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Enormes desafios 70 anos depois do voto feminino na França

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Carmen Esquivel *

Louise_WeissEm abril a França celebrou com pompas o 70º aniversário do direito ao voto feminino, mas a luta por alcançar a plena igualdade de oportunidades na vida política e econômica do país continua sendo um grande desafio.

No dia 21 de abril de 1944, o governo provisório do general Charles de Gaulle decretou que as mulheres tinham as mesmas prerrogativas que os homens para votar e ser eleitas.

A norma foi elaborada pelo Comitê Francês para a Libertação Nacional e foi considerada como um reconhecimento à participação e sacrifício desse setor da população durante a resistência contra a ocupação alemã na II Guerra Mundial.

Assim, uma vez o país livre do fascismo, as francesas compareceram pela primeira vez às urnas nas eleições municipais de 29 de abril de 1945 e, em outubro desse mesmo ano participaram das eleições nacionais.

Este importante avanço foi aqui recordado em um ato encabeçado pelo presidente François Hollande e por Anne Hidalgo, cuja recente eleição para a prefeitura de Paris foi considerada um fato histórico, porque até hoje nunca uma mulher havia ocupado esse cargo.

 

Anne Hidalgo
Anne Hidalgo

No entanto, coincidindo com a celebração, dirigentes e Prêmios Nobel lançaram um apelo dirigido aos candidatos a diversos postos nas instituições da União Européia (EU) no qual exigem que se faça avançar a igualdade de gênero.

O documento, denominado Plataforma por uma Europa dos Direitos das Mulheres, estima que o bloco deve redobrar os esforços para estar à altura de suas ambições e converter-se em referência do fomento à equidade.

Entre os que assinaram o documento figuram a vice-presidenta da Comissão Européia, Viviane Reding, a vice-primeira ministra belga, Joelle Miquet, a prefeita  de Paris e o cineasta grego Constantin Costa-Gavras.

Seus promotores exigem um plano de ação ambicioso para inscrever a paridade em toda a política da UE.

Segundo um estudo recente, as francesas devem trabalhar 77 dias a mais para receber ter a mesma renda anual com relação aos homens, em trabalhos similares e com igual formação.

Em termos gerais, a brecha salarial por razões de gênero é de 28 por cento no setor privado, assegurou Christiane Robichon, presidenta da filial local do grupo internacional Business and Professional Women (Mujeres Profissionais e de Negócios).

A diferença de remuneração provoca, no longo prazo, outra injustiça social, pois as aposentadas recebem como média um valor 42 por cento menor que os aposentados do sexo masculino, assinalou Annie Battle, autora do livro “As mulheres são mais baratas que os homens?”

Outra pesquisa recente publicada aqui revela que a desigualdade de gênero aumenta nas áreas urbanas desfavorecidas e nas zonas rurais.

Nos bairros populares franceses, cerca de uma mulher de cada duas está sem trabalho e no campo 40 por cento tem apenas um emprego de meio período.

Essa situação, que se agravou com a crise iniciada em 2008, afeta, sobretudo, as jovens e as migrantes.

O estudo foi realizado pelo Alto Conselho para a Igualdade entre Homens e Mulheres, com o apoio do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos e do Observatório de Zonas Urbanas Sensíveis.

De acordo com Romain Sabathier, secretario geral do Alto Conselho, o objetivo dessa pesquisa é o de alertar os funcionários eleitos de que as desigualdades de gênero devem ser consideradas na hora de adotar políticas públicas.

Da mesma forma que no plano econômico, os problemas persistem no terreno político, onde a paridade no exercício dos cargos públicos de eleição está muito longe.

Embora as listas de candidatos devam ter igual número de homens e mulheres, na prática os primeiros lugaress – que são os de maiores possibilidades – são ocupados por aspirantes masculinos.

Nas eleições municipais dos dias 23 e 30 de março, 83 por cento das chamadas cabeças de chapa eram homens, denunciou Danielle Bousquet, presidenta do Alto Conselho da Igualdade de Gênero.

Paradoxalmente neste país que há sete décadas aprovou o direito de voto feminino, as francesas ocupam apenas 27 por cento dos postos na Assembléia Nacional e 22 por cento no Senado.

Mesmo para as que conseguem romper essas barreiras e são eleitas, a situação é complicada, advertiu a deputada por Paris, Sandrine Mazetier, do governamental Partido Socialista.

Segundo a legisladora, a medida da situação é dada pelo fato de que muita gente ainda precisa receber uma explicação quando uma mulher é eleita para determinado cargo, o que não acontece no caso dos homens, em que isso é considerado natural.

Em toda a sua história, a frança teve apenas uma primeira ministra, Edith Cresson, que ocupou o cargo entre 1991 e 1992, e Paris apenas uma prefeita, Anne Hidalgo.

As reações sexistas perduram em todos os setores políticos e quando Segolene Royal foi designada candidata à presidência em 2007 foram ouvidas expressões tais como: “as eleições não são um concurso de beleza” ou “é melhor que se dedique a cuidar de crianças ou estudar livros de receitas”.

Organizações encarregadas da luta pela igualdade entre homens e mulheres advertem que enfrentar as iniquidades, como objetivo transversal prioritário, é condição indispensável para alcançar um desenvolvimento humano sustentável.

* Prensa Latina, de Paris, França, para Diálogos do Sul

 

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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