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Encabeçados pelos camponeses, 250 milhões de trabalhadores entram em greve na Índia

Trabalhadores do campo e da cidade clamam pela regulamentação da terra, pela implementação de programas sociais e por direitos vitais básicos
Beatriz Contelli
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Desde junho, a capital de Nova Delhi, na Índia, tem sido palco de intensos protestos protagonizados por trabalhadores do campo e da cidade. Na última quinta-feira (26), cerca de 250 milhões de indianos entraram em greve em protesto contra as medidas neoliberais do governo do primeiro-ministro Narendra Modi. 

Como parte de uma série de mudanças legais que afetam pequenos produtores e camponeses, a nova legislação favorece a privatização da terra e sustenta o agronegócio. Os agricultores agora podem vender seus produtos diretamente a compradores privados, sem a necessidade da regulação do Estado, que garantia um preço mínimo aos produtores. 

Entre as demandas solicitadas pelos trabalhadores, a Lei de Produtos Essenciais estabelece limites à quantidade de grãos que comerciantes podem estocar. Indo contra a vontade popular, o primeiro-ministro estabeleceu que cereais, óleos vegetais, sementes e batata não são mais bens essenciais e serão estocados pelo Estado apenas em situações de guerras ou calamidades sociais. 

E o que isso significa? Antes das novas medidas aprovadas por Modi, os camponeses tinham garantido um preço mínimo para seus produtos e um mercado acessível onde pudessem vendê-los sem ter que arcar com os custos de armazenamento dos produtos, valor que pode ser alto para os pequenos produtores. Agora, os agricultores ficam à mercê das grandes corporações que estarão livres para ditar preços e termos contratuais. 

As demandas populares também questionam a enorme falta de investimento em empresas estatais, a instabilidade das leis trabalhistas e a falta de programas de auxílio a trabalhadores do campo e da cidade afetados pela covid-19. 

A situação da Índia hoje

Além de representar 17% do PIB da Índia, o setor agrícola é responsável por empregar metade da população do país, hoje em torno de 1,3 bilhão de pessoas. Não é de agora que os camponeses são obrigados a viver na pobreza, acumulando dívidas exorbitantes e dividindo pequenos lotes de terra.

A União Nacional de Camponeses da Índia estima que 400 mil agricultores tenham cometido suicídio desde 1995 em consequência das políticas neoliberais. Em 2014, primeiro ano do mandato de Modi, o número de suicídios teve um salto de 42%. Desde então, as estatísticas oficiais não foram mais divulgadas.

Trabalhadores de Calcutá e Mumbai que marcharam em direção à capital foram recebidos com uma brutal repressão da polícia, que utilizou cassetetes, jatos d’água e gás lacrimogêneo. 

Desenvolvendo um forte perfil nacionalista e xenófobo em relação aos muçulmanos, paquistaneses e chineses, para tentar incorporar uma unidade reacionária no país, Modi considerou os protestos como “antinacionais”. 

Onze confederações nacionais de trabalhadores, grupos feministas, sindicatos de estudantes, partidos de esquerda e organizações da sociedade civil também participaram da greve. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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