro que visitou o Comando Sul para assinar acordos com o chefe dessa instituição militar, Craig Faller, entre outros, sobre produtos de pesquisa para defesa, pelo qual empresas brasileiras desse setor tão sensível e estratégico desenvolverão projetos conjuntos com seus pares estadunidenses. 

Foi discutida a possibilidade de que o Brasil aceite tropas estrangeiras (leia-se Estados Unidos), que utilizem seu território em uma ação contra Nicolás Maduro. Há forte resistência, entre os militares brasileiros, a que essa autorização seja concedida.

Em mais de uma ocasião, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, reafirmou que para o Brasil, a única via é a diplomática, expondo de maneira clara a opinião de seus pares, escreveu o jornalista Eric Nepomuceno no passado 20 de março (Página 12).

O povo do Brasil ignora o que foi negociado e o que entregou seu mandatário aos Estados Unidos. Cita Nepomuceno que Bolsonaro levou uma autorização para que Washington utilize a base militar instalada em Alcântara, no estado do Maranhão, e a promessa de intensificar o comércio bilateral, aceitando exigências até agora negadas. 

Todos estes preparativos estão por trás das mentiras do promotor geral William Barr, que acusa sem provas a Maduro de ajudar a dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para supostamente “tomar a fronteira” comum com a Venezuela, quando na realidade já está tomada por especialistas, criminosos, mercenários e paramilitares colombianos armados e treinados por Israel e pelos Estados Unidos e sob sua direção. 

Dali foram cometidos assassinatos contra civis e militares da Venezuela, e manejam redes de sabotagem e de desestabilização no interior desse território. 

Resulta que o narcotráfico, o traslado da droga obtida em laboratórios colombianos abastecidos com os produtos químicos dos países poderosos, não pode ser controlado pelas nove bases dos Estados Unidos no território da Colômbia, onde a DEA tem sido denunciada, inclusive por importantes oficiais que desertaram do convívio deste agência antidrogas com as máfias colombianas que afundaram esse país na miséria e na violência, com milhares de mortos. 

Mas, um organismo da própria Nações Unidas advertiu que a máxima quantidade de drogas que vai para os Estados Unidos desde a Colômbia, o faz pelos portos colombianos do Pacífico, muito longe da Venezuela.

Segundo o promotor não são nem os paramilitares  colombianos, nem a DEA, nem o  ex-presidente Álvaro Uribe -que deveria ser condenado por crimes de lesa humanidade – nem seu delfim, o atual presidente da Colômbia, Iván Duque, os que sustentam o narcotráfico, como tudo mundo sabe e silencia. Já é hora de perguntar: Quem vigia as fronteiras dos Estados Unidos, pelas quais chegam tantas toneladas de drogas, enquanto as forças de segurança caçam migrantes e até encerram crianças de nossa região em jaulas? 

Com total impunidade, sustenta Barr que se calculam em 200 e 250 toneladas de cocaína enviadas fora da Venezuela pelas rotas do que ele chama “a aliança criminosa”, ou seja, Maduro-FARC. Seria bom revisar as rotas aéreas do Comando Sul. 

Este invento é similar ao da ameaça que significavam as armas de destruição em massa que tinha o Iraque, para depois invadir, matar um milhão de pessoas e apoderar-se desse país para depois “reconhecer” que na realidade se equivocaram e não existiam tais armas, do qual haviam sido claramente informados. Ou os argumentos para invadir o Panamá em dezembro de 1989, e tantos outros similares na história. 

Entre as lindezas do fiscal federal do Distrito Sul de Nova York, Geoffrey Berman, assegura que estas acusações criminosas são contra maduro e seus “sócios das FARC”, os que “traficaram tanta droga graças à proteção do governo venezuelano para os crimes de narcoterrorismo”. Além disso, pelas presumidas pressões exercidas pelo “chavismo” sobre outros governos para que permitam “o desenvolvimento da trama criminosa”. 

Com isto deixam pendentes novas acusações para armar outro cenário e ameaçar de cumplicidade “sob pressão” a todo governo “insubmisso” para as necessidades de controle total do “quintal” que tenta o império em sua derrubada neste século, o que será sua tumba. 

Além de Maduro oferecem recompensas de até 10 milhões de dólares “por informação”, ou seja, a entrega de Diosdado Cabello, titular da Assembleia Nacional Constituinte; o general (retirado) Hugo Carvajal Barrios, ex-diretor da Inteligência Militar da Venezuela (DGCIM); Cliver Alcalá Cordones, general major (retirado) do Exército da Venezuela; e Tareck El Aissami, ministro de Indústrias e Produção Nacional.

