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Entre o pó e a pólvora: o narcotráfico no México e o papel central dos EUA

Consumo de drogas pela população estadunidense e oferta de armas a carteis foram cruciais no processo histórico que levou ao atual narcotráfico mexicano
Isabelle Paiva
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Desde o século 20, o México se tornou o país mais notável no quesito tráfico de drogas de todo o continente americano, principalmente pela demanda vinda dos Estados Unidos. 

Além da produção e oferta ao país vizinho, o território também é utilizado como rota do tráfico por outros países latino-americanos, como a Colômbia e a Venezuela, aumentando sua centralidade dentro desse mercado. 

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Nesse cenário, o México ocupa não só a alta posição dentro do continente, como também em meio à rede global de tráfico de drogas, sendo fonte ou rota para dois dos principais focos de consumo de drogas no mundo, a América do Norte e a Europa.

Nos últimos anos, o território tem ganhado ainda mais relevância pela rápida adaptação de sua produção à fabricação de drogas sintéticas, dada a expansão da demanda por esse tipo no mercado mundial.

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O desenvolvimento interno deste comércio se fez de modo tão efetivo que, de acordo com uma pesquisa realizada pela revista Science em setembro deste ano, os cartéis de drogas se tornaram o quinto maior empregador do país, com cerca de 175 mil “funcionários”. 

Dentro de todo o processo histórico de criação e expansão do narcotráfico mexicano, destaca-se ainda o papel central dos Estados Unidos, não só por ser o seu principal consumidor, mas também por ser a fonte predominante de compra de armamento para os cartéis, além da política anti-drogas implementada em conjunto com o governo do México, que produziu não só o crescimento dos cartéis e de sua violência, como também criou um estigma envolto do povo mexicano elevando as taxas de xenofobia contra essa população.

Tendo em vista o grande período a ser retratado, esse relatório apenas delineia o processo histórico que levou ao cenário atual no México, apontando a participação dos Estados Unidos no contexto.

Consumo de drogas pela população estadunidense e oferta de armas a carteis foram cruciais no processo histórico que levou ao atual narcotráfico mexicano

DEA
Estratégia militarizada de combate realizada entre os governos estadunidense e mexicano não foi capaz de diminuir a violência no México




Histórico

Podemos considerar fatores que produziram o caldo necessário para o quadro que se apresenta hoje: as tradições culturais de diversos países latino-americanos que já plantavam e produziam opiáceos, como a coca, a cannabis e posteriormente o ópio, após ondas de imigração chinesa; a rota de comércio que se formava dentro do continente americano, o desenvolvimento de movimentos armados em decorrência da Revolução Mexicana e do Cristero, produzindo o germe para a criação dos Cartéis. Além disso, há também a militarização da guerra às drogas e a posição periférica que se encontra a América Latina dentro do sistema capitalista global.

Tais aspectos remontam a séculos, mas o boom para o crescimento do mercado mexicano se inícia, como em grande parte do globo, durante o fim do século 19 e início do século 20. As evoluções ocorridas nesse período produziram avanços tecnológicos que permitiram a colocação no mercado das primeiras drogas eminentemente recreativas, como o ópio para fumo, cocaína e heroína. O hábito do consumo recreativo difundiu-se, por exemplo, como forma de escape da dura realidade vivida por operários e imigrantes. 

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Ao mesmo tempo, dado o crescimento do uso dessas substâncias, começam internacionalmente as primeiras iniciativas contra a utilização de narcóticos. A política adotada pelos países, a partir da Conferência de Xangai (1909), baseada no controle sobre a oferta e na moral, teve como consequência o agravamento do problema, uma vez que o uso e a venda de drogas passou a ser associado ao crime organizado.

Nesse processo, o mercado asiatico, grande exportador de drogas, sobretudo do ópio, passou a sofrer restrições que limitaram seu poder, levando a um crescimento de outros mercados ilegais, como por exemplo, o latino-americano. Nesse contexto, o mercado mexicano passa a se desenvolver dada sua proximidade com o principal país consumidor do continente, os Estados Unidos.

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Aspecto importante a ser ressaltado na relação da expansão do narcotráfico do México é a Era da Proibição de Drogas nos Estados Unidos, iniciada em 1909, radicalizada em 1920 com a aprovação da Lei Seca, e que perdura até hoje.

