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O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Foto: Grigory Sysoev - Agência Brics Rússia 2024)

Entrada da Etiópia no Brics avança após Kazan. Como o país pode ser beneficiado?

Segundo Costantinos Berhutesfa, especialista em Políticas Públicas da Universidade de Addis Abeba, inclusão da Etiópia no Brics abre uma série de oportunidades de parceria com os Estados-membros
Nara Romero Rams
Prensa Latina
Adis Adeba

Tradução:

Ana Corbisier

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, participou, à frente da delegação do país, da 16ª Cúpula do Brics, realizada de 22 a 24 de outubro em Kazan, Rússia. Segundo o titular de Assuntos Exteriores etíope, Gedion Timothewos, o encontro foi concluído com importantes resoluções sobre cooperação econômica.

Timothewos mencionou a proteção ambiental e reformas do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nesse sentido, destacou o papel de Addis Abeba ao articular tanto suas próprias posições como as do continente africano em debates diplomáticos e com outros chefes de Estado em nível bilateral.

Sobre estas últimas, revelou que os países do Brics mostraram interesse em obter o apoio da Etiópia para tornar-se membro. Reiterou que estas discussões serviram para informar outras nações sobre a importância regional e os interesses fundamentais da nação africana.

O grupo Brics, integrado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se ampliou no início deste ano com a entrada da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.

Nesta recente cúpula, foram aprovados como membros associados Argélia, Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

O bloco representa quase metade da população mundial, 40% da produção global de petróleo e cerca de 25% da exportação de bens.

Defesa de interesses nacionais

Abiy Ahmed expressou o desejo da Etiópia de acesso ao mar baseando-se no princípio do toma lá dá cá durante as conversações com os líderes dos países membros do Brics.

Ao dialogar sobre questões bilaterais e multilaterais à margem do conclave, Ahmed enfatizou que a busca de saídas marítimas se baseia em interesses compartilhados, segundo o ministro do Serviço de Comunicações do Governo, Legesse Tullu.

Dada a história, geografia, população e desenvolvimento econômico do país, Addis Abeba precisa ter saídas para o mar, enfatizou o chefe de governo africano nesses encontros, de acordo com Tullu.

O ministro etíope comentou que a proposta de Ahmed de reformar o sistema financeiro internacional e torná-lo mais inclusivo foi aceita por outros países, assim como a adoção de uma posição comum a esse respeito.

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A Etiópia também compartilhou as mudanças que está implementando em várias áreas, inclusive a reforma econômica e o desenvolvimento de capacidades institucionais, acrescentou. Ressaltou que a cúpula deu uma oportunidade para que Addis Abeba se beneficiasse mais do que era esperado nas áreas de economia, comércio, investimentos e outros campos.

De igual maneira, as decisões e posições comuns adotadas concordam com os interesses nacionais da nação africana.

Oportunidades para colaboração

Para o professor Costantinos Berhutesfa, especialista em Políticas Públicas da Universidade de Addis Abeba, a inclusão da Etiópia no Brics abre uma série de oportunidades para melhorar a colaboração econômica com os Estados-membros, particularmente na agricultura e na indústria.

Berhutesfa indicou que países como Brasil, China, Índia e Rússia possuem vastas terras agrícolas e utilizam tecnologias avançadas que a nação africana poderia adotar para aproveitar seus próprios recursos de maneira mais efetiva.

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Recordou que membros deste grupo econômico são reconhecidos por sua produção mineral, que é crucial para as transições energéticas. A esse respeito, continuou, poderiam aprender lições valiosas sobre a exploração de recursos graças à sua participação no Brics.

Destacou que a plataforma apresenta oportunidades financeiras para que os países em desenvolvimento, inclusive a Etiópia, avancem em suas iniciativas. “O Novo Banco de Desenvolvimento pode proporcionar à Etiópia os recursos necessários para projetos de infraestrutura, impulso minerário e otimização dos recursos hídricos”, garantiu.

Redefinições globais

Ainda ao ver de Berhutesfa, os membros do Brics podem contribuir para redefinir o panorama financeiro global, especialmente quando a economia global enfrenta desafios que afetam desproporcionalmente a África e outras economias em desenvolvimento. Mencionou que estes países criarão mecanismos destinados a abordar as disparidades financeiras globais.

O especialista destacou a perspectiva de que economias de rápido crescimento como a China desempenhem um papel vital no novo banco de desenvolvimento, facilitando o financiamento para os Estados-membros.

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Há também otimismo quanto à possibilidade de atrair investimentos com a implementação de importantes reformas macroeconômicas por parte do governo etíope, para integrar-se mais efetivamente à economia global.

Por último, também abordou o intercâmbio cultural que permite a nações membros, inclusive à Etiópia, compartilhar seus diversos patrimônios culturais e fomentar a diplomacia pública.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nara Romero Rams

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