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Ensaios ignorantes para crianças impossíveis

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Diálogos entre Literatura e Teatro, para todas as idades

O projeto Ensaios ignorantes para crianças impossíveis realiza uma obra cênica como ensaio-leitura-encenação, com os oito contos do livro Contos para crianças impossíveis, de Jacques Prévert. Cada apresentação compreende uma leitura completa do livro, intermeada por ações teatrais que se alternam entre cenas, jogos e digressões, com a participação do público, quando ele assim desejar. Apesar de partir de um livro publicado por um editorial infanto-juvenil, os Ensaios ignorantes para crianças impossíveis são destinados a públicos de todas as idades. Desde novembro de 2011 empreendemos leituras de materiais literários diversos, com e em público, que alternam-se entre a realização de leituras (a que vimos nomeando Repousos) e ações cênicas de diferentes texturas (cenas, jogos-encenação, digressões, músicas, às quais nomeamos Derivas). A essas leituras e ensaios damos, alternadamente, os nomes Ensaios ignorantes e Leituras ignorantes, e todas foram realizadas pelo núcleo aqui nomeado como ensaístas ignorantes. Lemos, desde então, os seguintes livros e composições: O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual, de Jacques Rancière (CCSP, novembro de 2011), Sobre a experiência, de Michel de Montaigne (SESC, março e junho de 2012), De segunda a um ano, de John Cage (CCSP, setembro de 2012), Nada, de Janne Teller (FEUSP, setembro de 2012) e uma composição, com textos de autores diversos, sob a curadoria do filósofo espanhol Jorge Larrosa, lida no Ensaio: solidão (dentro dos Ensaios ignorantes no SESC em março de 2012).

Ensaios ignorantes situa-se num campo híbrido entre teatro, literatura e educação, e funda-se nos diálogos entre a equipe e as obras literárias lidas desde 2011. O trecho de Jacques Rancière, em sua palestra O espectador emancipado, norteia nosso projeto: “Ser espectador não é uma condição passiva que deva ser mudada para ativa. É nossa situação normal. Aprendemos e ensinamos, agimos e conhecemos também como espectadores que ligam a todo instante o que vêem ao que viram e disseram, fizeram e sonharam. Não existem formas mais privilegiadas do que pontos de partida, cruzamentos e nós que nos permitem aprender qualquer coisa nova, mas, para isso, é preciso recusarmos, primeiramente, a distância radical, em segundo lugar, a distribuição dos papéis, e em terceiro lugar, as fronteiras entre os territórios. Não temos de transformar espectadores em atores e os ignorantes em experts. Nós temos que reconhecer o saber da obra no ignorante e a atividade própria do espectador.”

Em seu livro O mestre ignorante – fonte anterior do autor para o tema da emancipação do espectador -, no qual Rancière biografa o método pedagógico de Joseph Jacotot, é justamente uma experiência com leitura e tradução que determina a aventura intelectual disparadora do método. Nosso interesse por esse livro e por fazer conviver o teatro com leituras públicas realizadas sempre por todos os presentes (público e equipe) vem justamente por algo que fundamenta a linguagem teatral e a própria ficção literária: o convívio entre pontos de vista distintos e a abertura para que o outro – o público e o leitor – escolha que trajetória o convida a estar mais perto. Não queremos correr o risco de perpetuar uma relação com a inteligência que a mantém a serviço de outra, a do explicador, que, segundo Jacques Rancière, “sempre guarda na manga um saber, isto é, uma ignorância do outro”. Nossa inquietação leva-nos, inevitavelmente, a pensar as relações entre obra (aqui, o livro) e público, entre outras. Temos pensado ensaios e cenas como amigos entre si, cena como ensaio, ensaio como cena, e como amigos da incerteza. Ensaiar aqui é gesto mais próximo do ensaio literário do que do ensaio teatral. Temos nos mantido sem explicações, sem debates, sem discussões “sobre” as coisas, buscando abrir nossas posições num solo que experiencie algum silêncio. Por isso não convidamos especialistas.

Mantemos a literatura e o teatro visíveis ao público, pela presença do objeto-livro e pela própria realização das leituras de todo o livro pelas vozes da equipe e do público ao mesmo tempo. Neste projeto, a escolha de um livro destinado a todas as idades quer fazer conviver adultos, jovens e crianças, por meio desse corpo ensaístico, que procura manter, ainda, o desafio da igualdade das inteligências como norte. O público alvo é formado por interessados de todas as idades seja dos ditos iniciados àqueles que não têm comumente acesso ou interesse pelas artes ou literatura. Temos visto que as Derivas teatrais podem aproximar público que não tenha muito interesse em leitura e vice-versa, a leitura coletiva pode instigar pessoas a adentrar em experiências teatrais. Definiremos horários em parceria com cada Biblioteca. Por pedir proximidade com o público, estima-se público total de 200 a 500 pessoas ao final deste ProAC (entre 40 e 100 por Ensaio público).

FICHA TÉCNICA

texto  Jacques Prévert    tradução   Alexandre Barbosa de Souza   idealização e direção Juliana Jardim  ensaístas ignorantes Auber Betinelli, Caio Paduan, Juliana Jardim, Luiz Pimentel, Magali Biff, Miguel Prata, Tieza Tissi   produção executiva  Cláudia Burbulhan


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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