Ao privar os usuários de acesso a fornecimentos lícitos de opiáceos, o próprio Estado estimulou a expansão dos mercados ilícitos e da criminalidade. Levou ainda a uma mudança radical no perfil do consumidor: se antes era sobretudo a pessoa de meia-idade de classe média e sem histórico criminal, passou a ser o jovem de camada mais pobre com antecedentes criminais e, portanto, acesso mais fácil aos mercados clandestinos. A medida, além disso, aliemntou ainda mais o crime organizado, não só nos EUA, mas por seus arredores.

Ao mesmo tempo, tendo início na década de 1920, o Estado norte-americano começou a difundir o México como ameaça à segurança nacional, utilizando, sobretudo, a justificativa calcada na crescente preocupação com a venda e o consumo de drogas.  

De acordo com a pesquisadora Luisa Lopes da SIlva, em seu livro “A Questão das Drogas nas Relações Internacionais”, em 1929, por consequência da Grande Depressão, os imigrantes mexicanos residentes nos Estados Unidos não eram mais bem-vindos. A partir desse contexto, o plantio e consumo da maconha em solo estadunidense, comuns entre os residentes mexicanos naquele período e até então ignorados dada a insignificância do consumo no país, passaram subitamente a ser considerados um problema. Desse modo, a droga viu-se pela primeira vez associada aos imigrantes indesejados e, em consequência, estigmatizada nos EUA.

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Na década de 1950, o México já havia se tornado um grande fornecedor de maconha e cocaína para os Estados Unidos, apresentando o crescimento do narcotráfico dentro de seu território.

Apesar da intensa atividade contrária às drogas por parte da comunidade internacional, estas continuaram a ganhar adeptos em todo o globo, sobretudo a partir da segunda metade da década de 1960. ganharam inclusive conotação simbólica com os protestos contra a Guerra do Vietnã e as manifestações estudantis na época da explosão da contracultura.

Simultaneamente, em 1960, o México começou a ser pressionado pelos Estados Unidos por conta do crescimento exponencial do consumo de narcóticos no território estadunidense, alterando a percepção pública sobre o abuso de drogas em geral.

Em 1970, iniciou-se, oficialmente, a política que ficou conhecida como Guerra às Drogas, encabeçada pelo governo Nixon e levada adiante por seus sucessores.


A Política de Guerra às Drogas 

A política, desenvolvida oficialmente pelos Estados Unidos a partir dos anos 1970, se concentrou em esforços de redução da oferta e da demanda de drogas, através de intervenções repreensivas e da criminalização da produção, tráfico, porte e consumo de ilícitos.                

Nesse cenário, como o inimigo a ser combatido foi localizado fora das fronteiras estadunidenses, visto que os grupos narcotraficantes não são considerados originários dos Estados Unidos, o país promoveu intervenções como tática para combater a problemática.

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Tais intervenções aconteceram por meio da construção de bases ou operações militares em países estrangeiros ou através de programas de ajuda financeira.

Nesse contexto, como 80% das drogas consumidas no território norte-americano eram provenientes do México, o país logo foi identificado como o principal alvo da guerra às drogas.

A partir dessa conclusão, desde os anos 1970, durante o governo Nixon, os Estados Unidos iniciaram um processo constante de intervenção militar no México e estigmatização de sua população.

Em 2007, 37 anos depois do início da política de guerra às drogas, a temática das drogas mexicanas foi colocada novamente no centro das atenções, quando os presidentes estadunidense e mexicano finalmente criaram e divulgaram um projeto de cooperação bilateral intitulado “Iniciativa Mérida”.


Iniciativa Mérida

A Iniciativa Mérida foi criada após uma visita do presidente Bush à cidade de Mérida, Yucatán, a convite do presidente mexicano à época, Philipe Calderón. Surgiu como elemento da política externa do recém-eleito presidente do México, que assumiu o mandato em meio a grande violência no país devido ao narcotráfico, com inúmeras mortes de traficantes, policiais e civis, herdada do governo anterior, de Vicente Fox (2000-2006), o qual havia gerado um desequilíbrio entre as organizações do narcotráfico devido às prisões dos principais líderes dos cartéis de droga.

