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ToggleO Brasil completou 1 ano do registro do primeiro caso da Covid-19 (ocorrido na cidade de São Paulo no dia 26/02/2021) batendo diversos recordes negativos. No dia 18/02, foi alcançado o montante de 10 milhões de pessoas infectadas. No dia 25/02/2021 o Ministério da Saúde informou que o país ultrapassou 250 mil vidas perdidas para a Covid-19 e registrou 1.541 óbitos em 24 horas (representando mais de uma morte por minuto).
No dia 26/02 a média móvel de vítimas fatais ficou em 1.153 óbitos diários, recorde absoluto do primeiro ano da pandemia. No dia 27/02, um novo recorde ainda mais elevado foi alcançado com 1.178 óbitos diários e uma média móvel de 54 mil casos em 24 horas.
O Brasil teve 59,3 mil mortes nos primeiros 58 dias de 2021 (1.022 óbitos na média de cada santo dia do ano).
Portanto, o país vive o pior momento da pandemia e os números de 2021 são, substancialmente, mais elevados do que os dados correspondentes de 2020.
O descontrole é geral e o SARS-CoV-2 vem causando estragos crescentes em todo o território nacional.
Agravamento no pós fim de ano e carnaval
Após as festas de fim de ano a situação se agravou em janeiro e após o carnaval o quadro se deteriorou profundamente em fevereiro. Para piorar o cenário, há indicações de que as marcas recordes de fevereiro serão superadas de forma ainda mais terrível em março.
No final do primeiro bimestre de 2021, ao menos 12 estados e o Distrito Federal implementaram restrições para conter o crescimento de casos e de mortes da Covid-19.
Boletim recente da Fiocruz mostra que pelo menos 17 capitais estão com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados, sendo que em 7 delas os leitos de UTI estão com mais de 90% de ocupação.
O governador da Bahia, Rui Costa, disse que a Covid-19 vai levar o Brasil a “mergulhar no caos em duas semanas”. Indubitavelmente, o perigo é real e iminente. Mas não dá para entregar os pontos e tomara que este cenário seja revertido e que o país consiga mudar o pico da curva epidemiológica, iniciando a fase de redução das infecções e a diminuição consistente da quantidade de mortes.
Cenário internacional é melhor
No plano internacional, felizmente, o panorama é mais esperançoso, pois há redução dos casos e dos óbitos, embora os números globais da pandemia ainda estejam em um patamar elevado.
Entre os 5 países com maior número acumulado de casos, apenas o Brasil apresenta tendência significativa de alta. Nos EUA, a média móvel de infecções caiu de 256 mil casos diários em 11/01 para 72 mil casos em 27/02, enquanto a média móvel de mortes caiu de 3.443 óbitos em 27/01, para 2.040 óbitos em 27/02.
Na Índia, a média móvel de infecções caiu de 93 mil casos diários em 16/09/20 para 15 mil casos em 27/02, enquanto a média móvel de mortes caiu de 1,166 óbitos em 19/09/20, para 105 óbitos em 27/02.
Na Rússia, a média móvel de infecções caiu de 29 mil casos diários em 27/12/20 para 12 mil casos em 27/02, enquanto a média móvel de mortes caiu de 560 óbitos em 22/01, para 415 óbitos em 27/02.
No Reino Unido, a média móvel de infecções caiu de 60 mil casos diários em 10/01 para 9,7 mil casos em 27/02, enquanto a média móvel de mortes caiu de 1,248 óbitos em 23/01, para 360 óbitos em 27/02.
A acentuada queda no número de casos, de internações hospitalares e de mortes no Reino Unido tem ocorrido de forma mais rápida na 2ª onda do que na 1ª onda. O que ocorreu foi a combinação de um “lockdown” bastante efetivo com um programa acelerado de vacinação.
O Reino Unido já vacinou 30% da população e o governo britânico afirmou que “dados iniciais” sugerem que as vacinas também reduzem a transmissão do vírus. Mas é interessante observar o que ocorre nos dois locais mais avançados no plano de imunização em massa.
Acre.com
No dia 26/02 a média móvel de vítimas fatais ficou em 1.153 óbitos diários
O caso de Gilbratar
Gibraltar é um pequeno território britânico que fica na entrada do mar Mediterrâneo (entre a Espanha e Marrocos), possui uma população de 34 mil habitantes e, no dia 27/02/21, registrava apenas 4.238 casos e 93 mortes. Porém tinha um coeficiente de incidência de 125,8 mil casos por milhão e 2,8 mil mortes por milhão (o maior do mundo).
Com o apoio do governo do Reino Unido, Gibraltar conseguiu vacinar 100% da sua população até o dia 27 de fevereiro e passou a ser um “laboratório” de estudo para um local onde todos os habitantes foram imunizados (com pelo menos uma dose).
O que os gráficos abaixo mostram é que a média móvel de casos que estava em 127 casos diários no dia 07 de janeiro, caiu para 2 casos no dia 27 de fevereiro e a média do número de mortes que estava em 5 óbitos no dia 20/01 passou para uma média de 1 ou zero óbito na última semana de fevereiro. Gibraltar parece indicar que 100% da população vacinada é um meio eficaz, mas não exclusivo, de controlar a pandemia.
