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Javier Milei e Donald Trump durante encontro na Casa Branca em 22/02/2025 (Foto: Casa Branca)

Encontro com Trump não ameniza “criptogate” e novas provas surgem contra Milei

Chovem denúncias de pessoas atingidas pela fraude promovida por Milei com o $Libra, enquanto oposição aproveita crise para articular uma aliança nacional contra o mandatário: "desafio histórico"
Stella Calloni
Diálogos do Sul Global

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Se o presidente da Argentina, Javier Milei, imaginou que sua presença nos Estados Unidos, o respaldo do presidente estadunidense, Donald Trump, e de seu amigo Elon Musk e seus já conhecidos discursos serviriam para atenuar o escândalo do Criptogate, ele se equivocou.

Milei, inclusive, levou a Musk — titular do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) dos EUA — uma motoserra de presente, o que foi considerado por argentinos como um “lamentável e vergonhoso show”.

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As declarações de mandatário argentino respondem à necessidade de uma política de defesa atuando como “um topo para destruir o Estado desde dentro”, conforme confessou, para salvar os “ricos” dos impostos que — segundo seu ponto de vista — são um roubo para “dar” aos pobres. Ao mesmo tempo, considera a justiça social uma aberração.

O escândalo com as criptomoedas não para de crescer, apesar de, por um voto no Senado, Milei ter conseguido evitar uma Comissão Investigadora no Congresso. O resultado causou a implosão do Unión Cívica Radical, partido que havia apresentado o projeto. De última hora, alguns integrantes mudaram de lado, a favor de Milei.

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“Movimento Direito ao Futuro”

Nesse contexto, o governador peronista da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, anunciou no sábado (22) a criação de um espaço político, o “Movimento Direito ao Futuro”, e apelou a “construir uma grande força” anti-Milei.

“O peronismo enfrenta um desafio histórico: reconstruir-se para liderar uma alternativa ao experimento de ajuste e crueldade que o governo nacional de Javier Milei leva adiante”, diz o comunicado assinado por mais de 200 políticos e movimentos sindicais, entre eles a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e as duas Centrais de Trabalhadores Argentinos.

Além disso, uma série de intendentes e organismos sociais se “posicionam dentro do peronismo para liderar a confrontação com o modelo político e econômico do governo nacional. Os que acompanham o projeto são figuras-chave do Partido Justicialista (PJ) em nível nacional e bonaerense”, assinala o portal El Destape.

Este é um passo rumo à organização do peronismo diante da dramática situação do país. Embora se diga que Kicillof, com essa ação, se colocar “frente a frente” com Cristina Kirchner (duas vezes presidenta e atual titular do PJ a nível nacional) na disputa pela liderança peronista, destaca-se que “não é uma ruptura” no movimento, já que o governador foi ministro da Economia da ex-presidenta, e isso também pode representar o despertar diante da urgente necessidade de união do peronismo.

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Milei na corda bomba: criptofraude com $LIBRA enfurece ricaços, afasta aliados e mune oposição

Para esta segunda-feira (24), Kirchner havia convocado o peronismo de todo o país para se reunir na sede partidária da capital, em seu primeiro ato como presidenta do PJ. Desde 2023, Kicillof já falava sobre a construção de uma frente ampla anti-Milei, com apoio de figuras conhecidas do peronismo, de contato direto com o povo.

Trabalhou-se com antecedência diante da sensação de impotência e da demanda, expressa nas mobilizações, por uma liderança capaz de oferecer uma saída para o pesadelo vivido pela população, com necessidade de organização e uma alternativa “agora e já”.

Servilismo e críticas ao Mercosul

Não é apenas na Argentina: atualmente, a maioria dos governos da América Latina também critica duramente a conduta servil de Milei, especialmente após essa viagem aos Estados Unidos, onde, além disso, responsabilizou o Mercado Comum do Sul (Mercosul) – do qual a Argentina faz parte – pela impossibilidade de firmar um Tratado de Livre Comércio, e propôs uma política tarifária semelhante à aplicada pelos Estados Unidos.

Milei também criticou aqueles que “querem boicotar” o empresário Elon Musk por aplicar a desregulação da economia estadunidense e afirmou: “nosso método é como o de Musk: revisar escritório por escritório e descartar o que não serve”, ao mesmo tempo em que justificou o presente da motosserra.

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Novas denúncias e Hayden Davis

Agora, a Justiça argentina também atende novas denúncias de pessoas afetadas pela fraude com o $Libra e o impacto dessa situação crítica no país. À medida que as investigações avançam, a situação do círculo mais próximo de Milei se complica, e novas provas surgem a cada dia.

O criador do $Libra, Hayden Davis, acaba de anunciar que vai depor perante a Justiça argentina e se propõe a revelar em quais mãos estão as “carteiras digitais” onde foram distribuídos os 100 milhões de dólares da fraude, que deixou tantas vítimas. Há, inclusive, indícios de que Milei teria ficado com pelo menos duas dessas carteiras, o que representa uma cifra muito significativa.

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À responsabilidade do presidente por ter promovido a criptomoeda $Libra, que terminou sendo uma fraude multimilionária, soma-se agora outro escândalo: sua total submissão a Trump, vivida pelos argentinos como “vergonha e humilhação”.

Também se denuncia o silêncio que protege Milei nos Estados Unidos diante das denúncias, apresentadas ao FBI e ao Departamento do Tesouro estadunidense, relacionadas à fraude da criptomoeda.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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