Seu principal objetivo era fortalecer o Estado mexicano na luta contra o narcotráfico e o crime organizado, visando aumentar a estabilidade e segurança no país. Não era um mecanismo que permitiria a vitória na guerra às drogas, mas sim um elemento que iria ajudar a reduzir e a controlar o problema de forma mais eficaz. O mais importante na cooperação bilateral era conseguir reduzir as principais consequências do narcotráfico: a violência e o problema de saúde pública.

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Calderón, com a Iniciativa Mérida, possuía o objetivo de fazer com que os Estados Unidos assumissem sua corresponsabilidade frente ao tema do narcotráfico por conta de sua enorme demanda de drogas, tráfico de armas e da lavagem de dinheiro que, apesar de estar em território norte-americano, influenciava a ação dos cartéis mexicanos        

Além disso, a Iniciativa Mérida foi uma tentativa de fazer com que os EUA apoiassem, com recursos financeiros, a luta mexicana contra o narcotráfico e o crime organizado. A mesma contava com o apoio de US$1,4 bilhão, valor que seria liberado ao longo de 2008, 2009 e 2010 para ser gasto em atividades de inteligência e em programas de modernização do funcionamento das agências de segurança e de justiça mexicanas, com programas de capacitação, treinamento e transferência de equipamentos especializados, sem contar com o apoio militar dos EUA.

A Iniciativa, que focou na esfera da segurança ao invés de buscar solucionar outras questões relevantes, tais como o comércio das drogas e de suas consequências, proporcionou resultados positivos apenas a médio prazo. 

No cronograma inicial da Iniciativa Mérida, a mesma se encerraria no ano de 2010, porém o presidente estadunidense da época, Barack Obama, tentou estender o prazo de término da cooperação, incluindo novos recursos estimados em 310 milhões de dólares destinados ao México, para que o país usasse esse orçamentado no ano de 2011, dando continuidade à cooperação também no governo seguinte, de Enrique Peña Nieto, em 2012.

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O novo presidente, junto do presidente dos Estados Unidos Barack Obama, redefiniu a Iniciativa Mérida em um novo esquema composto por quatro pilares: afetar a capacidade operacional do crime organizado, institucionalizar a capacidade de manter o Estado de direito e criar a estrutura de fronteira do século 21. No entanto, seu plano resultou em repressão militar, altos níveis de corrupção e impunidade, agravando ainda mais a violência no México.


As problemáticas da política de guerra às drogas

No contexto mexicano, as drogas geralmente são produzidas em regiões de montanha onde vivem, em sua maioria, camponeses pobres, os quais são coagidos a trabalhar para os narcotraficantes e produzir drogas em troca de uma renda extremamente baixa. 

Além disso, diversos policiais mexicanos são considerados corruptos e/ou estão infiltrados no narcotráfico, um dos motivos pelos quais os policiais estaduais e municipais foram substituídos pelas forças militares no combate às drogas na Iniciativa Mérida.

Os principais alvos da “guerra às drogas” seriam, portanto, os mais vulneráveis dentre esses produtores, comerciantes e consumidores. Os “inimigos” nessa guerra são os pobres, marginalizados, não brancos e desprovidos de poder. 

Tendo em vista a estrutura das iniciativas que foram realizadas, os narcotraficantes fortemente armados nunca foram os mais afetados nesse processo, tampouco os consumidores estadunidenses.

A infraestrutura social do México possui vínculo com o recrutamento no crime organizado. Pobres, jovens, desempregados, presidiários, órfãos e imigrantes entram para essas organizações criminosas devido ao seu estado de fragilidade social. Nesse sentido, a repreensão e a criminalização dos envolvidos com o narcotráfico não permitiu um ataque à raiz do problema, somente a seus sintomas.     

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A estratégia militarizada de combate realizada entre os governos estadunidense e mexicano não foi capaz de diminuir a violência no México durante os anos da Iniciativa Mérida, ao contrário, assistiu-se a uma maior penetração e corrupção do Estado pelos cartéis e a uma escalada da violência. Portanto, a cooperação bilateral entre os países vizinhos se mostrou insuficiente ao enfrentar o desafio representado pelos cartéis de droga mexicanos.