Entre outros funcionários e dirigentes, também foi implicado Maikel Moreno, presidente da Corte Suprema,  Vladimir Padrino, ministro de Defesa, como principais atores do esquema criminoso e o empresário Samark López Bello. Da mesma forma, o ex-negociador de paz das FARC-EP Iván Márquez e Jesús Santrich “por colaborar com Maduro para traficar cocaína”.

Mas, sempre há um mas… Resulta que o general major (r) do exército venezuelano Alcalá Cordones, que na realidade vive em Barranquilla, Colômbia, reagiu assombrado, segundo ele mesmo, diante da recompensa oferecida pelos Estados Unidos por sua captura quando, na verdade, ele trabalha com “agentes” norte-americanos, incluindo o autoproclamado “presidente” Juan Guaidó, que na realidade preside uma fantasia, já que não tem sede e não governa ninguém, embora seja reconhecido pelo governo dos Estados Unidos e seus vergonhosos associados.  De sua casa em Barranquilla, Alcalá Cordones falou a uma rádio colombiana e sustentou que uma partida de armas de guerra sequestradas recentemente neste país, entre Santa Marta e Barranquila (a rota do Caribe), havia sido comprada por agentes dos Estados Unidos e Guaidó para realizar uma operação, outra tentativa de golpe na Venezuela e assassinar Maduro.

“As armas apreendidas na Colômbia foram no marco de um pacto ou de um convênio firmado pelo presidente Guaidó, o senhor JJ Rendón, o senhor (Sergio) Vergara e assessores norte-americanos”, disse o militar retirado venezuelano.

De acordo com suas afirmações estavam também no complô o golpista Leopoldo López e o ex-policial “Swat” Iván Simonovis, “nomeado” pelo inexistente “presidente” Guaidó como coordenador especial de Segurança e Inteligência da Venezuela ante Estados Unidos (não é uma piada, embora pareça). 

Este ex-delegado era secretário de Segurança Cidadã do Distrito Capital (que estava em mãos opositoras), quando se produziu o golpe de 11 de abril de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez Frías e foi detido como responsável de crimes e outros graves atentados. Fugiu de uma prisão venezuelana, ajudado pelo CIA estadunidense e seus aliados venezuelanos, no início de junho de 2019 e se “asilou” nos Estados Unidos.

Por sua parte Alcalá relatou que estava sendo formado um grupo de Unidade pela Liberdade da Venezuela na Colômbia, mas que haviam encontrado obstáculos, entre esses o que chamou de “testas de ferro da oposição”, em referência às diferenças cada vez mais importantes entre a maioria da oposição venezuelana e Guaidó, e agregou que o promotor confundido não deve conhecer para quem estava trabalhando. 

Vale a pena recordar que em janeiro deste ano, Simonovis destacou que Guaidó participou como “presidente” de Venezuela, graças aos Estados Unidos, na Convenção Antiterrorismo realizada em Bogotá, donde “o tema de Venezuela havia sido posto outra vez no tapete”. Ou seja, que estavam preparando um novo “assalto” a esse país. 

Ao ler os argumentos esgrimidos pelo governo de Trump se estabelece a coincidência com o que disse Simonovis à “Voz de América” (Miami) sobre a total “e absoluta comprovação da presença do Hezbollah na Venezuela e dos grupos guerrilheiros colombianos como as FARC e o Exército de Libertação Nacional da Colômbia”, acusando o governo de Maduro de ter convertido a Venezuela “no local onde os criminosos se reúnem”. Não terá querido dizer Miami? 

Este era o trabalho que andou fazendo – entre outros –  Mike Pence em suas andanças e a pressa que o trouxe ao sul. Estando ainda Mauricio Macri como presidente da Argentina, conseguiu que este introduzisse como organização terrorista o Hezbollah, que na realidade é um partido político do Líbano com presença no Congresso e cuja luta armada foi e é pela defesa de seu país contra os ataques israelenses uma e outra vez. 

As confissões de Alcalá e o momento escolhido por Trump para esta declaração de “guerra” resultam um novo fracasso pelos irredentos “assessores” do ignorante mandatário, entre eles criminosos de guerra como Elliot Abram e o lobby cubano-americano de Miami, no qual se destaca Marco Rubio. Sua companheira Ileana Ros-Lehtinen foi chave na preparação do golpe contra Evo Morales na Bolívia.

Os milhões de dólares oferecidos para “caçar” um presidente e seus funcionários não só viola todas as regras internacionais – o que já é comum para esse governo – mas atenta contra ao mínimos princípios humanitários. Mais ainda no meio de uma pandemia que afeta a milhões de norte-americanos que não têm nenhum resguardo sanitário e aos quais o presidente Trump também condena à morte, enquanto salva as empresas, mostrando ao mundo a realidade desapiedada da “grande potência mundial” por dentro e a verdadeira cara do capitalismo no ocaso.

Stella Calloni, intelectual, jornalista argentina e colaboradora da Diálogos do Sul

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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