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Toggle“Embora a classe operária soubesse o que queria, ou seja, chegar ao poder, e tivesse, já naquela época, os meios necessários para isso, convivemos, na América Latina, com o elemento do imperialismo americano“, afirma Vilma Amaro, mais longeva militante do grupo Tortura Nunca Mais.
A declaração foi dada durante evento sobre os 50 anos do golpe no Chile, ocorrido na segunda-feira (11) de setembro, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo.
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A mesa contou com a presença dos jornalistas Gilberto Maringoni, Paulo Cannabrava Filho e Pedro Pomar, da professora de História Contemporânea da Faculdade Cásper Líbero e coordenadora da Rede Emancipa de Educação Popular, Joana Salém, e do filósofo e político João Vicente Goulart.
Para homenagear a memória de Salvador Allende, os participantes destacaram diferentes temas que perpassaram seu governo e sua imagem, como a reforma agrária realizada no país, a estrutura da via chilena para o socialismo e a sua relação com a teoria gramsciana da revolução proletária.
Também foram abordados aspectos cotidianos de quem conviveu com o golpe, a solidariedade que se desenvolveu no estilo do internacionalismo proletário, o abandono da União Soviética ao território chileno e o legado da revolta revivido durante o Estalido, série de protestos ocorridos em 2019.
Biblioteca del Congreso Nacional – Chile
Pedro Pomar: Grandiosidade do último discurso de Allende “consola o povo antes mesmo de sua morte”
Reforma Agrária
Iniciando a discussão, Joana Salém destacou as questões relativas à reforma agrária, pauta que perpassa seu tema de pesquisa sobre a história do Chile. Segundo a professora, “a questão agrária não se desdobra como um tema à parte, um recorte específico da história”.
Sua dinâmica, diz ela, justamente por ser aspecto central no desenvolvimento de todo o território latino-americano, permite uma compreensão do funcionamento do capitalismo no continente, além da percepção da estruturação da luta camponesa e da correlação de forças existente no espaço.
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Desse modo, a partir de uma reconstrução histórica das leis de reforma agrária aprovadas no país desde o governo de Eduardo Frei, antecessor de Salvador Allende, a pesquisadora destrinchou a estratégia estadunidense desenvolvida em conjunto com os setores católicos e o governo Frei. Por outro lado, aponta, foi criado um poder popular camponês que defendia um modelo diferente dessa “reforma agrária capitalista”.
Marcas do golpe
Relatando sua vivência enquanto jornalista no Peru durante parte da década de 1970, Paulo Cannabrava descreveu os horrores que presenciou vindos da oposição de Allende durante a campanha eleitoral de 1970 e como, já depois do golpe, em 1973, iniciou-se uma rede de solidariedade aos refugiados e exilados da ditadura, em países como o Peru e o Panamá.
Trazendo uma leitura acerca da tática revolucionária da Via Chilena para o Socialismo, Maringoni, em sua fala, destacou as semelhanças da experiência revolucionária de Allende com os escritos do marxista italiano Antonio Gramsci. Também pontuou a situação concreta do Chile na época, tentando responder à pergunta que atravessa a cabeça de muitos ainda hoje: seria possível, de algum modo, que a experiência socialista implantada por Allende tivesse sucesso?
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Já Goulart se centrou nas associações possíveis entre o processo ditatorial chileno e o vivido no Brasil a partir de 1964. Nesse sentido, apontou o papel chave dos Estados Unidos em ambos os golpes e como este escreveu a história da América Latina durante a segunda metade do século 20, mesmo antes da oficialização do plano Condor.
Pedro Pomar, por sua vez, destacou que a primeira experiência latinoamericana do neoliberalismo foi produzida no Chile em razão do plano apresentado pelos “Chicago Boys” a Pinochet, e relembra a grandiosidade do último discurso do presidente, que, em suas palavras, “consola o povo antes mesmo de sua morte”.