O outro país mais avançado no processo de vacinação é Israel – que é um país com 9,2 milhões de habitantes – e que já havia vacinado 92% de sua população até o dia 26/02. Os números acumulados da covid-19, em Israel, atingiram o montante de 773,3 mil casos e de 5,7 mil mortes até 27/02, com coeficiente de incidência de 84 mil casos por milhão e 623 óbitos por milhão. O gráfico acima mostra que a média móvel de infecções que estava em 8,4 mil casos diários no dia 14/01, caiu para 3,2 mil casos no dia 20/02, mas subiu ligeiramente para 4,2 mil casos no dia 27/02. A média do número de mortes que estava em 62 óbitos dia 26/01 caiu para uma média de 24 óbitos no dia 26/02, mas também subiu ligeiramente para 30 óbitos no dia 27/02. Desta forma, o processo de vacinação em Israel contribuiu para a diminuição do número de casos e de mortes, mas não teve, por enquanto, a mesma eficácia de Gibraltar.
Outros países que estão avançados no processo de vacinação são Seychelles (76%), Emirados Árabes Unidos (60%), EUA (21%) e Chile (17,5%). O Brasil vacinou apenas 3,8% da sua população até o dia 26 de fevereiro. No mundo já foram aplicadas 235 milhões de doses (representando 3% da população mundial). O que todos estes dados mostram é que a vacinação, em geral, avança em ritmo lento na maioria dos países do mundo. E mesmo no caso dos países que tiveram sucesso no plano de imunização, as medidas preventivas (como uso de máscaras, higiene das mãos, distanciamento social etc) continuam sendo essenciais para o controle e para a eliminação do SARS-CoV-2.
O panorama nacional da covid-19
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil fechou a sua pior semana epidemiológica com números acumulados de 10.517.232 pessoas infectadas e 254.221 mil vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 2,4%. Os valores semanais apresentam recordes terríveis, como apresentado nos gráficos a seguir.
O gráfico abaixo mostra a média diária de casos nas diversas semanas epidemiológicas de 22 de março de 2020 a 27 de fevereiro de 2021. Nota-se que o número de casos subiu rapidamente de março até o pico de 45,7 mil casos diários na semana de 19 a 25/07. A partir do final de julho o número médio de casos, com algumas oscilações, caiu até o mínimo de 16,8 mil casos na primeira semana de novembro. Mas a partir daí teve início uma 2ª onda de contágio que culminou com 47,5 mil casos em meados de dezembro, uma breve queda nos feriados de fim de ano e um pico da curva epidemiológica no valor de 54,1 mil casos diários na semana de 10 a 16 de janeiro de 2021. Nas 5 semanas seguintes houve uma pequena queda, mas na semana passada a média diária voltou, aproximadamente, ao mesmo valor do pico ocorrido em janeiro. Ou seja, o Brasil apresentou mais uma vez a espantosa média de 54 mil casos diários.
O gráfico abaixo, mostra a variação média diária de óbitos nas diversas semanas epidemiológicas de 22 de março de 2020 a 27 de fevereiro de 2021. Observa-se que o número diário de óbitos da covid-19 passou de 13 vítimas diárias na semana de 22 a 28 de março para o pico de 1.097 em 19 a 25/07. Nas semanas seguintes, com pequenas oscilações, os números foram caindo até 343 óbitos diários em 01 a 07/11. Porém, houve inflexão da curva e o número médio de vítimas fatais chegou a 1.071 óbitos em 24 a 30 de janeiro de 2021. A média de vítimas fatais diminuiu um pouco nas semanas seguintes, mas bateu o recorde absoluto de 1.178 óbito na semana de 21 a 27 de fevereiro, confirmando a semana mais letal de toda a série histórica da pandemia.
O gráfico abaixo mostra os números diários de casos e de mortes da covid-19 no Brasil entre 29/03/2020 e 27/02/2021. Nota-se que todas as baixas acontecem nos fins de semana e as elevações nos dias úteis, mas as linhas (pontilhadas) do ajuste polinomial de terceiro grau apresentam uma suavização das oscilações sazonais. As curvas epidemiológicas estavam subindo no primeiro semestre de 2020 e atingiram um pico em junho e julho. Nos meses seguintes houve queda do número de casos e de mortes. Em novembro, teve início a 2ª onda e as curvas passaram a apresentar uma tendência de alta. As projeções do ajuste polinomial indicam que os valores diários de casos e mortes devem bater novos recordes em março de 2021.
O panorama global da pandemia
O mundo chegou a 114 milhões de pessoas infectadas e a 2,53 milhões de vidas perdidas para a covid-19 no dia 27 de fevereiro de 2021, com taxa de letalidade de 2,2%, segundo o site Our World in Data, com base nos dados da Universidade Johns Hopkins.
