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Escândalo de corrupção estremece uribismo e pode levar à prisão ex-candidato a presidente

Em áudios divulgados, Óscar Iván Zuluaga admite que sua campanha recebeu pelo menos 1,6 milhão de dólares da multinacional Odebrecht
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Um padre que o alentava a mentir, um aliado que o traiu e um ex-presidente que chorou com ele quando apareceram os primeiros indícios de que a Odebrecht havia financiado sua campanha eleitoral, são apenas alguns dos picantes ingredientes da trama de corrupção que hoje coloca Óscar Iván Zuluaga às portas de prisão, nove anos depois de ter tentado chegar à presidência da Colômbia com a benção de Álvaro Uribe.

Áudios revelados pela Promotoria-Geral nos quais se escuta a Zuluaga admitir que à sua campanha haviam entrado pelo menos 1,6 milhão de dólares da multinacional Odebrecht, além de numerosas gravações nas quais o ex-candidato reconhece ter feito várias jogadas para impedir que as autoridades eleitorais o investigassem, deixaram em evidência um entramado de corrupção no qual se escutam os nomes de três ex-presidentes – Álvaro Uribe, Juan Manuel Santos e Iván Duque – assim como do atual Registrador do Estado Civil, Alexander Vega, e de um filho de Zuluaga que se desempenhou como gerente da campanha eleitoral.

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O autor intelectual deste tsunami político é Daniel García, um opaco ex-funcionário do governo de Uribe que trabalhava na campanha eleitoral de Zuluaga e que havia se convertido no principal candidato a pagar todos os pratos quebrados do escândalo. Por instruções do candidato presidencial, foi ele que tramitou diante de funcionários da Odebrecht o pagamento de suculentos aportes. No entanto, García foi alimentando suspeitas sobre o papel que o poriam a desempenhar na casa de que fosse destapasse o escândalo e gravou durante anos suas conversas com Zuluaga. A gota que transbordou o copo de seus temores chegou em 2022, quando o Centro Democrático, o partido de Uribe, não só lhe impediu de se inscrever como candidato ao Senado, mas o expulsou. Foi então que decidiu entregar seu arsenal de gravações à Promotoria. 

“Não vou eludir minha responsabilidade, nem vou me esconder, nem vou lavar as mãos com ninguém, eu não ajo assim, tenha convicção sobre isso” lhe diz Zuluaga a García quando as águas começaram a ficar turvas e todos já sentem que a panela podre está por destapar-se.

Em áudios divulgados, Óscar Iván Zuluaga admite que sua campanha recebeu pelo menos 1,6 milhão de dólares da multinacional Odebrecht

RTVC
Óscar Iván Zuluaga, uribista ex-candidato à presidência

Mão direita

Em um intento mais sutil por atenuar as preocupações de quem havia sido sua mão direita na campanha eleitoral, o ex-candidato lhe narra um encontro que teve com um sacerdote de nome Arturo. “Ele me iluminou, Daniel, e me falou da restrição mental, que é um princípio moral. Me disse que eu tinha o direito de proteger minha família pois estamos rodeados de muita maldade e não temos a obrigação de nos imolar”. Zuluaga insta Garcia a visitar o podre e este aceita com uma condição: “vou falar com ele sozinho”. 

Os áudios em poder da promotoria não revelam se Garcia se confessou com o sacerdote, mas deixam ver que Zuluaga está sob os efeitos da culpa por ter envolvido seu filho nas transações da Odebrecht: “para mim este é um assunto de pai e filho, minha família não resiste mais a essa merda (…) o desespero é muito grande, isto é um inferno”. 

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Já entrando no inferno, Zuluaga toma uma decisão que terminou pondo na cena do crime o ex-presidente Uribe, a quem visita quando este se repõe de uma cirurgia: “Foi um encontro difícil. Fui com minha senhora e ele estava com dona Lina, falando besteiras, que o partido, que as listas (…) me sentei e lhe fiz uma descrição de tudo da Odebrecht”, lhe disse Zuluaga a Uribe. E agrega que se tiver que aceitar sua culpa e “dizer que fiz coisas que não fiz, vou fazer para salvar meu filho”. 

O final da cena não está isento de melodrama. “Foi muito difícil, eu chorei e ao ex-presidente lhe escorreram as lágrimas”. 

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Álvaro Uribe se pronunciou nesta segunda-feira (3) e qualificou de “tragédia” o episódio envolvendo aquele que foi seu ministro da Fazenda entre 2007 e 2010. E com a mirada fixa nas eleições de outubro próximo, se mostrou como alguém que foi vítima de sucessivos truques: “Elegemos a Santos e terminou com (as) FARC, subornos e Odebrecht; congressistas com delitos de dinheiros entregues pelo governo Duque. Tudo um engano a tantos que fizeram bem e acreditam nestas teses. Vou convidar a tomar decisões para não afetar aqueles que merecem a minha confiança popular”, expressou o ex-presidente. 

Segundo o analista político Horacio Duque, este escândalo “incidirá sem dúvida nas eleições de outubro, afetando principalmente às forças políticas que tiveram historicamente obscuros financiamentos, como o uribismo e o santismo, mas também os partidos tradicionais liberal e conservador”. 

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Em declarações ao La Jornada, Duque agregou que outro fator com incidência nas eleições regionais será a recente divulgação de terríveis testemunhos de ex-militares que reconheceram sua participação no assassinato de centenas de civis aos quais depois faziam aparecer como guerrilheiros abatidos em combate. Estes delitos de lesa humanidade ocorreram principalmente durante os dois mandatos do presidente Uribe, nos quais – segundo atestaram os oficiais e suboficiais – seus superiores pediam “litros e rios de sangue”. 

“A exitosa semana de governo do presidente Gustavo Petro em La Guajira, que seguramente se replicará em outros departamentos historicamente abandonados pelo Estados, também se verá refletida nos resultados eleitorais de outubro”, assinalou o analista. 

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A cargo destas eleições, nas quais se elegerão governadores e prefeitos, está a Registradora Nacional, cujo atual diretor, Alexánder Vega, aparece nos áudios de Zuluaga. Segundo o ex-candidato, quando Vega era presidente do Conselho Nacional Eleitoral, manobrou para arquivar as investigações sobre aportes da Odebrecht às campanhas de Santos e Zuluaga. O hoje imputado ex-candidato relata que esteve com Vega e ele lhe disse: “Homem, veja, eu creio que isto aqui há que sacá-los em tabelas, porque senão, isto se forma uma crise para o país”. 

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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