O cenário atual                

No dia 08 de outubro de 2021, México e Estados Unidos anunciaram o fim da Iniciativa Mérida e o início de uma nova aliança sobre segurança e a luta contra o crime organizado chamada Entendimento Bicentenário.

Os governos dos dois países debateram a mudança de estratégia de segurança comum, que até agora tem sido baseada na estratégia militar.

Acompanhado pelo secretário de Segurança Nacional dos EUA, Alejandro Mayorkas, e pelo procurador-geral Merrick Garland, Anthony Blinken declarou que os dois países deveriam se concentrar “não apenas no fortalecimento da aplicação da lei, mas também na saúde pública, no Estado de direito e na oportunidade econômica inclusiva”.

No mesmo sentido de mudança de abordagem em relação ao problema, o atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirma que a Iniciativa Mérida não poderia continuar porque a violência, seja ela do crime organizado ou da própria sociedade, não acabaria se continuasse a ser combatida com mais violência.

López Obrador implementou durante seu mandato programas sociais com o objetivo de fornecer maior segurança aos cidadãos mexicanos e acabar com a corrupção nas instituições públicas, o que pode favorecer seus investimentos em finalmente pôr um fim à questão do narcotráfico no país.

Dentre as mudanças implementadas pelo presidente, está o maior foco no combate ao recrutamento dos cartéis, por meio de programas de suporte a imigrantes mexicanos deportados dos Estados Unidos e jovens em situação de vulnerabilidade social.


As drogas no México hoje

Durante uma coletiva de imprensa realizada no Palácio Nacional em 18 de abril deste ano, Hugo López-Gattel, subsecretário de Saúde do México, afirmou que não há um problema relativo ao consumo de fentanil no país, mas sim de outras drogas. Segundo o subsecretário, as drogas mais vendidas e de maior consumo no México são as metanfetaminas. 

De acordo com o último relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODOC), os estimulantes do tipo anfetamina são um grupo de medicamentos que compreendem medicamentos com efeito estimulante do sistema nervoso central. O grupo inclui anfetaminas e metanfetaminas (conjuntamente denominadas de anfetaminas), certos produtos farmacêuticos (se utilizados para fins não médicos, tais como fentermina, metilfenidato, dexanfetamina ou dextroanfetamina), outros estimulantes (incluindo catinona, efedrina, pseudoefedrina) e também substâncias do tipo “ecstasy”, como MDMA e semelhantes. 

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Um nível mais elevado de consumo intensivo de metanfetaminas, em comparação com o consumo de outras anfetaminas, é claramente visível no México, onde 29.680 consumidores de metanfetaminas estavam em tratamento da toxicodependência em 2020, em comparação com apenas 727 consumidores de anfetaminas. 

O México relatou um aumento de 218% no número de clientes em tratamento de toxicodependência com ATS (principalmente metanfetamina) como droga principal entre 2013 e 2020, com as admissões de metanfetaminas a superarem até mesmo o álcool.

A cocaína representa o segundo grupo de substâncias mais utilizadas e a quarta droga primária mais notificada no início do tratamento da toxicodependência, com 12% das pessoas em tratamento a reportá-la em 2020.

Na visão relatada por López-Gattel, a alta taxa de consumo dessas substâncias se deve a um problema social de exclusão das camadas mais baixas da população nacional, com décadas de marginalização e perda de alternativas sobre o que fazer para mudar a situação. Ainda, esclareceu que quase metade dos usuários está na faixa etária de 18 a 25 anos.


O Fentanil 

Entre 2020 e 2021, mais de 100 mil pessoas morreram nos Estados Unidos em decorrência do uso de Fentanil. Dada a contínua popularização dessa droga nos últimos anos e o estado de insegurança instaurado pelo território estadunidense em decorrência do abuso dessa substância, o opióide tem ocupado cada vez mais os holofotes quando o assunto são drogas. 

De acordo com relatório publicado em fevereiro de 2022, pela comissão dos Estados Unidos contra o tráfico de opióides sintéticos, a principal causa da epidemia de opioides é o tráfico de fentanil e o México é a principal fonte do tráfico dessa droga no mundo. 