O gráfico abaixo mostra a evolução da média diária dos casos de covid-19 no mundo, desde o início de março de 2020. Nota-se que o número de infecções passou de 3 mil casos diários entre 01 e 07 de março para 261 mil casos de 09 a 15 de agosto. Até final de outubro os números ficaram abaixo de 500 mil casos. Mas em novembro e dezembro eles subiram, com ligeira redução no final do ano e um pico absoluto de 728 mil casos na semana de 03 a 09 de janeiro de 2021. A partir daí houve uma queda abrupta e o número de casos diários atingiu 387 mil casos na semana de 21 a 27 de fevereiro.
O gráfico abaixo mostra a média diário de óbitos no mundo por semanas epidemiológicas. Na primeira semana de março houve menos de 1 mil mortes diárias, mas na semana de 29/03 a 04/04 já tinha saltado para 5,2 mil óbitos diários. O primeiro pico aconteceu na semana de 12 a 18 de abril com 7 mil mortes diárias. Nas semanas seguintes os números variaram, mas foram sempre menores do que o pico de abril, atingindo 6,5 mil na última semana de outubro. Todavia, nas semanas de novembro foram batidos recordes sucessivos e na quarta semana o limiar de 10 mil mortes diárias foi ultrapassado. O pico da 2ª onda ocorreu na semana de 24 a 30 de janeiro, com 14,1 mil óbitos. No mês de fevereiro houve queda, com média de 9,5 mil vítimas fatais na semana retrasada e 9,2 mil óbitos na semana que passou.
A covid-19 já atingiu 218 países e territórios e o mês de janeiro de 2021 foi o mais letal de toda a pandemia global, mas o mês de fevereiro já apresentou queda. No dia 01 de março de 2020, havia somente 1 país com mais de 10 mil casos confirmados de Covid-19 (a China) e havia 5 países com valores entre 1 mil e 10 mil casos (Irã, Coreia do Sul, França, Espanha, Alemanha e EUA). No dia 01 de abril já havia 50 países com mais de 1 mil casos, sendo 36 países com montantes entre 1 mil e 10 mil casos, 11 países com números entre 10 mil e 100 mil e 3 países com mais de 100 mil casos. No primeiro dia de 2021 já havia 175 países com mais de 1 mil casos e 18 países com mais de 1 milhão de casos.
Os números continuaram aumentando e em 01 de março de 2021 serão contabilizados 185 países com mais de 1 mil casos, sendo 46 entre 1 mil e 10 mil casos, 56 países entre 10 e 100 mil casos, 62 países entre 100 mil e 1 milhão de casos e 21 países com mais de 1 milhão de casos. A lista dos 21 primeiros colocados do ranking, com a data em que chegaram à marca de 1 milhão, são: EUA (27/04), Brasil (19/06), Índia (16/07), Rússia (01/09), Espanha (15/10), Argentina (19/10), França (23/10), Colômbia (24/10), Turquia (28/10), Reino Unido (31/10), Itália (11/11); México (15/11), Alemanha (26/11), Polônia (02/12), Irã (03/12), Peru (22/12), Ucrânia (24/12), África do Sul (26/12), Indonésia (26/01), República Tcheca (01/02) e Holanda (06/02)
A pandemia atingiu todos os países e todos os continentes do mundo, se transformando em um acontecimento global sem precedentes e sem data para terminar. A dificuldade para a erradicação do vírus decorre da falta de unidade de ação entre o Poder Público e a sociedade civil e em função das mensagens desencontradas que negam a gravidade da pandemia. Além do mais, ainda não se sabe a duração da imunidade adquirida por conta da infecção ou da vacinação e nem foram estudas as características das variantes que estão surgindo e acelerando o contágio em diversos locais, além da questão da reinfecção que pode ser um desafio incomensurável.
Passado um ano da pandemia, o Brasil tem mais de 10 milhões de casos e mais de 250 mil vidas perdidas para a covid-19 indicando que o novo coronavírus não é uma “gripezinha”. O SARS-CoV-2 provocou um pandemônio econômico e social e traumas individuais e coletivos. Em geral, a incompreensão e o desconhecimento imperam numa sociedade desigual, com alta heterogeneidade estrutural e extremamente polarizada, dificultando soluções consensuadas. Se não há possibilidade de consenso, pelo menos deveria haver bom senso. Não obstante, a confusão tem predominado sobre a explicação, dificultando a aceitação do conhecimento científico e academicamente esclarecido.
O Marquês de Condorcet – grande matemático, filósofo e expoente do iluminismo francês – acreditava na ciência e na educação universal da população. Ele dedicou sua vida à defesa da liberdade e ao combate aos preconceitos, às crendices e ao obscurantismo. Nem a dor da perda de um familiar e amigo tem possibilitado a compaixão e a paz social e política. Condorcet, que acreditava no poder da razão e na “perfectibilidade humana”, ficaria espantado com a situação atual do Brasil onde o negacionismo científico se espalha pelo tecido social brasileiro, generalizando a difusão de “fake news” e, também, disseminando ataques ao senso comum e à ordem constitucional.
Frase do dia 28 de fevereiro de 2020
“Sob a mais livre das constituições, um povo ignorante é sempre escravo”
José Eustáquio Diniz Alves, sociólogo, mestre em economia e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-doutorado no Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP. É professor e pesquisador independente
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