Quando o leque de opções para eleger autoridades mostra falhas de fundo na depuração de suas listas, é o momento de analisar seriamente até que ponto está trincado o sistema atual e como a cidadania deve participar em sua reparação.
Na Guatemala, o processo para determinar aqueles que tomarão o bastão de mando avança aos solavancos e a sociedade observa com estupor a infiltração dos cartéis da droga no evento mais importante da vida política de seu país.
De fato, a captura nos Estados Unidos de um dos candidatos a presidente – !nada menos! – significa uma mancha indelével sobre as autoridades do Registro de Cidadãos e do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), instâncias nas quais o agora acusado por delitos tão grave como associar-se com o cartel de Sinaloa para financiar sua campanha, teve aprovada sua inscrição sem o menor reparo.
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Para a cidadania, este caso constitui um chamado de atenção de alerta máximo, uma vez que a partir da investigação realizada pela DEA, que desembocou em uma acusação detalhada contra o candidato e um de seus sócios, é fácil deduzir a ineficiência das autoridades de investigação e segurança na Guatemala ou, muito pior ainda, sua cumplicidade com organizações criminosas de enorme poder. Entretanto, pode-se escutar o silencio de uma população tão acostumada aos escândalos, que diante do mais recente capítulo desta tenebrosa novela, nem sequer se abala.
O passo inevitável a partir da denúncia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos deveria ser a revisão profunda de todas as demais candidaturas, seus respectivos partidos políticos e as fontes de financiamento de suas campanhas. Para fazer ainda mais transparente o processo, retroceder no tempo para vasculhar no que aconteceu durante eleições anteriores, devido aos respingos do caso atual sobre antigos altos funcionários de governo, intimamente vinculados aos que agora foram pegos pela justiça estadunidense.
Uma revisão conscienciosa das opções existentes dá vontade de chorar. Na disputa se apresentam indivíduos apontados por toda classe de delitos, desde tráfico de bebês e de droga até tentativas de subverter a ordem democrática, passando por um leque multicolorido de denúncias de corrupção em uma ampla gama, tudo aceito com gosto pelas autoridades eleitorais e os respectivos partidos políticos sobre cujas estruturas montaram seus ambiciosos planos. Todos eles (e elas) possuidores do registro de candidato, com o adicional da imunidade perante a lei.
A cidadania deve ter os olhos bem abertos e não se deixar deslumbrar pelas evidentes falsidades daqueles que pretendem assumir o poder. As provas de corrupção detectadas pelo trabalho do Cicig, em conjunto com o Ministério Público, não deixam dúvidas de como o sistema político e aqueles que manejam os cordões a partir das cúpulas empresariais destruíram qualquer possibilidade de restauração de uma democracia cambaleante diante dos seus ataques; do mesmo modo, liquidaram com inúmeras oportunidades de desenvolvimento para a Guatemala, um dos países mais ricos, mas o pior governado do continente.
Abrir os olhos e escutar com filtro não será suficiente. O passo essencial será exigir do TSE uma revisão cuidadosa das listas de candidatos já aprovados, dada a magnitude de sua responsabilidade e sua enorme dívida para com a cidadania. É preciso recordar a esses magistrados quanto dano fazem ao país com sua incompreensível negligência.
*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava