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"Equador está à beira do colapso democrático", denuncia Andrés Arauz, favorito à presidência

Eleição será em fevereiro. País vive uma importante crise política com governo de Lenín Moreno. “Nesta eleição, jogamos nossa vida” diz candidato
Redação Pressenza
Pressenza
Quito

Tradução:

Em entrevista exclusiva, comunicadores do Fórum de Comunicação para a Integração de NossAmérica (FCINA) dialogaram com Andrés Aráuz, candidato à Presidência do Equador pela Frente União pela Esperança (UNES).

Participaram do encontro a Agência Latinoamericana de Informação (ALAI), a Associação Latinoamericana de Educação e Comunicação Popular (ALER), o Centro Latinoamericano de Análise Estratégica (CLAE), as agências internacionais de notícias Prensa Latina e Pressenza e o Sistema Informativo da Televisão Cubana.

A seguir os conceitos básicos da conversa:

Como contexto geral, o entrevistado traçou um quadro desolador da situação atual de seu país, atravessado por uma forte crise sanitária e econômica. “A intenção do governo foi debilitar o aparato público para promover as privatizações”, indicou, adotando políticas que favoreceram o capital financeiro internacional.

Em relação à pandemia, “o Equador tem hoje os níveis mais altos de mortalidade” em relação a sua população, o que o economista atribuiu “não à falta de recursos, infraestrutura pública ou disponibilidade de medicamentos e materiais”, e sim a decisões equivocadas que priorizaram atender a dívida externa e não o povo.

“Estamos à beira do colapso democrático no Equador”, denunciou, referindo-se às tentativas de proscrição da chapa progressista. Finalmente, a mobilização cidadã e a solidariedade internacional tornaram possível que a dupla que Aráuz encabeça esteja na papeleta de votação. 

A dívida pendente com a democratização da comunicação

Consultado sobre as perspectivas de democratizar a comunicação uma vez conquistado o governo, Aráuz reconheceu a dívida pendente nesta matéria e afirmou que é preciso cumprir o mandato constitucional de distribuição equitativa do espectro radioelétrico de maneira efetiva e não apenas formal.

“Vamos impulsionar a Televisão Digital Aberta, para que não esteja concentrada em quatro ou cinco canais”, declarou. “Assim como se deve respeitar o direito à plena liberdade de expressão, também devem ser respeitados outros direitos, como o acesso à informação, o direito à honra, a luta contra a xenofobia, o racismo, o machismo e os discursos de ódio e se promova a participação de setores que não tiveram voz nos espaços de comunicação”.

Afirmou ainda que é necessário tomar medidas para não serem submetidos ao colonialismo digital vigente. Em relação à mídia pública enfatizou seu papel protagônico, não a serviço de um governo, e sim com uma governança compartilhada para que tenha uma linha plural e independente com objetivos de caráter social e público. Finalmente, defendeu uma distribuição equitativa e transparente da publicidade oficial.

Recuperar a UNASUL, o Banco do Sul e institucionalizar a CELAC

Sobre a integração regional, o candidato da UNES mostrou interesse em estimulá-la. “O Equador será novamente um promotor decidido e dedicado da integração regional”. “Vamos retomar a UNASUL e reclamar o direito de ser novamente sua sede, como reza seu Tratado Constitutivo, vamos recuperar o Banco do Sul”, disse Aráuz, que também foi parte de sua construção, “para pô-lo a serviço da soberania regional”.

Eleição será em fevereiro. País vive uma importante crise política com governo de Lenín Moreno. “Nesta eleição,  jogamos nossa vida” diz candidato

TeleSUR
Andrés Aráuz, candidato à Presidência do Equador pela Frente União pela Esperança (UNES).

Em outra de suas definições, asseverou que a “América Latina e o Caribe precisam dar um passo fundamental, institucionalizando a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELAC)”. Segundo o candidato à presidência equatoriana, é preciso ir além da dinâmica de presidências pro-tempore para dar permanência a seu funcionamento por meio de “uma secretaria geral e de uma sede a partir da qual possa construir-se uma agenda de integração latinoamericana de longo prazo”.

Em seguida enunciou um conceito de grande significado: “Queremos injetar uma nova dimensão na integração, que é a potência da integração a partir dos povos”, comprometendo-se a pôr o máximo empenho para consegui-lo. “Para que, dessa maneira, o tecido social latinoamericano se aprofunde não só em nível de Estados, e sim em nível de nossos povos”, acrescentou, lançando a proposta de um milhão de bolsas para o intercâmbio estudantil entre os distintos países da região.

Uma agenda programática com a vida humana no centro, a preservação da democracia e a recuperação da dignidade.

Sobre a necessidade de conseguir a unidade do campo popular para derrotar o neoliberalismo e o neocolonialismo, o candidato do campo progressista advertiu quanto às tentativas de dividir o campo popular com argumentos provenientes do campo hegemônico. “Temos que ter consciência e visão histórica para entender a necessidade desta unidade”. “Nesta eleição, jogamos nossa vida” afirmou, implicando o governo de Lenin Moreno na responsabilidade pelo assassinato e a repressão a milhares de equatorianos.

“Estamos fazendo aproximações honestas, não na base de pactos eleitoreiros, mas na base de uma agenda programática para os próximos vinte anos, com a vida humana no centro, a preservação da democracia e a recuperação da dignidade”, proclamou Aráuz, declarando-se otimista quanto à obtenção e a consagração da unidade das forças populares.

Implementar saídas para a crise: Sabemos como fazer isso. Fizemos no passado e vamos fazê-lo novamente.

Ante a pergunta sobre os pontos de sua plataforma de governo para sair da crise profunda em que se encontra o país, afirmou: “vamos receber um país em ruínas, até pior do que está agora”. Faltando sete meses de governo, Aráuz denunciou os novos acordos com o FMI, que vão maximizar o dano infligido ao povo equatoriano. Lançou uma mensagem aos “interessados em negociatas de última hora, de privatizações a preço de corona vírus, a preço de galinha morta”, manifestando com firmeza que essas operações serão revertidas por carecer de legitimidade.

Convidou investidores sérios a construir infraestrutura, fibra ótica, instalações, coisas novas, não para “aproveitar-se do que o povo equatoriano construiu com muitíssimo esforço”.

Recuperaremos o equilíbrio macroeconômico de maneira paulatina, mas esta não é nossa prioridade, indicou o mestre em Economia do Desenvolvimento pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO). É imperdoável que no Equador, como potência agroalimentar, cerca de 15% da população já não possa cobrir suas necessidades básicas. “Vamos aplicar uma política fortemente redistributiva, mediante financiamento interno”, disse, agregando que serão injetados recursos nas economias das pessoas, hoje asfixiadas pelas dívidas e a falta de oportunidades de trabalho.

Declarou sua intenção de impulsionar políticas estruturais a favor de um “trabalho digno universal, para que aquele que queira trabalhar possa trabalhar”, enfatizando o trabalho como um direito humano.

Estimular a Paz como princípio vetor da relação entre os povos latinoamericanos

Sobre a possibilidade de um retorno da missão médica cubana como um apoio frente à crise sanitária que vive o Equador, afirmou que seu governo fará o pedido para que esta possa regressar ao país para salvar vidas. Correndo risco de ser indiscreto, contou que já tiveram contatos com a embaixada de Cuba para aplainar o caminho para essa solicitação, caso chegue ao governo.

Acerca da participação do Equador no Grupo de Lima, Aráuz disse claramente não querer pertencer a grupos de países que fomentam a divisão entre latinoamericanos. “Não participaremos desse grupo, não temos nada a fazer ali. Impulsionaremos a Paz como princípio vetor da relação entre os povos latinoamericanos”. Os conflitos podem ser resolvidos de maneira consensada em espaços como a CELAC.

A respeito dos acordos de cooperação militar com os EUA feitos pelo atual governo, o candidato da UNES referiu-se ao mandato constitucional que proíbe bases militares estrangeiras em território equatoriano. Hoje existe uma base onde operam serviços de inteligência nas Ilhas Galápagos, depois que o Equador denunciou o TIAR. Não há nenhum marco legal, nenhum protocolo legítimo para isso.  “Vamos exercer a soberania plena sobre o território nacional.

O esquema atual de acordos com o FMI não poderá ser respeitado porque debilita ainda mais a situação das famílias equatorianas, fomenta a despensa, a redução salarial e a precarização, a saída de capitais e não estimula o crescimento. “Não vamos cumprir essas condições. Se quiserem apoiar nosso plano soberano, sejam bem vindos”, disse.

Em defesa dos direitos humanos de Julian Assange

Com relação à expulsão da embaixada do Equador em Londres de Julian Assange, foi-lhe perguntado se seu governo tomará a iniciativa para tentar deter a palhaçada jurídica em curso contra o jornalista. Ao que Aráuz respondeu que, uma vez investigadas as circunstâncias em torno da cidadania equatoriana de Assange – outorgada e extirpada pelo próprio governo de Moreno – é desejável a restituição da mesma, para poder proteger seus direitos.

Medidas para combater a violência contra as mulheres e tornar realidade a plurinacionalidade e a interculturalidade

Também lhe foi perguntado quanto ao lugar da mulher e dos indígenas no futuro governo. O aspirante à presidência relatou que recentemente tiveram uma importante reunião com o setor indígena em Cayambe, “para poder restabelecer os laços de fraternidade que unem o progressismo com os povos e nacionalidades indígenas do Equador”. A plurinacionalidade e a interculturalidade reconhecidas na Constituição, devem refletir-se na realidade, por meio de políticas públicas, disse. “Assumimos compromissos fortes nessa direção e veremos para que se cumpram ao longo de nosso governo”.

Já há 82 feminicídios no Equador ao longo deste ano. “Isso é intolerável. Combateremos frontalmente a violência de gênero, a violência contra as mulheres”.

Renovação geracional versus velha política

A respeito da renovação geracional que ele próprio representa e as aspirações de uma nova sensibilidade emergente nos jovens, Aráuz disse que “só a Revolução Cidadã abriu as portas à renovação geracional nas candidaturas presidenciais. Sentimo-nos tributários dessa exigência da cidadania, de uma mudança de gerações, de ideias frescas, de juventude de pensamento, de criatividade e inovação na política pública”.

“Não nos motiva a forma de fazer da velha política, da cotovelada limpa, da armadilha, da manipulação. Interessa-nos pôr nossa formação e convicção a serviço do povo equatoriano para dar soluções”, concluiu.

A construção de poder popular

Ante a possibilidade de retomar a raiz de um governo popular na base da experiência da Revolução Cidadã, perguntou-se a ele sobre que questões do ciclo anterior aprofundar e que outras fazer diferente. “Onde temos que ser melhores, que foi o que não se conseguiu na fase anterior da Revolução Cidadã é a construção de poder popular”, afirmou.

Isto é essencial para prevenir novas traições ou desvios do caminho decidido. O povo, por meio de sua organização e mobilização deve poder revogar o mandato. É preciso fortalecer a participação cidadã, para que, vigilante e mobilizada, resguarde a agenda programática. É provavelmente a maior deficiência a sanar, disse Aráuz.

O que a Revolução Cidadã fez bem e vamos fazer de novo é a gestão do que é público, um governo a serviço das grandes maiorias, acrescentou.

A Paz na Colômbia e na região

Frente à consulta sobre o que fará sua gestão pela Paz na Colômbia e a Paz regional, o concorrente às eleições de fevereiro de 2021 respondeu que se seu governo for convocado como mediador, garante, como sede ou simplesmente para convocar reuniões entre as partes para enfrentar o conflito que vive a irmã Colômbia, terá plena disposição para fazê-lo.

“Se nos convidarem, contem conosco. Somos uns convencidos da Paz”.

A mobilidade humana como assunto de Estado

Ante a pergunta sobre como abordaria em um futuro governo a questão migratória, replicou que “a mobilidade humana é para nós um assunto de Estado”. O que Araúz traduziu em detalhe, mencionando a intenção de estabelecer uma seguridade social iberoamericana, “oxalá também de acordo com os Estados Unidos, a fim de estabelecer a compatibilidade dos processos entre contribuições e aposentadoria”, repatriação de cadáveres, assistência legal a compatriotas emigrados, entre outras políticas.

Há coincidências com outros governos da região com os quais é possível armar um esquema de cooperação para proteger o direito humano de migrar, a mobilidade humana e que isto não seja motivo de discriminação.

Sobre possíveis contatos estabelecidos com presidentes progressistas da região, em função de retomar a integração regional, Aráuz afirmou que já conversou com o presidente argentino Alberto Fernández e que foi convidado para a posse presidencial de Luis Arce na Bolívia. Estamos caminhando para a fraternidade entre os líderes progressistas.

No encerramento, insistiu na ideia guia que seguramente levará a bom porto sua aspiração transformadora: “Nossa energia e dedicação estará destinada a impulsionar a integração que realmente queremos, a integração entre os povos. E esperamos que nossos irmãos governantes também trabalhem nessa direção”.

Tradução de Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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