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Segundo o relatório, os cartéis produzem o opióide em laboratórios clandestinos, com precursores químicos provenientes em grande medida da China, que ingressam no país principalmente pelos portos de Lázaro Cárdenas, Michoacán, Mazatlán, Sinaloa e Colima.

O relatório destaca que os traficantes o escondem em quantidades difíceis de detectar em pacotes, veículos e pessoas e o passam como contrabando através da fronteira com os Estados Unidos.

Nos últimos dez anos, o fentanil tornou-se a maior causa de morte de adultos jovens nos Estados Unidos. O comércio ilegal de drogas mexicano se adaptou a esse cenário, mudando sua ênfase de drogas de origem vegetal para drogas sintéticas. Foi criado um ramo novo, enxuto e altamente lucrativo do narcotráfico, com menos trabalhadores e custos mais baixos, mas o mesmo grau de violência.


O tráfico de armas

Importante fator dentro do contexto do narcotráfico mexicano é a violência empreendida pelos cartéis de drogas. Nesse cenário, o arsenal que dispõem é central para o entendimento não só do tamanho de seu poder de resistência às investidas da política de guerra às drogas, como também da relação dos Estados Unidos para a expansão e vigência desse mercado. 

Em matéria da BBC News Brasil, em abril de 2022, o jornalista Bernd Debusmann Jr. se debruça sobre a questão do comércio de armas estadunidenses e a violência mexicana. Nesse sentido, afirma que “para quem está na linha de frente da guerra às drogas no México, a onipresença de armas fabricadas nos EUA tem sido um problema há muito tempo”.

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Sob tal quadro, a polícia mexicana diz que criminosos e gangues nas cidades fronteiriças dos EUA têm acesso imediato a armas compradas e contrabandeadas através da fronteira. 

Somente entre 1º de janeiro de 2019 e janeiro de 2021, a rede Milenio Televisión informou que 1.585 pessoas foram detidas por tráfico de armas, mais de 90% das quais eram cidadãos dos EUA. No mesmo período, dados oficiais compilados pelo Stop US Arms to Mexico, um projeto que visa reduzir as armas ilegais no país, mostram que 11.613 armas foram apreendidas pelo Exército.

Dentro desse contexto, as autoridades mexicanas dizem que os regulamentos de armas de fogo muito diferentes são a raiz do problema. O México tem apenas uma loja de armas, uma estrutura em um complexo militar da Cidade do México, que exige que os compradores forneçam uma papelada enorme e se submetam a cansativas verificações de antecedentes que podem levar meses. As rigorosas leis mexicanas exigem que as armas sejam registradas junto ao governo federal e limitam seu tipo e calibre. Mas ao norte da fronteira, conseguir uma arma é muito mais fácil. 

Além disso, as autoridades mexicanas argumentam que o fluxo constante de armas das fontes estadunidenses é o principal fator de violência no país.

Em 2023, segundo um estudo do projeto de pesquisa Small Arms Survey, altos índices de violência armada na região do Caribe são alimentados pelo envio de armas em pequena escala, principalmente a partir dos Estados Unidos, por meio de empresas de navegação, linhas aéreas comerciais e por correio.

O trabalho confirmou que mais da metade das 29 redes de tráfico estudadas em informes jurídicos utilizaram companhias de navegação, em sua maioria baseadas no estado estadunidense da Flórida, para introduzir armas e munições de contrabando, enquanto que quase uma de cada cinco utilizou linhas aéreas comerciais, com ajuda de pessoal corrupto no aeroporto.

Esta situação contribui para que os países caribenhos sofram três vezes mais mortes violentas do que a média mundial, ainda que tenham implementado regulamentações estritas sobre a posse de armas e a fabricação destes artefatos.

Desde 2021, o governo do México tenta mover ações contra fabricantes de armas com sede nos Estados Unidos a fim de acabar com o tráfico de armas do país vizinho e com isso diminuir o poder de fogo dos cartéis mexicanos.

Isabelle Paiva | Graduanda em Ciências Sociais e estagiária da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Isabelle Paiva Graduanda em Ciências Sociais e colaboradora da Diálogos do Sul.

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